M.K. Bhadrakumar [*]
A China acusou explicitamente os
Estados Unidos e a Grã-Bretanha de fomentarem os protestos
"pró-democracia" em Hong Kong. Pequim assumiu o assunto por meio do
canal diplomático exigindo que a inteligência dos EUA pare de incitar e
encorajar os manifestantes de Hong Kong. Na semana passada, evidências
fotográficas apareceram nos media mostrando a conselheira política do consulado
dos EUA em Hong Kong, Julie Eadeh, a confabular no átrio de um hotel de luxo
local com os líderes estudantis envolvidos neste movimento
"pró-democracia" de Hong Kong.
Washington ficou ressentida pelo facto de a cobertura de Julie ter sido explodida. Ela é aparentemente uma especialista que organizou "revoluções coloridas" em outros países e foi revelado que estava envolvida na trama de "atos subversivos" na região do Médio Oriente. O Global Times escreveu um editorial furioso . Dizia:
Washington ficou ressentida pelo facto de a cobertura de Julie ter sido explodida. Ela é aparentemente uma especialista que organizou "revoluções coloridas" em outros países e foi revelado que estava envolvida na trama de "atos subversivos" na região do Médio Oriente. O Global Times escreveu um editorial furioso . Dizia:
"O governo dos EUA
desempenhou um papel vergonhoso nos distúrbios de Hong Kong. Washington apoia
publicamente os protestos e nunca condena a violência que atinge a polícia. O
consulado geral dos EUA em Hong Kong está a aumentar a sua interferência
directa na situação de Hong Kong. A administração dos EUA está a instigar
tumultos em Hong Kong, da mesma forma que alimentou "revoluções
coloridas" em outros lugares do mundo.
A alegação chinesa será
plausível? Escrevendo no Asia Times , o renomado académico,
economista e autor canadiano Ken Moak comentou recentemente que os protestos
são generosamente financiados e que a sua logística e organização são de uma
escala de recursos financeiros a que "só governos estrangeiros ou indivíduos
ricos que poderiam lucrar com eles se comprometeriam". Ele pormenorizou
exemplos passados de tentativas anglo-americanas para desestabilizar a
China.
Moak prevê futuras operações subversivas "mais intensas e violentas" contra a China por parte EUA.
Moak prevê futuras operações subversivas "mais intensas e violentas" contra a China por parte EUA.
Com a tecnologia 5G prestes a ser lançada, este é um momento oportuno para os EUA arrebanharem seus aliados ocidentais num boicote económico à China, no momento em que países como a Alemanha e a Itália, que têm relações comerciais e de investimento florescentes com a China, abominam ficar a reboque os EUA.
O renomado jornalista e escritor italiano e observador de longa data da China baseado em Pequim, Francesco Sisci, escreveu recentemente que Hong Kong é, na verdade, a "válvula de segurança" de Pequim e sufocá-la pode causar asfixia em todo o sistema chinês. Sisci compara Hong Kong a "uma câmara de compensação, uma válvula de segurança entre a economia fechada da China continental e as economias abertas do resto do mundo".
Se a China podia globalizar com avidez e ainda assim manter a sua economia fechada era por ter Hong Kong, que era completamente aberta e proporcionava o terceiro maior mercado financeiro do mundo. Se ocorrer uma fuga de capital em larga escala em Hong Kong, a China terá que efectuar seus futuros acordos financeiros através de países sobre os quais não tem controle político. Para citar Sisci, "o actual status de Hong Kong pode ajudar Pequim a comprar tempo, mas a questão crucial ainda é o status da China. A época de estar dentro e fora do sistema comercial global graças a uma arquitectura complexa de acordos especiais está a esgotar-se rapidamente".
Dito simplesmente, a agitação em Hong Kong torna-se um modelo da abordagem de pressão máxima dos EUA para quebrar o ímpeto de crescimento da China e a sua ascensão como uma rival na tecnologia global do século XXI. As mãos nos EUA que influenciam a China já estão a abrir a garrafa de champanhe por "a revolução estar no ar em Hong Kong" – e, isso marcará "o fim do comunismo sobre o solo chinês".
Entra a Rússia. Coincidência ou
não, ultimamente pequenos fogos estão a ser acesos também nas ruas de Moscovo e
estão a propagar-se em
protestos significativos contra o presidente Vladimir Putin. Se a lei
de extradição foi o pretexto para o tumulto de Hong Kong, foi a eleição para a
Duma de Moscovo (legislativo da cidade) que aparentemente provocou o protesto
russo.
Assim como em Hong Kong há descontentamento económico e social, a popularidade de Putin diminuiu ultimamente, o que é atribuído à estagnação da economia russa.
Em ambos os casos, a agenda americana é descaradamente pela "mudança de regime". Isto pode parecer surpreendente, uma vez que as lideranças chinesa e russa parecem sólidas. A legitimidade do Partido Comunista Chinês presidido por Xi Jinping e a popularidade de Putin ainda estão a um nível que faz inveja a qualquer político em qualquer parte do mundo, mas a doutrina das "revoluções coloridas" não é construída sobre princípios democráticos.
As revoluções coloridas referem-se à inversão de uma ordem política estabelecida e não tem correlação com o apoio das massas. A revolução colorida é o golpe por outros meios. Não é nem mesmo acerca de democracia. As recentes eleições presidenciais e parlamentares na Ucrânia revelaram que a revolução colorida de 2014 foi uma insurreição que a nação repudia.
É claro que as apostas são muito altas quando se trata de desestabilizar a China e a Rússia. Nada menos do que o equilíbrio estratégico global está em causa. A estratégia de contenção dupla dos EUA contra a Rússia e a China é na sua quinta-essência o projecto New American Century – a hegemonia global dos EUA ao longo do século XXI.
Os EUA apostaram que Moscovo e Pequim seriam duramente pressionados para enfrentar o espectro das revoluções coloridas e que as isolariam. Afinal de contas, regimes autoritários são exclusivos e dentro do sanctum sanctorum das suas políticas internas nem os seus amigos ou aliados mais próximos são permitidos.
É aqui que Moscovo tem uma surpresa desagradável para Washington. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse em Moscovo na sexta-feira que a Rússia e a China deveriam intercambiar informações sobre a interferência dos EUA nos seus assuntos internos. Ela sinalizou que Moscovo está consciente das declarações chinesas de que os EUA interferem nos assuntos de Hong Kong e trata estas informações "com toda a seriedade".
"Além disso, penso que seria correcto e útil trocar tais informações através dos respectivos serviços", disse Zakharova, acrescentando que os lados russo e chinês discutirão a questão dentro em breve. Ela acrescentou que a agência de inteligência dos EUA está a utilizar tecnologia para desestabilizar a Rússia e a China.
Pouco antes, na sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o chefe da Secção Política da embaixada estado-unidense, Tim Richardson, e apresentou-lhe um protesto oficial contra o encorajamento dos EUA a uma manifestação não autorizada da oposição em Moscovo no dia 3 de Agosto.
Na verdade, Moscovo tem muito mais experiência do que Pequim em neutralizar operações secretas da inteligência dos EUA. É uma característica marcante da grande habilidade e perícia, bem como da tenacidade do sistema russo, que durante toda a era da Guerra Fria e no período "pós-soviético", nunca tenha havido nada parecido com os motins na Praça Tiananmen em Pequim (1989) ou em Hong Kong (2019) desencadeados pela inteligência dos EUA.
A mensagem de Moscovo para Pequim é directa e franca – "Unidos venceremos, divididos cairemos". Sem dúvida, os dois países estiveram em consultas e queriam que o resto do mundo soubesse disso. Na verdade, a mensagem transmitida por Zakharova – sobre uma muralha (firewall) conjunta contra a interferência dos EUA – é de significância histórica. Ela eleva a aliança russo-chinesa a um nível qualitativamente novo, criando mais um reforço político de segurança colectiva.
Assim como em Hong Kong há descontentamento económico e social, a popularidade de Putin diminuiu ultimamente, o que é atribuído à estagnação da economia russa.
Em ambos os casos, a agenda americana é descaradamente pela "mudança de regime". Isto pode parecer surpreendente, uma vez que as lideranças chinesa e russa parecem sólidas. A legitimidade do Partido Comunista Chinês presidido por Xi Jinping e a popularidade de Putin ainda estão a um nível que faz inveja a qualquer político em qualquer parte do mundo, mas a doutrina das "revoluções coloridas" não é construída sobre princípios democráticos.
As revoluções coloridas referem-se à inversão de uma ordem política estabelecida e não tem correlação com o apoio das massas. A revolução colorida é o golpe por outros meios. Não é nem mesmo acerca de democracia. As recentes eleições presidenciais e parlamentares na Ucrânia revelaram que a revolução colorida de 2014 foi uma insurreição que a nação repudia.
É claro que as apostas são muito altas quando se trata de desestabilizar a China e a Rússia. Nada menos do que o equilíbrio estratégico global está em causa. A estratégia de contenção dupla dos EUA contra a Rússia e a China é na sua quinta-essência o projecto New American Century – a hegemonia global dos EUA ao longo do século XXI.
Os EUA apostaram que Moscovo e Pequim seriam duramente pressionados para enfrentar o espectro das revoluções coloridas e que as isolariam. Afinal de contas, regimes autoritários são exclusivos e dentro do sanctum sanctorum das suas políticas internas nem os seus amigos ou aliados mais próximos são permitidos.
É aqui que Moscovo tem uma surpresa desagradável para Washington. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse em Moscovo na sexta-feira que a Rússia e a China deveriam intercambiar informações sobre a interferência dos EUA nos seus assuntos internos. Ela sinalizou que Moscovo está consciente das declarações chinesas de que os EUA interferem nos assuntos de Hong Kong e trata estas informações "com toda a seriedade".
"Além disso, penso que seria correcto e útil trocar tais informações através dos respectivos serviços", disse Zakharova, acrescentando que os lados russo e chinês discutirão a questão dentro em breve. Ela acrescentou que a agência de inteligência dos EUA está a utilizar tecnologia para desestabilizar a Rússia e a China.
Pouco antes, na sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o chefe da Secção Política da embaixada estado-unidense, Tim Richardson, e apresentou-lhe um protesto oficial contra o encorajamento dos EUA a uma manifestação não autorizada da oposição em Moscovo no dia 3 de Agosto.
Na verdade, Moscovo tem muito mais experiência do que Pequim em neutralizar operações secretas da inteligência dos EUA. É uma característica marcante da grande habilidade e perícia, bem como da tenacidade do sistema russo, que durante toda a era da Guerra Fria e no período "pós-soviético", nunca tenha havido nada parecido com os motins na Praça Tiananmen em Pequim (1989) ou em Hong Kong (2019) desencadeados pela inteligência dos EUA.
A mensagem de Moscovo para Pequim é directa e franca – "Unidos venceremos, divididos cairemos". Sem dúvida, os dois países estiveram em consultas e queriam que o resto do mundo soubesse disso. Na verdade, a mensagem transmitida por Zakharova – sobre uma muralha (firewall) conjunta contra a interferência dos EUA – é de significância histórica. Ela eleva a aliança russo-chinesa a um nível qualitativamente novo, criando mais um reforço político de segurança colectiva.
11/Agosto/2019
[*] Analista
político, indiano.
O original encontra-se em indianpunchline.com/a-sino-russian-firewall-against-us-interference/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
O original encontra-se em indianpunchline.com/a-sino-russian-firewall-against-us-interference/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
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