Thierry Meyssan*
Prosseguimos a publicação do
livro de Thierry Meyssan, «Sous nos yeux» (Sob os Nossos Olhos). Neste episódio,
ele descreve como a organização terrorista dos Irmãos Muçulmanos foi integrada
no Pentágono. Ela foi ligada às redes anti-Soviéticas constituídas com antigos
nazis durante a Guerra Fria.
Este artigo é extraído do livro Sob
os nossos olhos. Ver o Índice dos
assuntos.
5— Os islamistas nas mãos do
Pentágono
No início dos anos 90, o
Pentágono decide incorporar os islamistas —que até aí estavam unicamente na
dependência da CIA— às suas operações. É a Operação Gládio B, em
referência aos Serviços Secretos da OTAN na Europa (Gládio A [1]).
Durante uma década, todos os chefes
islamistas —aí incluídos Osama Bin Laden e Ayman al-Zawahiri— se deslocam a
bordo de aviões da US Air Force (Força Aérea americana). O Reino Unido, a
Turquia e o Azerbaijão participam na operação [2].
Por conseguinte, os islamistas —que até aí eram combatentes da sombra— são
agora «publicamente» integrados nas Forças da Otan.
A Arábia Saudita que é ao mesmo
tempo um Estado e propriedade privada dos Saud— torna-se oficialmente a
instituição responsável pela gestão do islamismo mundial. O Rei proclama uma
Lei Fundamental, em 1992, segundo a qual «O Estado protege a fé islâmica e aplica
a Charia. Impõe o Bem e combate o Mal. Cumpre os deveres do Islão (...) A
defesa do islamismo, da sociedade e da pátria muçulmana é o dever de todo o
súbdito do Rei».
Em 1993, Carlos, o Príncipe de
Gales, coloca o Oxford Center for Islamic Studies sob o seu
patrocínio, enquanto o Chefe dos Serviços Secretos sauditas, o Príncipe Turki,
toma a direcção do mesmo.
Londres torna-se abertamente o
centro nevrálgico da Gládio B, a tal ponto que se fala de «Londonistan»
(«Londristão»-ndT) [3]. Sob a
égide da Liga Islâmica Mundial, os Irmãos Muçulmanos árabes e a Jamaat-i-Islami paquistanesa
criam uma quantidade de associações culturais e religiosas ligadas à mesquita
de Finsbury Park. Este dispositivo irá permitir recrutar inúmeros kamikazes,
desde aqueles que irão atacar a escola russa de Beslan até Richard Reid, o «Shoe
bomber». O Londristão inclui, em especial, inúmeros média, editoras, jornais (al-Hayat e Asharq
al-Awsat —ambos dirigidos por filhos do actual Rei Salman da Arábia—) e
televisões (o grupo MBC do Príncipe Walid bin Talal emite uma vintena
de canais), que não são destinados à diáspora muçulmana no Reino Unido, mas, sim
com emissões dirigidas ao mundo árabe; tendo o acordo entre os Islamistas e a
Arábia Saudita sido estendido ao Reino Unido –-total liberdade de acção, mas
interdição de ingerência na política interna. Este conglomerado emprega vários
milhares de pessoas e movimenta gigantescas quantias de dinheiro. Ele irá
permanecer aberto até aos atentados de 11 de Setembro de 2001, quando se
tornará impossível aos Britânicos continuar a justificar a sua existência.
Simultaneamente, os Irmãos
elaboram um vasto programa de formação de líderes árabes pró-EU. O Líbio
Mahmoud Jibril El-Warfally, professor na Universidade de Pittsburg, ensina-os a
falar de forma «politicamente correcta». Assim, ele forma emires e generais da
Arábia Saudita, do Barém, do Egipto, dos Emirados, da Jordânia, do Kuwait, de
Marrocos e da Tunísia (mas também de Singapura). Misturando princípios de
Relações Públicas e estudo dos relatórios do Banco Mundial, os piores ditadores
são agora capazes de falar, sem se rir, dos seus ideais democráticos bem como
do seu profundo respeito pelos Direitos do Homem.
A guerra contra a Argélia
transborda para a França. Jacques Chirac e o seu Ministro do Interior, Charles
Pasqua, interrompem o apoio de Paris aos Irmãos Muçulmanos e tratam mesmo de
interditar os livros de Yussef al-Qaradawi (o pregador da Irmandade). Para eles
trata-se de manter a presença francesa no Magrebe que os Britânicos querem
riscar do mapa. O Grupo Islâmico Armado (GIA) toma como reféns os passageiros
do vôo da Air France Argel-Paris (1994), faz explodir bombas no RER,
e em diversos pontos da capital (1995), e planeia um gigantesco atentado —que
será impedido— aquando do Campeonato do Mundo de futebol (1998), incluindo a
queda de um avião sobre uma central eléctrica nuclear. Em todos os episódios,
os suspeitos, que conseguem escapar, encontram asilo no Londristão.
A guerra da Bósnia-Herzegovina
começa em 1992 [4].
A ordens de Washington, os Serviços Secretos paquistaneses (ISI), sempre
apoiados financeiramente pela Arábia Saudita, enviam 90.000 homens para
participar nela contra os Sérvios (apoiados por Moscovo). Osama Bin Laden
recebe um passaporte diplomático bósnio e torna-se conselheiro militar do
Presidente Alija Izetbegović (de quem o Norte-americano Richard Perle é
conselheiro diplomático e o Francês Bernard-Henri Lévy, conselheiro de
imprensa). Ele monta a Legião Árabe com antigos combatentes do
Afeganistão e arranja financiamento da Liga Islâmica Mundial. Por reflexo
comunitário, ou em competição com a Arábia Saudita, a República Islâmica do
Irão vai também em socorro dos muçulmanos da Bósnia. Em perfeita combinação com
o Pentágono, ela envia várias centenas de Guardas da Revolução e uma unidade do
Hezbolla libanês. Acima de tudo, fornece o essencial das armas utilizadas pelo
Exército bósnio.
Os Serviços Secretos russos, que
infiltraram o campo de Bin Laden, constatam que toda a burocracia da Legião
Árabe é redigida em inglês e que a Legião recebe as suas ordens
directamente da OTAN. Após a guerra, um Tribunal Internacional especial é
criado. Este processou inúmeros combatentes por crimes de guerra, mas nenhum
membro da Legião Árabe.
Após três anos de calma, a guerra
entre muçulmanos e ortodoxos reacende-se na ex-Jugoslávia, no Kosovo desta vez.
O Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) é formado a partir de grupos
mafiosos treinados em combate pelas Forças Especiais Alemãs (KSK) na base turca
de Incirlik. Os Albaneses e os Jugoslavos muçulmanos têm uma cultura
Naqchbandie. Hakan Fidan, o futuro chefe dos Serviços Secretos turcos, é o
oficial de ligação entre a OTAN e a Turquia. Os veteranos da Legião Árabe
integram o UÇK, do qual uma brigada é comandada por um dos irmãos de Ayman
al-Zawahiri. Este destrói sistematicamente as igrejas e os mosteiros ortodoxos,
e caça os cristãos.
Em 1995, revivendo a tradição dos
assassinatos políticos, Osama Bin Laden tenta eliminar o Presidente egípcio,
Hosni Mubarak. Ele volta a tentar no ano seguinte com o Guia líbio, Muammar
Kaddafi. Este segundo atentado é financiado, pela soma de £ 100.000 libras ,
pelos Serviços Secretos britânicos que querem punir o apoio líbio à resistência
irlandesa [5].
Azaradamente a operação falha. Vários oficiais líbios fogem para o Reino Unido.
Entre eles, Ramadan Abidi, cujo filho será encarregado anos mais tarde, sempre
pelos serviços britânicos, de realizar um atentado em Manchester. A Líbia
transmite provas à Interpol e emite o primeiro mandato de prisão internacional
contra o próprio Osama Bin Laden, o qual continua a manter um escritório de
relações públicas no Londristão.
Em 1998, a Comissão Árabe
dos Direitos Humanos é fundada em Paris. Ela é financiada pela NED. O seu
presidente é o Tunisino Moncef Marzouki, e o seu porta-voz o Sírio Haytham
Manna. O seu objectivo é defender os Irmãos Muçulmanos que foram presos nos
diferentes países árabes, por causa das suas actividades terroristas. Marzouki
é um médico de esquerda que trabalha com eles há longo tempo. Manna é um
escritor que gere os investimentos de Hassan al-Turabi e dos Irmãos sudaneses
na Europa. Quando Manna se retira, a sua companheira mantêm-se como directora
da associação. Ele é substituído pelo Argelino Rachid Mesli, que é advogado e
é, nomeadamente, o de Abassi Madani e dos Irmãos argelinos.
Em 1999 (ou seja, após a guerra
do Kosovo e a tomada do Poder pelos islamistas em Grozny), Zbigniew Brzeziński
funda com uma coorte de neo-conservadores o American Committee for Peace
in Chechnya (Comité americano para a paz na Tchechénia). Se a primeira
guerra na Tchechénia fora um assunto interno russo, no qual alguns islamistas
se tinham imiscuído, a segunda visa a criação do Emirado Islâmico da
Ichquéria. Brzeziński, que preparava esta operação há vários anos, tenta
reproduzir a experiência afegã.
Os jiadistas tchechenos, como
Chamil Bassaïev, não foram treinados no Sudão por Bin Laden, mas, sim no
Afeganistão pelos Talibã. Durante toda a guerra, beneficiam do apoio
«humanitário» da Millî Görüş turca de Necmettin Erbakan e Recep
Tayyip Erdoğan e da «IHH - Direitos do homem e Liberdades». Esta Associação
turca foi criada na Alemanha sob o nome de Internationale Humanitäre Hilfe (IHH).
Em seguida, estes jiadistas organizarão várias grandes operações : nomeadamente
contra o Teatro de Moscovo (2002, 170 mortos, 700 feridos), contra uma escola
de Beslan (2004, 385 mortos, 783 feridos) e contra a cidade de Naltchik (2005,
128 mortos e 115 feridos). Após o massacre de Beslan e a morte do líder
jiadista Chamil Bassaïev, a Milli Görüş e a IHH organizam,
na mesquita de Fatih de Istambul, enormes exéquias sem o corpo mas com dezenas
de milhares de militantes.
Durante este período, três
atentados importantes são atribuídos à Alcaida. No entanto, por muito
importantes que estas operações sejam, elas representam um falhanço para os
islamistas, os quais, por um lado, são integrados no seio da OTAN e se veem
simultaneamente despromovidos para o nível de terroristas
anti-americanos.
-- Em
1996, um camião armadilhado faz explodir uma torre de oito andares em Khobar,
na Arábia Saudita, matando 19 soldados dos EUA. Primeiro atribuído à Alcaida, a
responsabilidade do atentado é transferida para cima do Irão, depois finalmente
para ninguém.
-- Em
1998, duas bombas explodem diante das embaixadas norte-americanas em Nairobi
(Quénia) e Dar-es-Salam (Tanzânia), matando 298 africanos —mas nenhum
Norte-americano— e ferindo mais de 4.500 pessoas. Estes atentados são
reivindicados por um misterioso Exército Islâmico de Libertação dos
Lugares Santos. Segundo as autoridades dos EU, eles teriam sido cometidos por
membros da Jiade Islâmicaegípcia em retorsão pela extradição de quatro dos
seus membros. Ora, as mesmas autoridades acusam Osama Bin Laden de ser o
comanditário e o FBI emite —por fim— um mandado de prisão internacional contra
ele.
-- Em 2000, uma embarcação suicida explode contra o costado do destróier USS Cole fundeado em Áden (Iémene). O atentado é reivindicado pela Alcaida na Península Arábica (AQPA), mas um tribunal norte-americano tornará responsável o Sudão.
Estes atentados ocorrem enquanto
a colaboração entre Washington e os Islamistas continua. Assim, Osama bin
Laden, conservou o seu escritório no Londristão até 1999. Situado no
bairro de Wembley, o Advice and Reformation Committee (ARC) visa, ao
mesmo tempo, difundir as declarações de Bin Laden e cobrir as actividades
logísticas da Alcaida, inclusive em matéria de recrutamento, de pagamentos e de
aquisição de materiais. Entre os seus colaboradores em Londres encontra-se o
saudita Khaled al-Fawwaz e os egípcios Adel Abdel Bary e Ibrahim Eidarous, três
homens que são alvo de mandados de detenção internacionais, mas que, no
entanto, receberam asilo político no Reino Unido. É na mais perfeita
legalidade, em Londres, que o escritório de Bin Laden publicará, em Fevereiro
de 1998, o seu célebre Apelo à Jiade contra os Judeus e os Cruzados.
Gravemente doente dos rins, Bin Laden é hospitalizado, em Agosto de 2001, no
hospital Americano do Dubai. Um chefe de Estado do Golfo confirmou-me tê-lo ido
visitar ao seu quarto, onde a sua segurança era garantida pela CIA.
6— A fusão das duas « Gládio » e
a preparação do Daesh
Dentro da mesma lógica, a
Administração Bush torna os Islamistas responsáveis pelos brutais atentados que
ocorrem a 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos. A versão oficial impõe-se
embora ela comporte numerosas incoerências. O Secretário da Justiça assegura
que os aviões foram sequestrados por islamistas, muito embora segundo as
companhias de aviação nenhum dos suspeitos tenha estado a bordo. O Departamento
da Defesa publicará um vídeo no qual Bin Laden reivindica os atentados, quando
o próprio os tinha rejeitado publicamente e os peritos em reconhecimento facial
e vocal afirmam que o homem do vídeo não é Bin Laden.
Seja como for, estes
acontecimentos servem de pretexto a Washington e a Londres para lançar a
«Guerra sem fim» e atacar os seus antigos aliados, os Talibã no Afeganistão, e
o Iraque de Saddam Hussein.
Muito embora ele já sofresse de
insuficiência renal crónica, Osama Bin Laden apenas sucumbe à sua doença a 15
de Dezembro de 2001 como resultado de um síndrome de Marfan. Um representante
do MI6 assiste às suas exéquias no Afeganistão. Posteriormente, vários sósias,
mais ou menos parecidos, irão manter o seu simulacro vivo, dos quais um será
assassinado por Omar Sheikh, em 2005, segundo a Primeiro-ministro paquistanesa
Benazir Bhuto.
Em Agosto de 2002, o MI6 organiza
uma conferência da Irmandade Muçulmana sobre o tema «a Síria para todos». Aí,
os oradores desenvolvem a ideia que a Síria estaria a ser oprimida pela seita
dos Alauítas e que apenas os Irmãos Muçulmanos garantiriam uma genuína
igualdade.
Após Sayyed Qutb e Abu Mussab, «o
Sírio», os Islamistas dotam-se de um novo estratega, Abu Bakr Naji. Em 2004,
este personagem, que parece nunca ter existido, publica um livro na
Internet, A Gestão da Barbárie, uma teoria do caos [6].
Embora alguns autores tenham acreditado reconhecer o estilo de um autor
egípcio, parece que a obra foi escrita em inglês, depois enriquecida com
citações corânicas supérfluas e traduzido para árabe. A «Barbárie» no título do
livro, não designa o recurso ao terror, mas, sim o retorno ao estado da
natureza antes da civilização ter criado o Estado. Trata-se de fazer regressar
a Humanidade ao ponto onde «o homem é um lobo do homem». A estratégia do caos
desenrola-se em três fases:
-- Primeira, desmoralizar e esgotar o Estado atacando nos seus flancos menos bem protegidos. Escolhem-se portanto alvos secundários, muitas vezes sem interesse, mas fáceis de destruir e separados. Tratar-se-á de dar a impressão de um levantamento generalizado, de uma revolução.
-- Em segundo lugar, assim que o Estado se tiver retirado dos subúrbios e dos campos, conquistar certas zonas e administrá-las. Impor a Charia para marcar a passagem a uma nova forma de Estado. Durante este período, serão estabelecidas alianças com todos aqueles que se opõem ao Poder, e que não se deixará de armar. Irá conduzir-se então uma guerra de posições.
-- Em terceiro lugar, proclamar o Estado Islâmico.
Este tratado transpira ciência
militar contemporânea. Ele dá uma enorme importância às operações psicológicas,
nomeadamente à utilização da violência mediática. Na prática, esta estratégia
nada tem a ver com uma revolução, mas com a conquista de um país por potências
exteriores, já que ela pressupõe um investimento maciço. Como sempre na
literatura subversiva, o mais interessante reside naquilo que não é dito ou
apenas é mencionado de passagem:
-- a preparação das populações para que elas acolham os jiadistas supõe a construção prévia de uma rede de mesquitas e de obras sociais, tal como foi feito na Argélia antes da guerra «civil».
-- para serem postas em marcha, as primeiras operações militares necessitam de armas que é preciso importar de antemão. Sobretudo, em seguida, os jiadistas não terão nenhum meio para obter armas e ainda menos munições. Portanto, eles terão que ser apoiados a partir do exterior.
-- A administração das zonas conquistadas supõe que se disponha de quadros formados previamente, como os dos exércitos regulares encarregados de «reconstruir Estados».
-- Finalmente
a guerra de posições supõe a construção de vastíssimas infra-estruturas que
necessitarão de uma grande quantidade de materiais, de engenheiros e de
arquitectos.
De facto, o reclamar a autoria
desta obra atesta que os islamistas entendem continuar a jogar um papel militar
por conta de potências exteriores, só que desta vez em grandíssima escala.
Em 2006, os Britânicos pedem ao
Emir Ahmad do Catar para colocar o seu canal de televisão pan-árabe, Al-Jazeera,
ao serviço dos Irmãos Muçulmanos [7].
O Líbio Mahmoud Jibril, que treinou a família real a falar em linguagem
democrática, é encarregue de introduzir, passo a passo, os seus Irmãos no canal
e de criar canais em línguas estrangeiras (inglês e, a seguir, bósnio e turco),
assim como um canal para as crianças. O pregador Yusuf al-Qaradawi torna-se
«conselheiro religioso» da Al-Jazeera. É claro, o canal irá transmitir e
validar as gravações de áudio ou os vídeos dos «Osama Bin Laden».
No mesmo período, as tropas dos
EUA no Iraque tem que fazer face a uma revolta que se generaliza. Depois de
terem sido derrotados pela rapidez e pela brutalidade da invasão (técnica do «choque
e pavor»), os Iraquianos organizam a sua resistência. O Embaixador
norte-americano em Bagdade, depois Director da Inteligência Nacional, John
Negroponte, propõe-se vencê-los pela divisão e virando a sua raiva contra si
próprios, quer dizer transformar a Resistência à ocupação em guerra civil.
Perito em operações secretas, ele participou, nomeadamente, na Operação
Fénix no Vietname, montando depois a guerra civil civil em El Salvador e a
operação Irão-Contras na Nicarágua, e levou ao colapso a rebelião no
Chiapas mexicano. Negroponte chama um dos homens em que se apoiou em El
Salvador, o Coronel James Steele. Confia-lhe a tarefa de criar milícias
iraquianas de xiitas contra os sunitas e sunitas contra os xiitas. Quanto à
milícia sunita, Steele recorre aos Islamistas. A partir da Alcaida no Iraque,
ele arma uma coligação tribal, o Emirado islâmico no Iraque (futuro
Daesh) sob cobertura da polícia especial («Brigada dos Lobos»). Para
aterrorizar as vítimas e as suas famílias, ele treina o Emirado na tortura,
segundo os métodos da Escola das Américas (School of América) e da Political
Warfare Cadres Academy de Taiwan, onde ensinou. Em poucos meses, um novo
horror abate-se sobre os Iraquianos e divide-os segundo a sua confissão
religiosa. Em seguida, assim que o General David Petraeus assumir o comando das
tropas norte-americanas no país, irá designar o Coronel James H. Coffman para
trabalhar com Steele e lhe fornecer relatórios sobre a operação, enquanto Brett
H. McGurk dará conta directamente ao Presidente. Os principais chefes do
Emirado Islâmico são recrutados no campo de concentração de Bucca, mas são
objecto de preparação na prisão de Abu Ghraib, segundo os métodos de «lavagem
ao cérebro» dos professores Albert D. Biderman e Martin Seligman [8].
Tudo é supervisionado desde Washington pelo Secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, de quem Steele depende directamente.
Em 2007, Washington informa a
Irmandade que vai derrubar os regimes laicos do Médio-Oriente Alargado, incluindo
os dos Estados aliados, e que ela se deve preparar para exercer o Poder. A CIA
organiza alianças entre os Irmãos e partidos, ou personalidades laicas, de
todos os Estados da região. Simultaneamente, ela liga os dois ramos da «Gládio»
tecendo laços entre os grupos nazis ocidentais e os grupos islamistas
orientais.
Estas iniciativas de aliança são
às vezes inconclusivas, como, por exemplo, aquando da «Conferência Nacional da
Oposição Líbia», em Londres, onde os Irmãos não conseguem federar à sua volta senão
o Grupo Islâmico Combatente na Líbia (Alcaida na Líbia) e a Irmandade
wahhabita Senussi. A plataforma programática prevê restabelecer a monarquia e
fazer do Islão a religião do Estado. Mais convincente é a constituição da Frente
da Salvação Nacional, em Berlim, que oficializa a união dos Irmãos com o antigo
Vice-presidente baathista sírio Abdel Halim Khaddam.
A 8 de Maio de 2007, em Ternopol
(oeste da Ucrânia), grupúsculos nazis e islamistas criam uma Frente
anti-imperialista para lutar contra a Rússia. Organizações da Lituânia, da
Polónia, da Ucrânia e da Rússia participam nela, entre as quais os separatistas
Islamistas da Crimeia, da Adigueia, do Daguestão, da Inguchia, da
Cabardino-Balcária, da Carachai-Cerquéssia, da Ossétia, da Chechénia. Não
podendo viajar para lá devido as sanções internacionais impostas contra ele,
Dokou Umarov —que aboliu a República da Chechénia e proclamou o Emirado
Islâmico da Ichquéria—, fez ler a sua proclamação. A Frente é presidida pelo
nazi Dmytro Yarosh, o qual se tornará durante o golpe de Estado de Kiev, em
Fevereiro de 2014, Secretário-adjunto do Conselho de Segurança Nacional da
Ucrânia.
No Líbano, em Maio-Junho de 2007,
o Exército nacional empreende o cerco do campo palestino de Nahr el-Bared
depois de membros da Fatah al-Islam se terem lá entrincheirado. Os
combates duram 32 dias e custam a vida a 76 soldados, dos quais uma trintena
são decapitados.
Em 2010, a Irmandade organiza
a Flotilha da Liberdadeatravés da IHH. Oficialmente trata-se de desafiar o
embargo israelita e de levar assistência humanitária aos habitantes de
Gaza [9].
Na realidade, o principal barco desta frota muda de bandeira durante a
travessia e prossegue sob pavilhão turco. Numerosos espiões misturam-se com os
militantes não-violentos participando na expedição, entre os quais um agente
irlandês da CIA, Mahdi al-Harati. Caindo na armadilha que lhe estende os
Estados Unidos, o Primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ordena o
assalto aos barcos, em águas internacionais, provocando 10 mortos e 54 feridos.
O mundo inteiro condena esse acto de pirataria sob o olhar sarcástico da Casa
Branca. Israel, que fornecia armas aos jiadistas no Afeganistão e apoiou a
criação do Hamas contra a OLP de Yasser Arafat, virara-se contra os Islamistas
em 2008 e bombardeou-os, assim como à população de Gaza. Netanyahu paga assim,
desta maneira, a operação «Chumbo Endurecido» que levou a cabo, junto com a
Arábia Saudita, contra a opinião da Casa Branca. No fim, os passageiros da
Flotilha são libertados por Israel. A imprensa turca mostra então o
Primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan visitando Mahdi al-Harati num hospital. (Continua …)
Thierry Meyssan* | Voltaire.net.org | Tradução Alva
[1] NATO’s
secret armies: operation Gladio and terrorism in Western Europe, Daniele
Ganser, Foreword by Dr. John Prados, Frank Cass/Routledge (2005).
[2] Classified
Woman: The Sibel Edmonds Story : A Memoir, Sibel Edmonds (2012).
[3] Londonistan,
Melanie Phillips, Encounter Books (2006).
[4] Wie
der Dschihad nach Europa kam, Jürgen Elsässer, NP Verlag (2005); Intelligence
and the war in Bosnia 1992-1995: The role of the intelligence and security
services, Nederlands Instituut voor Oologsdocumentatie (2010). Al-Qaida’s
Jihad in Europe: The Afghan-Bosnian Network, Evan Kohlmann, Berg (2011).
[5]
«David Shayler: «Dejé
los servicios secretos británicos cuando el MI6 decidió financiar a los socios
de Osama ben Laden»», Red Voltaire , 23 de noviembre de 2005.
[6] The
Management of Savagery: The Most Critical Stage Through Which the Umma Will
Pass, Abu Bakr Naji, Harvard University (2006).
[7]
«Wadah Khanfar,
Al-Jazeera y el triunfo de la propaganda televisiva », por Thierry
Meyssan, Red Voltaire , 27 de septiembre de 2011.
[8]
“O Segredo de
Guantanamo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Odnako(Rússia) , Rede
Voltaire, 10 de Setembro de 2014.
[9]
«Flotilla de la
Libertad: el detalle que Netanyahu no conocía», por Thierry Meyssan, Red
Voltaire , 11 de junio de 2010.
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