Díli, 14 fev (Lusa) -- Operadores
turísticos em Timor-Leste estão a registar quebras significativas em
visitantes, especialmente de um mercado nicho de residentes na Indonésia que
visitam o país para renovar vistos, devido ao elevado preço das viagens aéreas.
"Estamos a ter uma quebra
muito significativa. A situação agravou-se em particular desde outubro",
contou à Lusa Kym Louise Miller, responsável da Backroad Lorosa'e que opera o
'hostel' Díli Central Backpackers e a empresa de mergulho Dive Track &
Camp.
Os preços das ligações aéreas
entre Díli e Bali, na Indonésia, triplicaram -- em alguns casos chegaram mesmo
a quadruplicar -- desde o último trimestre de 2018.
O aumento coincidiu com um
processo de concentração e monopólio das empresas que fazem a ligação --
Citilink, Nam e Sriwijaya -- todas agora dentro do grupo Garuda.
Uma viagem entre as duas cidades
-- havia entre dois e três voos diários -- chegava a custar menos de 200
dólares, ida e volta.
Uma consulta a sites de marcações
de viagem online mostra que os preços para o final de março, por exemplo,
ultrapassam os 750 dólares, ida e volta.
Comparativamente, a ligação entre
Bali e Singapura continua a ser de menos de 200 dólares, ida e volta.
Uma situação que levou esta
semana o responsável de um projeto norte-americano de apoio ao setor do turismo
a considera que Timor-Leste está a ser mantido refém pelos preços
"exorbitantes" das ligações aéreas que agravam as dificuldades do
país em desenvolver o turismo.
Peter Semone, da agência de
cooperação dos Estados Unidos, USAid e responsável do programa Turismo para
Todos disse que as ligações aéreas são o principal exemplo dos obstáculos de
conectividade e acessibilidade ao país, onde faltam ligações por ar, mar e
terra, convenientes e com preços vantajosos, já que isso é "requisito
obrigatório para o turismo".
A situação que já era
relativamente séria no passado agravou-se significativamente, com rotas
limitadas e preços particularmente elevados, inclusive no voo de ligação a
Darwin, na austrália, que "milha por milha, é um dos mais caros do
planeta", afirmou.
"As coisas pioraram. O custo
do voo para Bali triplicou, a rota para Kupang fechou depois de poucos meses e
o voo de Singapura passou a ser semanal", disse.
"O custo de uma semana de
ferias em Timor-Leste para alguém de Singapura dava para pagar uma viagem para
a Europa", referiu Semone.
Com complexos problemas para
resolver no setor do turismo tinha, no último ano visto um aumento de
visitantes nas conhecidas "viagens de vistos", saídas obrigatórias de
um país para renovação do visto.
Bali foi sempre um dos destinos
preferidos para quem está em Timor-Leste e pretende renovar o visto, mas, cada
vez mais, estava a crescer o número dos que faziam a viagem inversa, da
Indonésia até Díli, para renovar o visto.
Kim Miller recordou que muitos
dos visitantes aproveitavam a necessidade de renovar o visto para conhecer um
novo país, ficando em média entre sete e 12 dias o que estava a dar algumas
receitas aos pequenos e emergentes operadores locais, no transporte e na
estadia, em particular fora de Díli.
O mergulho, que já é o grande
postal de visitas de Timor-Leste, era outro setor beneficiado pelas visitas.
Só que o preço de viagem até
Díli, que era competitivo com o da viagem a Singapura, por exemplo, deixou de o
ser o mercado de "viagens de visto" praticamente secou.
Kym Louise Miller diz que
empresas do setor do turismo, incluindo uma recém-criada associação hoteleira,
tem vindo a tentar chamar a atenção das autoridades timorenses para o problema,
mas "pouco ou nada tem sido feito".
Apesar de vários responsáveis timorenses
mostrarem preocupação com o assunto, o Governo tem insistido que respeita as
"leis do mercado livre" com os preços "a continuarem a
aumentar", explica Miller, que vive em Timor-Leste desde setembro de 1999.
Miller disse que as marcações
para este mês caíram 47%, face a igual período do ano passado e que a média de
queda de estruturas idênticas em Díli é de 69%.
ASP // PJA
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