terça-feira, 23 de outubro de 2018

O capitalismo e o desenvolvimento do Terceiro Mundo


Prabhat Patnaik [*]

Aquilo a que hoje chamamos terceiro mundo nem sempre existiu na sua forma actual. Ele experimentou uma transformação estrutural específica devido à intrusão do capitalismo metropolitano, devido ao que alguns economistas, a começar por Andre Gunder Frank, classificam como "o desenvolvimento do subdesenvolvimento". Na Índia por exemplo os processos de "des-industrialização" (importações da metrópole deslocando produtores artesanais internos) e a "drenagem de excedente" (o desvio sem qualquer contrapartida de uma parte do excedente do país através do sistema de tributação colonial), provocou um enorme aumento na pressão sobre a terra por parte da população e engendrou a moderna pobreza em massa.

Uma vez que o "subdesenvolvimento" do terceiro mundo foi o resultado da maneira pelo qual ele foi integrado na economia capitalista mundial, na época da descolonização acreditava-se geralmente que os povos desta região só poderiam progredir sob um regime económico alternativo que os livrasse de tal integração. E uma vez que o capital metropolitano não iria tolerar isto, e a burguesia – temerosa quanto à ameaça à sua própria posição devido à sua chegada tardia ao cenário histórico (razão pela qual ela também fazia causa comum com os interesse fundiários internos) – era incapaz de enfrentar o capital metropolitano, tal libertação só poderia ser efectuada através de um estado baseado numa aliança dos trabalhadores com o campesinato. Este argumento da esquerda exerceu na época uma considerável influência intelectual; e estes países eram vistos a procederem tal libertação por etapas ao longo do tempo rumo ao socialismo. O desenvolvimento do terceiro mundo não era, portanto, encarado como ocorrendo através da busca de um caminho capitalista de desenvolvimento; isso só poderia ocorrer através da busca de uma trajectória alternativa que o levasse ao socialismo.

Tal entendimento, entretanto, começou a ser desafiado na era neoliberal com o argumento de que os factores que no passado haviam produzido a segmentação do mundo não estavam mais operacionais. Subjacente a esta segmentação, a qual exprimia-se na dicotomia entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, estava o facto de que o trabalho destes últimos não era livre para mover-se para os primeiros e o capital destes, através de movimentos juridicamente livres para os segundos, por variadas razões relutava em fazê-lo, excepto para capturar o mercado destes últimos ou apossar-se das matérias-primas dos mesmos. Por outras palavras, apesar de os salários destes últimos serem muito mais baixos, o capital dos primeiros não localizava ali fábricas para atender ao mercado global, incluindo o metropolitano.

Esta situação, de acordo com este novo argumento, mudou sob a globalização neoliberal. O capital metropolitano estava agora desejoso de localizar fábricas no terceiro mundo a fim de explorar seus salários mais baixos para atender à procura global. De facto, a relocalização de várias actividades manufactureiras e do sector de serviços da metrópole em países do terceiro mundo, especialmente no Leste, Sudeste e Sul da Ásia, sugeriam agora que mesmo dentro da estrutura do capitalismo mundial estes países poderiam ainda assim experimentar desenvolvimento económico rápido.

Tal argumento naturalmente era falho, mesmo no momento em que estava a ser avançado. A mesma ordem neoliberal sob a qual tal difusão de actividades estava a ocorrer, da metrópole para o terceiro mundo, também estava a lançar um feroz ataque à pequena produção e infligia um processo de acumulação primitiva de capital dentro do terceiro mundo. E, ao mesmo tempo, estava a gerar empregos tão escassos no terceiro mundo, mesmo quando as taxas de crescimento do PIB dessas economias eram impressionantes e sem precedentes, que a pobreza em massa realmente se agravou, ao invés de ser aliviada, apesar desse crescimento elevado.

Mas agora o capitalismo mundial entrou numa nova fase em que até mesmo essa difusão, como estava a ocorrer na era neoliberal, está a ser restringida. Portanto a própria premissa do argumento que via o terceiro mundo como a desenvolver-se dentro do quadro do capitalismo mundial, ou seja, mesmo sem desligar-se do quadro do capitalismo mundial através de controles adequados de comércio e capital, perdeu sua relevância. O proteccionismo de Trump pretende precisamente restringir tal difusão da actividade da metrópole para o terceiro mundo, e isto é apenas um sinalizador do facto de que o regime neoliberal está agora num beco sem saída.

Trump, deve-se notar, não pretende de modo algum desfazer-se do neoliberalismo. Ao contrário, ele está a manter o núcleo da organização neoliberal, a qual é mobilidade global do capital financeiro. Mas ele está a estabelecer restrições ao capital americano (e a outros capitais metropolitanos, bem como capitais do terceiro mundo) a que localizem instalações de produção dentro do terceiro mundo a fim de atender à procura americana. E ele está a compensar o capital americano que seria prejudicado por tais restrições através de concessões fiscais em grande escala sobre lucros corporativos. As medidas de Trump, por outras palavras, são calculadas de modo a não provocar danos ao capital americano; mas elas certamente impediriam a difusão de actividades da metrópole para o terceiro mundo que supostamente são o instrumento para inaugurar o desenvolvimento do terceiro mundo mesmo dentro da estrutura do capitalismo mundial.

As medidas de Trump têm de ser entendidas no contexto da crise que engolfou o capitalismo mundial no período da globalização neoliberal. Na raiz desta crise está o facto de que a própria relocalização de actividades das metrópoles para o terceiro mundo tem mantido baixos os salários reais nas metrópoles. Ao mesmo tempo, isto não elevou os salários reais no terceiro mundo pois a grandes reservas de trabalho nestes, criadas no período colonial, longe de ficarem esgotadas, estão a crescer ainda mais. Se bem que o vector dos salários reais na economia mundial permaneça assim mais ou menos constante, o vector da produtividade do trabalho aumentou muitíssimo, resultando em um enorme aumento na fatia de excedente da produção mundial. Isso cria uma tendência à superprodução na economia mundial, uma vez que a fatia do consumo do excedente é menor do que a dos salários. Esta tendência, no entanto, foi mantida sob controle nos EUA devido a dois booms baseados em "bolhas", primeiro a “bolha das dot.com” nos anos noventa e depois a “bolha habitacional” no início deste século.

Com o colapso da bolha habitacional e sem nenhuma nova bolha a substituí-la, a economia dos EUA, e com ela a economia capitalista mundial, entrou num período de crise, provocando descontentamento generalizado em massa e uma ameaça à estabilidade social do sistema. A classe trabalhadora, já afligida há muito por salários estagnados, agora tem de enfrentar o fardo agravado do aumento do desemprego.

A solução de Trump para a crise é a busca daquilo a que economistas chamam a política do "roubo o meu vizinho"("beggar-my-neighbour"), a qual equivale a roubar empregos de outros países, especialmente países do terceiro mundo, a fim de aumentar o emprego nos EUA. A estagnação na economia mundial, por outras palavras, não está a ser superada. Mas dentro desta estagnada economia mundial, os EUA estão a tentar melhorar sua posição a expensas dos outros. Embora isso possa melhorar a posição dos EUA por algum tempo, até que outros comecem a retaliar, ela não supera a crise do capitalismo mundial. Ao contrário, quando outros retaliarem, esta crise será agravada ainda mais, o que só confirma o facto de que o capitalismo neoliberal chegou a um beco sem saída.

Nesta situação desaparecem claramente quaisquer esperanças de que o terceiro mundo continuasse a ser o beneficiário da difusão de actividades da metrópole e dessa forma continuasse a crescer rapidamente dentro do quadro do capitalismo mundial. Este crescimento, como vimos, foi acompanhado por um agravamento da pobreza em massa e não do seu alívio. Mas agora até esta trajectória de desenvolvimento chegou ao fim.

Os países do terceiro mundo terão doravante de adoptar medidas para desenvolver o seu mercado interno. Daqui em diante, para qualquer crescimento terão de confiar no mercado interno ao invés do mercado de exportação, o qual é atingido pela estagnação económica mundial e pelo proteccionismo dos EUA. Isto exigirá o crescimento da agricultura camponesa, de maior igualdade de rendimento interno, de um aumento generalizado nos salários reais, de uma elevação do salário mínimo e de uma activação da despesa estatal. Uma vez que tais medidas enfrentarão a oposição da finança globalizada, a qual precipitaria uma fuga de capitais e portanto uma crise financeira, terão de ser postos em vigor controles de capitais. E como isto é provável que torne muito mais difícil financiar défices de transacções correntes das balanças de pagamentos, também terão de ser instituídos controles de importações.

Contudo, todas estas medidas exigiriam uma mudança na natureza do Estado, na aliança de classe que o sustenta. Só uma aliança trabalhadores-campesinato que possa sustentar um estado [poderá] assistir a uma ultrapassagem da crise e estagnação para a qual o terceiro mundo está a ser inexoravelmente empurrado nesta nova situação, a qual assinala o beco sem saída do capitalismo neoliberal. E uma vez que a trajectória de desenvolvimento anunciada por um estado apoiado por uma tal aliança será caracterizada por um movimento rumo ao socialismo através de etapas, o velho argumento de que o desenvolvimento do terceiro mundo pode ocorrer só através da busca de um caminho que conduza ao socialismo readquire uma relevância enfática na nova situação. 

21/Outubro/2018

[*] Economista, indiano, ver Wikipedia 

O original encontra-se em peoplesdemocracy.in/2018/1021_pd/capitalism-and-third-world-development . Tradução de JF. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Outras e o Aeroporto do Montijo | Memórias de Cavaco. Que memórias?


Que a múmia Cavaco Silva fez sair um novo livro das suas memórias, falta saber se inclui as suas habituais dislexias e mentalidade de Chico Esperto embalado em mortalha de desperdícios de alfarrobas recicladas. Vá, ajude lá  o dito traste a amealhar mais uns euros à sua fortuna e assim preencher ainda mais os seus mergulhos matinais na Casa Forte inspirada na arquitetura do Tio Patinhas, onde o brasão da avareza e da ganância se salientam. O múmia falou, está falado. Adiante.

No Curto é Centeno que tem a honra de ser mira de Vieira Pereira, o autor das laudas de hoje. Não vamos nessa porque urge dar aqui destaque a algo de hediondo praticado pelo grande aliado dos EUA e do terrorismo, o rei assassino da Arábia Saudita. Isto para não falar da mortandade igualmente assassina e desumana no Iemen que tal poderoso saudita gera com a satisfação natural nos criminosos a escorrer-lhe prazenteiramente pelos cantos da boca. É assim, por escolha considerada imperiosa, que vamos direitinhos a fazer referência ao que hoje é trazido no Expresso sobre o assassínio da Arábia Saudita num seu consulado na Turquia, Jamal Khashoggi (na foto), a vítima. Aqui tem o resumo a que pode aceder no dito Expresso de hoje, via The Washington Post:


As suspeitas são monstruosas: Jamal Khashoggi terá sido torturado, assassinado e depois desmembrado no interior do consulado em Istambul da Arábia Saudita, país onde nasceu e de cujo regime era crítico. O “Washington Post” publicou na semana passada o último artigo escrito pelo jornalista saudita e é um dever de liberdade traduzi-lo e publicá-lo na íntegra”

Vá ao Expresso para acabar o resto, na íntegra. Tem de pagar. Claro. O Bilderberg não brinca em serviço e para o tio Balsemão os almoços grátis acontecem só na Sopa do Sidónio, ali para os Anjos, Lisboa. Adiante. Pois.

Aeroporto no Montijo… Quem comprou há muitos anos terrenos à volta e tem projetos de “desenvolvimento” naquela zona? Não foi também um amigo de Cavaco Silva – aquele que tem que ver com a casarona do dito múmia na Aldeia da Coelha em Albufeira? Ai, esta memória! Credo, como é que ele se chama… Fernando Fantasia. E mais: SLN, Oliveira e Costa, BPN. Credo. Um ex-ministro de Cavaco, Arlindo de Carvalho. E houve suspeitas de… Bem, o melhor é recuarem no tempo e ir diretamente às referências, por exemplo: Os 6 mil hectares de terrenos que a SLN comprou a alguns kilómetros do novo aeroporto. E outra – da mesma gingajoga com suspeitas mas arquivada em 2017: 

Ministério Público arquiva mais um caso no BPN”. No jornal SOL, onde se pode ler: “Processo que envolvia Emídio Catum e Fernando Fantasia, na compra de terrenos da Herdade Rio Frio, não vai a julgamento. O Estado ficou lesado em quase em 70 milhões de euros.” E vai por ali com trocas baldrocas de nomes de empresas p’ráqui e nomes de suspeitos p’rácolá. Arquivado pelo Ministério Público. Pois. E o grande ex-ministro e amigo de Cavaco, Dias Loureiro… também arquivado. Pois. Há Padrinho?

Ai o Aeroporto do Montijo! Ai os livros de Cavaco! Ai Portugal, Portugal!

Mais ou menos, disse Cavaco em tempos: “Ainda está por nascer alguém mais honesto que eu”. Pois. É mesmo de acreditar, não é? Sim. Pois. Sem lugar a dúvidas. Pois.

E é também sobre o tal Aeroporto no Montijo que o Curto traça linhas de texto. Vá ler. Por nós acabamos aqui. Os vómitos são mais que muitos. Bom dia. Não contenha os vómitos porque ainda agora o dia mal começou e passar muitas horas agoniado é muito desagradável. Até amanhã, se não choverem memórias desagradáveis de grandes mestres de suspeições ou dos que em terra de cegos têm olho, são reis e não dão cavaco a ninguém. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Querem ver que é desta que Centeno explica como conseguiu

João Vieira Pereira | Expresso

Sim Sr. Ministro Caro Mário Centeno, sabemos que hoje à tarde vai ao Parlamento tentar explicar que o Orçamento do Estado (OE) mais eleitoralista da geringonça não é eleitoralista. Não perca tempo Sr. Ministro, em anos de eleições os governos fazem orçamentos eleitoralistas. É uma espécie de dogma democrático. Aplicado a todos os governos. Só Passos Coelho foi a exceção que confirma a regra, e veja como ele acabou….

Mais vale perder tempo a explicar porque é que a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) diz que o défice que importa para Bruxelas, e que está implícito no OE2019, é afinal de 0,5% e não de 0,2%. Isto tudo porque o documento que apresentou não identifica que medidas de poupança adicionais irá tomar. Não me diga que vai voltar a cativar, cativar e cativar, fazendo com que as metas da despesa inscritas sejam, mais uma vez, ‘para inglês ver’?

E já agora, aproveite para explicar, mas para que todos entendamos, o puxão de orelhas de Bruxelas. É que na sexta-feira passada os seus amigos fizeram saber que duvidam que o seu Orçamento seja capaz de cumprir as metas exigidas pela Europa (nota: se não gosta de economia salte já para o próximo parágrafo — nomeadamente porque o esboço do OE tem uma taxa de crescimento da despesa primária de 3,4%, quando a recomendação é que aumente no máximo 0,7%, e porque a diminuição do défice estrutural não vai ser de 0,3%, mas apenas de 0,2%).

Sim... bem sei que o Senhor ministro já respondeu à carta de Bruxelas. Só que responder com um ‘já fizemos muito e não conseguimos medir o impacto do que ainda vamos fazer’, até pode bastar para o seus colegas do Eurogrupo, mas os portugueses merecem um pouco mais, não acha? Às 15 horas ficaremos a saber a resposta.

PS. Tente também dizer algo mais do que disse António Costa aos militantes do PS, num discurso que parecia que já estávamos em eleições. Que este orçamento é bom para quem vota já sabemos mas explique lá como é que "garante o futuro".

Cavaco volta Saiu como um dos presidentes com menor popularidade. Pela porta pequena. Mas antes ganhou três eleições legislativas, duas com maioria absoluta e mais duas para Presidente (perdeu uma). Não há político com mais vitórias do que ele. Amanhã apresenta o segundo volume das suas memórias de Presidente, desta vez do período entre 2011 e 2015, onde ficamos a saber alguns segredos, muitas considerações e até alguns recados. Sobre António Costa nada de novo: “um mestre em gerir a conjuntura” e em “empurrar para a frente os problemas de fundo”.

Lisboa Medina e moça Entraram em vigor as novas regras para o alojamento local. E no mesmo dia ficamos a saber que a residência oficial do presidente da Câmara de Lisboa está disponível para esse fim no ’booking’, um site de reservas turísticas. Fernando Medina já veio explicar o caricato da situação. Diz o presidente da Câmara Municipal de Lisboa que a residência oficial já não o é. Carrega o nome mas só isso. O edifício foi concessionado porque deixou de ser a casa do presidente.

Ainda sobre o alojamento local, há mais cinco zonas onde este tipo de atividade pode ser limitada. Depois da suspensão de novos registos no Castelo, Alfama, Mouraria, Bairro Alto e Madragoa, Medina colocou sob apertado controlo a Baixa e os eixos da Almirante Reis e da Avenida da Liberdade/Avenida República, a Colina de Santana, a Graça, a Ajuda e a Estrela.

Montijo jamais O novo aeroporto do Montijo está em risco. A notícia é avançada pela SIC segundo a qual a construção do novo aeroporto está de novo num impasse, já que foi recusado o Estudo de Impacto Ambiental apresentado na última primavera pela ANA.

MBS, rima com quê? Mohammed bin Salman (MBS), o Príncipe saudita que entrou na ira do mundo por causa da morte do jornalista Jamal Khashoggi, está a começar a sentir os efeitos do caso. O PIF é um fundo soberano da Arábia Saudita, um dos maiores do mundo, e que investe nas mais variadas empresas e setores. Ele esperava que este fundo, símbolo do seu poder, tivesse 600 mil milhões de dólares sob gestão até 2020 (qualquer coisa como três vezes o PIB anual português). Esta terça-feira, Riade recebe a conferência anual de investimento do PIF, que no passado chegou a ser apelidada de “Davos no deserto”, mas este ano, e por causa do caso Khashoggi, está a ser alvo de boicote. O relato do poder de MBS e de como este pode ser afetado pelo crime hediondo perpetuado pelo seu país, é o cerne deste trabalho do Financial Times que não pode perder.

Hoje é dia D para o caso. É esperado com expectativa o discurso do Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, que anunciou que irá desvendar toda a verdade sobre o caso.

O Expresso reproduz aqui o último artigo escrito pelo jornalista saudita, tal como foi publicado no Washington Post.

Pode acompanhar neste espaço as últimas novidades do caso, desde as imagens do duplo, que vestido com as roupas de Khashoggi saiu da consulado em Istambul, até aos quatro telefonemas que um dos elementos que costuma acompanhar MBS nas suas viagens fez do consulado para o escritório real na noite do crime.

Marcelo e Joana O presidente da República condecorou Joana Marques Vidal com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e salientou que o fazia porque esta condecoração "é mais, muito mais do que um gesto protocolar na linha da tradição",

Afinal estamos no pódio Portugal tem a terceira dívida mais alta da União Europeia. Vou repetir, só para não se esquecerem. Temos a terceira maior dívida pública entre 28 países europeus.

Por falar em dívidas O endividamento total da economia portuguesa voltou a aumentar em agosto. É agora de 719,217 mil milhões de euros, mais 1,6 mil milhões de euros face ao mês anterior. Segundo o Banco de Portugal a causa está no maior endividamento do setor público.

Non pensare nemmeno Não, não e não. O populista governo italiano recusa-se a mudar o orçamento e a reduzir o seu plano para aumentar de forma significativa a despesa pública. Bruxelas pediu a Itália para rever o documento, a resposta, por carta, não podia ter sido mais clara: nem pensar. Apesar do não, os responsáveis italianos dizem que não está em causa a estabilidade do euro e garantem que não haverá um “Italexit” da moeda única.

Grécia é numero um A Grécia é o país da zona euro que cobra mais impostos indiretos, e não há indícios de qualquer desagravamento fiscal em 2019.

Falem por favor A Europa apelou a um diálogo entre os Estados Unidos e a Rússia para preservar o tratado sobre a proliferação de armas nucleares, do qual Washington anunciou querer retirar-se por alegadas violações de Moscovo.

Bandido é gente? Peço desculpa se o choquei, só que chocado estou eu com a Associação Sócio-Profissional Independente da GNR que, na sequência da divulgação das fotografias da captura dos três presos que se evadiram das instalações de um tribunal, fez saber “não ficar indignada com as fotografias expostas publicamente, pois considera que os criminosos – nelas identificados como tal – não são merecedores do mesmo respeito e consideração, por parte do Estado e da comunidade, atribuídos ao cidadão comum”.

Médicos caem no Porto Depois da saída de um diretor do serviço de anestesiologia, há 11 meses, mais dois médicos apresentaram a sua demissão no Hospital de São João. Um de diretor do serviço de cirurgia plástica e o outro de diretor do serviço de anestesiologia. Segundo o Público, alegaram falta de condições para gerir aqueles departamentos.

Há vida em Marte Pelo menos há a possibilidade de haver depósitos de água salgada com oxigénio suficiente para suportar vida.

Bolsonaro soma e segue Nova sondagem dá a Jair Bolsonaro 57% das intenções de votos e 43% a Fernando Haddad. Mas a menos de uma semana das eleições Haddad ganha nova aliada. A candidata derrotada, ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, declarou o apoio ao candidato do PT. Na guerra da informação, o Facebook removeu 68 páginas e 43 contas da rede social que formavam a principal rede de apoio de Bolsonaro naquela rede social, por violarem as políticas de autenticidade e spam. A empresa fez saber que o conteúdo compartilhado pelas páginas não teve influência sobre a decisão.

O efémero Snap O Snapchat já não é o que era, o mesmo que dizer, já não vale o que valia, e o FT explica o que está a correr mal

A ponte Tem 55 quilómetros e é a maior travessia do mundo sobre o mar. É inaugurada hoje e liga Macau, Zhuhai e Hong-kong.

A borracha de Macau O novo governo está aos poucos a substituir os desenhos que ‘pintam’ a calçada portuguesa, deixada como herança histórica em Macau, por motivos ligados à cultura chinesa.

O trauma é hereditário? E se os filhos dos sobreviventes de campos de prisioneiros sofressem com a dor dos pais. É isso que mostra um estudo sobre mil descendentes de soldados da Guerra da Sucessão nos EUA. Os filhos dos militares que tiverem no campo de prisioneiros de Andersonville viveram menos tempos que os filhos de outros militares e até do que os irmãos nascidos antes da guerra.

Addio Benetton Morreu Gilberto Benetton, o fundador do grupo, aos 77 anos.

Winter is comming É desta que o verão acabou? Vem aí frio e até neve.

Para ouvir acompanhado Ainda há muitos concertos para ver este ano e muitas novidades para o próximo. Não perca o que pode ver e ouvir nos próximos meses.

Para ir só Para quem gosta de viajar sozinho aqui fica a lista dos melhores países para visitar.

As capas dos jornais de hoje A nova lei das rendas faz o destaque do Público. O jornal escreve que os novos contratos de arrendamento vão ter uma duração mínima de três anos já que passam a ter renovação automática e só ao fim daquele período os senhorios podem opor-se. O Jornal de Notícias faz manchete com a notícia de que falhas nas farmácias deixaram 45 milhões de medicamentos por aviar. O diário destaca ainda casos de estudantes que abandonaram o ensino superior por falta de capacidade financeira para suportar os custos. O jornal 'I' coloca em manchete o caso da casa do presidente da Câmara de Lisboa, que já referi em cima. O Correio da Manhã escolheu para destaque as declarações de Rosa Grilo à juíza de instrução do caso em que é suspeita de ter morto o marido.

FRASES

“O que aconteceu nas últimas semanas não altera em nada aquilo que é a preocupação fundamental. Os portugueses têm de saber o que aconteceu com o desaparecimento das armas, quem foi, como, porquê, de que maneira, com que destino, e depois como é que foram recuperadas”, Marcelo Rebelo de Sousa sobre Tancos.

"É uma medida [o aumento do imposto de selo] disfarçada de moralização ou de moderação do crédito na economia, é verdadeiramente uma medida para obter mais receitas para os aumentos de despesas que se querem fazer", António Lobo Xavier.

“Sei que sou um exemplo fora e dentro do relvado. Por isso é que estou sempre feliz. Sou abençoado, sou saudável, tenho uma família fantástica, tenho quatro filhos e tenho tudo, por isso, o resto não interfere em nada”… “Os advogados estão confiantes. Eu também. Há pessoas que tratam da minha vida e a verdade vem sempre ao de cima”, Cristiano Ronaldo nas primeiras declarações públicas desde que foi acusado de violação por Kathryn Mayorga

O QUE EU ANDO A LER

Leïla Slimani é a nova menina bonita da literatura francesa. Mas a sua escrita tem pouco de bonito, muito menos de inocência. Em 2016, a escritora e jornalista nascida em Marrocos, ganhou o prémio Goncourt. Mas o momento que a atirou para o estrelato foi protagonizado por Emmanuel Macron. Primeiro o Presidente francês convido-a para Ministra da Cultura, cargo que recusou, depois insistiu que ocupasse o lugar de embaixadora da Francofonia, cargo que aceitou.

‘No jardim do ogre’, não é um livro bonitinho. É cru, é árido, é bruto. Mas a escrita de Slimani cativa pela sinceridade que encerra. Para quem gosta do género existencialista, repleto de erotismo, esta é uma obra a não perder.

Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha uma ótima terça-feira. Durante o dia acompanhe toda a atualidade em www.expresso.pt e não se esqueça que às 18 horas tem uma nova edição do seu Diário. Amanhã o Curto regressa pelas mãos de Pedro Santos Guerreiro.

Brasil | Um aliado de peso: as notícias falsas


Ana Alexandra Gonçalves* \ opinião

Jair Messias Bolsonaro, bem colocado para vencer as eleições brasileiras, contou com um aliado de peso: as notícias falsas veiculadas pelas redes sociais, onde a vitimização e as teorias da conspiração fazem escola.

Mais: segundo uma investigação do jornal Folha de São Paulo, várias empresas privadas, naturalmente apoiantes de Bolsonaro, pagaram a empresas de marketing para despejarem centenas de milhões de mensagens com propaganda anti-PT. O Whatsapp terá sido o veículo escolhido. Recorde-se que as empresas privadas não podem, à luz da lei brasileira, financiar candidatos políticos.

Outro dado importante diz-nos que são os apoiantes de Bolsonaro são os que mais se informam via Whatsapp e 91 por cento dos brasileiros, em 2016 – ano do impeachment de Dilma – declarava informar-se pela internet, com 72 por cento a escolherem o Whatsapp ou o Facebook. E ainda recentemente um conjunto de investigadores brasileiros juntamente com uma agência de verificação de factos, chegou à conclusão de que em 347 grupos no Whatsapp apenas 8 por cento das imagens (com muita informação a passar através de fotografias e vídeos) podem ser consideradas verdadeiras. (notícia Sol).

Fernando Haddad já fez o pedido de impugnação da candidatura de Jair Messias Bolsonaro.

Em rigor, o enfraquecimento da comunicação social não pode ser dissociado do aumento exponencial de notícias falsas. Um meio de comunicação social até podia ter uma inclinação política, mais ou menos evidente, mais ou menos declarada, mas não veiculava notícias falsas, nem procurava polarizar o debate político ao ponto do ódio ser de morte. Em rigor, essa comunicação social que hoje está claramente enfraquecida mostrava-se determinante para as próprias democracias.

Neste contexto, assistimos, hoje mais do que nunca, até mais do que nas eleições americanas, a uma mudança de paradigma: são as redes sociais, conspurcadas pelas notícias falsas e dominadas por empresas de “marketing”, a determinar o resultado de eleições. E tanto mais é assim que Bolsonaro, a prova de que a idiotia pode mesmo ser premiada, nem se deu ao trabalho de participar em debates políticos que seriam perfeitamente reveladores de toda essa idiotia e boçalidade.

Paralelamente, a tecnologia, designadamente os seus rápidos avanços, foram determinantes para criar uma ilusão: com mais informação ao dispor dos cidadãos, as escolhas seriam mais fundamentadas e mais assertivas. Com mais tecnologia voltaríamos a viver uma época de luzes e não de trevas. Com mais tecnologia maior seria a consciência. Nada mais errado.

O enfraquecimento da comunicação social (amiúde por culpa própria) abriu espaço para as ditas redes sociais que, como Umberto Eco dizia, promoveram o “idiota da aldeia” do tempo da televisão ao “portador da verdade” no tempo da internet.

O resultado está à vista: eleições decididas em verdadeiras latrinas de desinformação, onde grassam discursos simplistas que exultam as massas apelando a um ódio que se alimenta precisamente da ignorância, da frustração, da confusão instalada naqueles que já não compreendem o mundo onde vivem, da ausência da esperança de tantos que se tornaram vítimas do capitalismo selvagem, dos níveis cada vez mais baixos de auto-estima tantas vezes disfarçada pelo recurso a uma multiplicidade de fármacos.

Assim, quando toda essa gente encontra alguém que mostre ser diferente, alimenta a esperança de que esse alguém lance finalmente luz sobre a confusão deste mundo, caindo rapidamente na ilusão de que terão encontrado o Messias.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

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