A imagem negativa de Moçambique,
após o escândalo das dívidas ocultas, vai passar. É o que diz o representante
do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) no país, que alertou que é preciso
manter reformas.
"A imagem negativa vai
passar, mas depende do país continuar no caminho que foi começado há dois anos,
o progresso é significativo e é claro que há uma vontade do país em
reintegrar-se no sistema financeiro internacional, e estão a fazer a abordagem
certa", disse este domingo (16.06) Pietro Toigo, representante do BAD em
Moçambique.
Em entrevista à agência de
notícias Lusa em Malabo, à margem dos Encontros Anuais do BAD, que decorreram
até sexta-feira, o italiano escolhido pelo banco para Moçambique acrescentou
que "a confiança é uma moeda preciosa e talvez o país precise de um pouco
mais de tempo para voltar desse episódio, mas o trabalho nos últimos dois anos
já está a ter resultados".
Pietro Toigo exemplificou com os
mais de mil milhões de dólares recolhidos durante a Conferência de Doadores, na
Beira, e com o empréstimo do Fundo Monetário Internacional no seguimento dos
ciclones que assolaram o país nos últimos meses.
"Reformas têm de
continuar"
"As reformas económicas têm
de continuar a ser feitas", disse, apontando para os bons exemplos da
redução dos subsídios, da reforma orçamental, que tornou o exercício orçamental
"mais eficaz", e com as mudanças feitas nas empresas públicas, nas
instituições e no novo quadro de contração de dívida pública.
"É preciso seguir nesse caminho de eficiência fiscal e reformas
estruturais, e seria importante olhar para o ambiente de negócios",
apontou o representante do BAD em Moçambique, exemplificando com as
"diferenças significativas" entre os custos de utilização de portos
diferentes no país, que deviam ser harmonizados e alinhados pela eficiência.
"O ambiente de negócios
afeta especialmente as pequenas e médias empresas", lembrou, notando que
os megaprojetos ligados ao gás não estão tão dependentes do ambiente de
negócios do país devido à grande escala dos financiamentos e dos próprios
projetos.
Na entrevista à Lusa, Pietro
Toigo defendeu que Moçambique é um dos países do sul de África que mais tem a
ganhar com a integração regional, o tema principal da conferência do BAD, e
considerou que o país tem "uma voz dinâmica e forte" na Comunidade de
Países da África Austral (SADC).
Seguro para catástrofes
Entretanto, Pietro Toigo adiantou
à Lusa que o BAD está a preparar um seguro contra as catástrofes naturais para
ajudar Moçambique a lidar com fenómenos como as cheias e os ciclones,
desembolsando ajuda mais depressa e contabilizando melhor os danos.
"Estamos a preparar,
juntamente com outros parceiros com o Banco Mundial, uma infraestrutura
financeira para melhor gestão dos desastres naturais e estudar a possibilidade
de um seguro climático que pode ser ligado ao fundo de gestão de calamidades e
ver que tipo de sistema podemos usar para a identificação das vítimas na altura
do reembolso pelos danos", disse Toigo em entrevista à Lusa.
"O chefe de Estado [Filipe
Nyusi] está muito interessado, foi ele mesmo que começou a conversa neste
sentido", apontou o representante do BAD em Moçambique, explicando que a
ideia é utilizar a Capacidade de Risco Africana (African Risk Capacity - CRA),
uma agência pública que funciona no âmbito da União Africana que serve como
seguradora para mais de 30 Estados africanos.
Segundo o responsável, "a
ideia é que quanto mais países aderirem, mais barato se torna; já existe um
seguro bastante avançado contra as secas", estando agora a ser
desenvolvido um seguro para cheias e ciclone.
Agência Lusa, tms | Deutsche
Welle | Foto: Sede do BAD, na Costa do Marfim
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