terça-feira, 23 de julho de 2019

Portugal | Direita em estado de coma induzido


Paulo Baldaia | Jornal de Notícias | opinião

Anúncios de morte manifestamente exagerados são o pão nosso de cada dia na política, mas se as sondagens revelam sobretudo tendências, então é certo que o PSD acaba de entrar em coma induzido e com ele toda a Direita. O PS já sonha com quatro anos de farra, ou seja, com uma maioria absoluta.

Ela pode até não chegar, porque a campanha na estrada e os debates ainda terão algum efeito, mobilizador ou desmobilizador, e o PS será sempre o principal interessado na dinâmica que for criada. Reside aqui, aliás, o principal dilema de Rui Rio. Precisa de fazer-se de morto para não criar nesta corrida uma tensão que ajude a mobilizar os eleitores do PS para uma maioria absoluta, mas também precisa de ganhar claramente os debates com o seu principal adversário, para a impedir.

Mesmo que venha a ganhar sem maioria, a sondagem da Pitagórica, para o JN e TSF, mostra que o PS estará de mãos livres na próxima legislatura, dominando completamente o xadrez político, podendo obter o apoio de metade dos deputados mais um, formando uma aliança com qualquer um dos grupos parlamentares. Jogando à Esquerda, onde esteve como peixe na água nesta legislatura, ou à Direita, onde se socorreu sempre que quis ser o velho PS nesta legislatura.


O pós-eleições não será dramático apenas para o PSD. Em relação às últimas eleições, a Direita no seu conjunto, diz a sondagem, perde 11 pontos percentuais, os mesmos que o PS ganha nesse período. No CDS já se começa a pensar no depois de Assunção Cristas e o mais certo é que o partido dê uma valente guinada à Direita, ficando menos popular e mais populista.

A grande frustração poderá ser do Bloco de Esquerda que aparece nas sondagens a consolidar o lugar de terceira força partidária, com possibilidade até de superar o recorde do número de deputados das últimas legislativas (19). O desejo de chegar ao poder é evidente, mas se há namoro que António Costa não aprecia é este com o BE, mesmo que os eleitores do PS vejam no partido de Catarina Martins o parceiro mais apetecível. Com menos votos e menos deputados, o PCP não terá vontade de repetir um acordo como PS, mas o que toda a gente vai querer saber é o que vai ser o PAN com um grupo parlamentar a rondar os 7 a 10 deputados.

P.S.: Rui Rio perguntava ontem se "com tantas sondagens que saem, ainda vale a pena fazer eleições?". É evidente para todos que as eleições se perdem nas urnas, não numa linha telefónica de uma empresa que faz estudos de opinião. Está difícil? É preciso ir à luta!

*Jornalista

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