Ana Alexandra Gonçalves* \ opinião
Jair Messias Bolsonaro, bem
colocado para vencer as eleições brasileiras, contou com um aliado de peso: as
notícias falsas veiculadas pelas redes sociais, onde a vitimização e as teorias
da conspiração fazem escola.
Mais: segundo uma investigação do
jornal Folha de São Paulo, várias empresas privadas, naturalmente apoiantes de
Bolsonaro, pagaram a empresas de marketing para despejarem centenas de milhões
de mensagens com propaganda anti-PT. O Whatsapp terá sido o veículo escolhido.
Recorde-se que as empresas privadas não podem, à luz da lei brasileira,
financiar candidatos políticos.
Outro dado importante diz-nos que
são os apoiantes de Bolsonaro são os que mais se informam via Whatsapp e 91 por
cento dos brasileiros, em 2016 – ano do impeachment de Dilma – declarava
informar-se pela internet, com 72 por cento a escolherem o Whatsapp ou o
Facebook. E ainda recentemente um conjunto de investigadores brasileiros
juntamente com uma agência de verificação de factos, chegou à conclusão de que
em 347 grupos no Whatsapp apenas 8 por cento das imagens (com muita informação
a passar através de fotografias e vídeos) podem ser consideradas verdadeiras. (notícia Sol).
Fernando Haddad já fez o pedido
de impugnação da candidatura de Jair Messias Bolsonaro.
Em rigor, o enfraquecimento da
comunicação social não pode ser dissociado do aumento exponencial de notícias
falsas. Um meio de comunicação social até podia ter uma inclinação política,
mais ou menos evidente, mais ou menos declarada, mas não veiculava notícias
falsas, nem procurava polarizar o debate político ao ponto do ódio ser de
morte. Em rigor, essa comunicação social que hoje está claramente enfraquecida
mostrava-se determinante para as próprias democracias.
Neste contexto, assistimos, hoje
mais do que nunca, até mais do que nas eleições americanas, a uma mudança de
paradigma: são as redes sociais, conspurcadas pelas notícias falsas e dominadas
por empresas de “marketing”, a determinar o resultado de eleições. E tanto mais
é assim que Bolsonaro, a prova de que a idiotia pode mesmo ser premiada, nem se
deu ao trabalho de participar em debates políticos que seriam perfeitamente
reveladores de toda essa idiotia e boçalidade.
Paralelamente, a tecnologia,
designadamente os seus rápidos avanços, foram determinantes para criar uma
ilusão: com mais informação ao dispor dos cidadãos, as escolhas seriam mais
fundamentadas e mais assertivas. Com mais tecnologia voltaríamos a viver uma
época de luzes e não de trevas. Com mais tecnologia maior seria a consciência.
Nada mais errado.
O enfraquecimento da comunicação
social (amiúde por culpa própria) abriu espaço para as ditas redes sociais que,
como Umberto Eco dizia, promoveram o “idiota da aldeia” do tempo da televisão
ao “portador da verdade” no tempo da internet.
O resultado está à vista:
eleições decididas em verdadeiras latrinas de desinformação, onde grassam
discursos simplistas que exultam as massas apelando a um ódio que se alimenta precisamente
da ignorância, da frustração, da confusão instalada naqueles que já não
compreendem o mundo onde vivem, da ausência da esperança de tantos que se
tornaram vítimas do capitalismo selvagem, dos níveis cada vez mais baixos de
auto-estima tantas vezes disfarçada pelo recurso a uma multiplicidade de
fármacos.
Assim, quando toda essa gente
encontra alguém que mostre ser diferente, alimenta a esperança de que esse
alguém lance finalmente luz sobre a confusão deste mundo, caindo rapidamente na
ilusão de que terão encontrado o Messias.
*Ana Alexandra Gonçalves |
Triunfo da Razão
Sem comentários:
Enviar um comentário