Como a crença numa noção
iluminista de ordenação da esfera pública, junto a neoliberalismo avesso à
regulação, produziram caos dominado pelo lucro, e transformaram a rede em
instrumento de manipulação e vigilância
Rafael Evangelista | Outras Palavras
Duas palavras vêm permeando o
debate sobre o futuro – em grande medida, o presente – da democracia frente ao
domínio das grandes plataformas: desordem e desinformação. Grandes
conglomerados como Google/Alphabet[1] e
Facebook já extrapolaram, faz muito tempo, seu papel como simples empresas de
tecnologia – ainda que isso nada tenha de simples. Tornaram-se gigantescos
grupos de mídia, de informação e comunicação, responsáveis maiores pelo acesso
filtrado do globo ao sistema de notícias e de conhecimento, ao contato que
temos com a realidade do mundo para além de nossas experiências pessoais.
Começando pela primeira dessas
palavras, o que significa dizer que vivemos um período de desordem
informacional? Fica fácil enunciar o que nos incomoda, o que tomamos como
produto do desordenamento: movimento antivacinas, a crença de que a Terra é
plana, negacionismo climático. Ou então: novos nacionalismos xenofóbicos,
homofobia, intolerância. Esses seriam alguns dos efeitos negativos que
costumamos atribuir a essa chamada desordem informacional.
Mas o que seria, então, a ordem?
O pressuposto é que, se tivéssemos uma boa organização do sistema
informacional, os cidadãos estariam protegidos e imunes a essas ideias
retrógradas, anticientíficas e, principalmente, antidemocráticas. A democracia,
a civilização e talvez o planeta estariam protegidos por cidadãos conscientes,
capazes de zelar por esses valores nobres, como o conhecimento científico
racional, ainda que aberto a diferentes racionalidades, e a proteção da
diversidade.
O que parece, na verdade, estar
por trás disso é a expectativa de uma esfera pública funcional, organizada.
Essa esfera pública seria o espaço discursivo em que diversos atores sociais,
representantes de grupos de interesse, experts, intelectuais, grupos de defesa
de direitos de minorias, debatem sobre os assuntos de interesse público. Desse
confronto de ideias e argumentos livres emergiria um consenso racional. É uma
ideia profundamente iluminista sobre um poder político que pode ser domado pela
razão, que se desenvolve e se aperfeiçoa pela argumentação. São herdeiros dessa
perspectiva a respeito da esfera pública todo o conjunto de regras sobre
liberdade de opinião, direito à informação e de regulação para um funcionamento
apropriado do sistema midiático. Não seria possível ter um bom funcionamento da
democracia sem alguns pré-requisitos básicos.
As premissas sobre liberdades e
direitos, quando não atendidas, já nos colocam um certo leque de problemas. Mas
esses problemas são ainda mais graves no contexto de sociedades como a nossa,
do Sul Global, em que as regras institucionais são frágeis. De uma maneira
geral, são sociedades que viveram histórias coloniais e de instabilidades
políticas relativamente recentes. Isso contribuiu decisivamente para uma
implementação muito tênue das regras democráticas.
O sociólogo português Boaventura
de Sousa Santos fez uma crítica importante à ideia geral de esfera pública e
especificamente de sua aplicação no contexto do Sul Global (Boaventura, 2012).
Ele cita o caráter eurocêntrico do conceito, um tribalismo da burguesia
europeia datado do início do século XVIII. O capitalismo e o colonialismo
teriam convertido tal localismo em aspiração global e conceito teórico
universal. Ao mesmo tempo, uma divisão abissal entre colônia e metrópole
tornaria a esfera pública impensável em sociedades coloniais. Impensável não
porque teoricamente impossível e sim porque são sujeitas aos efeitos dessa
diferença histórica e de poder entre metrópoles e colônias. Justamente pelo
apagamento, pelo esquecimento de que essas diferenças estão em ação e são reais,
se formaria uma ideia contrária ao próprio universalismo. Assim, seria como se
houvesse algo de errado com o Sul em si mesmo, eximindo-se de culpa as
condições históricas assimétricas e o caráter idealista e utópico do próprio
projeto de esfera pública.
Não cabe aqui discutir à exaustão
essas críticas de Boaventura. O que cabe identificar nela são dois elementos. O
primeiro é o quanto essa funcionalidade “saudável” da esfera pública nunca será
perfeita, é um projeto de busca constante e de ação política necessária, porque
parte de premissas idealizadas e de condições de outros tempos e outras
realidades. Assim sendo, a esfera pública é uma idealização que dá origem a um
projeto em construção contínua. No Sul Global, esse é o segundo ponto, trata-se
de projeto com características específicas. A principal delas é levar em conta,
não esquecer, o passado colonial e as assimetrias de poder com o Norte Global
e, principalmente, o caráter particular e precário das nossas
institucionalidades. Toda a importação acrítica de projetos democráticos tende
ao fracasso.
Boas regras no papel, bandalheira
eleitoral e darwinismo social
Podemos pensar as últimas eleições brasileiras. Nelas, em geral um bom conjunto geral de novas regras foi incorporado, sendo o melhor exemplo a proibição do financiamento empresarial de campanhas, regra em sintonia com boa parte das boas democracias do mundo. Já antes das novas regras o sistema continua podendo ser considerado bastante transparente, com todas as doações identificadas. A falha, contudo, está na institucionalidade. As regras acabam sendo para “inglês ver”, haja vista o tradicional caixa 2 e, agora, o flagrante financiamento empresarial para a publicidade microdirecionada em aplicativos de mensagem. A lentidão, desinteresse e ineficiência na investigação dessas denúncias impactam a legitimidade do processo.
Na dificuldade de regulação da
desordem informacional do Sul Global há ainda outros complicadores. São de
ordem geral, ainda que experimentados e dosados localmente. Um deles é o neoliberalismo,
que o sociólogo David Harvey (2008) define como sendo, em primeiro lugar, “uma
teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode
ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras
individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos
direitos à propriedade privada, livres mercados e livre comércio”. Mas,
progressivamente, a ideia de neoliberalismo foi ganhando cores mais radicais. E
com efeitos muito mais perversos em sociedades como a nossa, que nunca
conseguiram implementar um Estado de bem-estar social. No Sul, o neoliberalismo
virou um novo tipo de darwinismo social, em que indivíduos e empresas competem
à exaustão, como se dali fosse emergir um novo ser mais forte e mais adaptado à
realidade do mercado. Virou legitimação ou institucionalização de uma economia
clandestina.
O neoliberalismo é uma teoria mas
tornou-se também uma atitude com relação ao mundo. Diz Harvey que “nenhum modo
de pensamento se torna dominante sem propor um aparato conceitual que mobilize
nossas sensações e nossos instintos, nossos valores e nossos desejos, assim
como as possibilidades inerentes ao mundo social que habitamos”. Nesse sentido,
a ordem que o neoliberalismo almeja na verdade é uma utopia sobre uma espécie
de organização automática surgida do caos. Automática é uma palavra importante
aqui porque fala tanto de esperar que os conflitos se resolvam sozinhos,
automaticamente, como de delegar o consequente ordenamento, a resolução do
conflito, a sistemas autorregulados, de certa forma abdicando da intervenção
externa e da medição direta. Um desfecho tecnológico de uma premissa
neoliberal.
Mas a frase que cito de Harvey
nos permite falar ainda sobre um outro obstáculo ao ordenamento, à regulação do
sistema informacional, um impedimento agora mais específico à área de
tecnologia. Richard Barbrook (2009) define o que ele chama de ideologia
californiana como uma confluência de ideais hippies herdados da contracultura
com certas condições privilegiadas de emprego na região do Vale do Silício, na
Califórnia, que teriam dado origem a uma visão otimista do potencial
emancipatório das novas tecnologias, fundindo ideais libertários com o
empreendedorismo individualista dos anos 1990. Seria basicamente o
neoliberalismo aplicado à internet, que formula uma posição sempre avessa às
tentativas de regulação da rede, pois qualquer regulação tiraria a pujança
inovadora das empresas e atentaria contra a liberdade. É um discurso simplista,
mas com grande efeito nos debates públicos até muito recentemente.
Essas são questões que nos dão um
quadro geral dos dilemas em torno do ordenamento de que hoje sentimos falta.
Por um lado, o ordenamento é condição básica para criar as condições em que um
debate político racional, uma participação política humanística poderia
prosperar. Por outro, há a fraqueza regulatória de um Estado periférico de
instituições frágeis. Um Estado que se fragiliza ainda mais a partir das
pressões de atores sociais que acham que a liberalização é remédio para tudo.
Desinformação que vira lucro
No início do texto, apontei ainda
uma segunda palavra como constantemente citada nos debates sobre democracia e
plataformas: desinformação. Essa palavra está diretamente ligada à ideia de
desordem, é a desordem informacional que leva à desinformação. É interessante o
contraste com o seu falso cognato em inglês: disinformation[2].
Na verdade, desinformação, em português, estava muito mais ligada a um equívoco
do que a uma perversidade. O desinformado é aquele que não tem informação. Já o
mal informado é aquele que tem a informação errada. A palavra em inglês, disinformation,
está ligada à produção de informação deliberadamente falsa, é a produção de
informação de má qualidade. Em português, originalmente desinformação estava
ligada a uma ausência, uma falta ou um equívoco por parte do receptor.
Os dois efeitos, a desinformação
e a má informação, são um problema. Mas precisamos distingui-los porque para
cada um precisamos de uma ação – e, nesse sentido, uma regulação, um
ordenamento – diferente. Hoje, a má informação não é um acidente, ela é um
subproduto que retroalimenta a força das plataformas numa sociedade
interconectada. Pode não ter sido algo desejado a princípio, mas se tornou
parte importante da economia das plataformas. A má informação é mais popular,
mais sensacional, gera mais cliques, mais reações emocionais, entretenimento e
engajamento do que a informação verdadeira. E a reação das plataformas, até
mesmo por esses motivos, tem sido estruturalmente agnóstica, ou seja, de
incorporação do desvio como se fosse parte da normalidade. A má informação se
tornou um negócio, tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista
financeiro, que se alimenta e possivelmente faz melhor uso de todos os
estímulos à produção de conteúdo em vigência no momento. A frase “não é bug,
é feature” [“não é falha, é planejado”, se formos aportuguesar] se aplica
muito bem aqui, porque a má informação é incorporada e usufrui do sistema de
recompensas hoje instituído.
Dois exemplos práticos, um
internacional e outro brasileiro
O instituto Data & Society,
dos Estados Unidos, publicou no final do ano passado um relatório com o título
“Alternative influence: broadcasting the reactionary right on YouTube”. O
estudo, de autoria de Rebecca Lewis (2018), mapeia o que chama de “rede de
influência alternativa”, um sistema paralelo de mídia que adota as técnicas dos
chamados influencers para ganhar audiência e repassar uma ideologia
política. Essa rede envolve um espectro ampliado de comentaristas de mídia,
acadêmicos e celebridades de internet, um leque que vai das versões mais
tradicionais do conservadorismo até chegar ao neonazismo. O estudo mostra como
esses agentes atuam em rede de forma a compartilhar popularidade entre eles.
Por exemplo, um membro mais moderado do grupo convida um membro mais radical
para uma participação em vídeo. Embora o mais moderado diga não concordar com
as posições do extremista, a audiência do moderado se excita pelo conteúdo
polêmico e os fãs do extremista contribuem com alguma visualização. O
extremista se torna mais popular e os dois se beneficiam. O relatório aponta
também para os incentivos financeiros recebidos. Diversos estudos já vinham
apontando como o algoritmo do YouTube prioriza vídeos mais radicais nas suas
indicações, um espanto e indignação que gera mais engajamento e na outra ponta
recompensa as produções mais ultrajantes. Mas mesmo quando o benefício financeiro
não vem da própria plataforma, em recompensa por visualizações, esses ideólogos
da extrema direita lucram com contribuições diretas da audiência. Na verdade,
em geral a plataforma bane aqueles que já se tornaram mais populares e visíveis
ao grande público, os quais têm mais capacidade de conseguir fundos por canais
alternativos e que conseguem passar para seu público a imagem de perseguidos
pelo sistema.
No momento não há dados
definitivos sobre isso, mas há várias indicações de que esquemas semelhantes de
articulação de extremistas vêm ocorrendo no Brasil. No nosso caso, isso se
torna mais grave dado o perfil mais concentrado em termos de propriedade e
pouco plural politicamente da mídia tradicional. Uma hipótese é que há uma
articulação mais forte entre comentaristas da mídia tradicional brasileira e a
rede extremista nacional, o que ajuda a dar uma sensação de legitimidade para
os radicalismos.
Um lugar interessante de
observação sobre má informação são os grupos de política do WhatsApp. Há um bom
material sobre eles que já foi apurado pela imprensa, por sociólogos e
cientistas da computação interessados na dinâmica e no fluxo de informações
falsas em grupos de mensagens, e a esses trabalhos adiciono aqui algumas
observações de cunho etnográfico que venho acumulando desde meados do ano
passado. Esse trânsito entre material da imprensa tradicional e os grupos de
WhatsApp, por exemplo, é algo que venho notando. Em geral, o conteúdo da mídia
tradicional, principalmente rádios e TVs, aparece para legitimar análises
parciais ou informações evidentemente erradas.
Um dos melhores mapeamentos dos
grupos sobre política no WhatsApp vem sendo feito pelo grupo de cientistas da
computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) liderado pelo
professor Fabrício Benevenuto, que criou o Monitor de WhatsApp (Melo et al,
2019). No período eleitoral e durante a greve dos caminhoneiros, eles
monitoraram o tráfego de mais de 300 grupos de discussão, procurando entender a
disseminação do que chamam de (mis)information, ou seja, informação
equivocada, que pode ou não ter sido produzida maliciosamente, e muitas vezes é
transmitida inadvertidamente pelas pessoas. Eles analisaram as estruturas de
rede que emergem das interações, dentro dos grupos e entre os grupos, buscando
mais especificamente identificar o trânsito de conteúdos com informações
comprovadamente falsas (Resende et al, 2019).
O que esses pesquisadores
descobriram é que grupos aparentemente desconexos na verdade estão ligados.
Alguns membros atuam em diversos grupos, alguns grupos formam aglomerados com
muitos membros em comum. Esses membros formam entre si uma estrutura paralela,
articulada. Essa estrutura é imperceptível, invisível para o membro isolado de
algum desses grupos. Ou seja, dada essa invisibilidade, o que se tem são
estruturas de vigilância de usuários atuando sobre os grupos. Uma das
conclusões dos pesquisadores é que o WhatsApp, nesse contexto, passa a ter um
funcionamento semelhante ao de uma rede social. Outro dado importante que
identificaram é que as imagens contendo informação comprovadamente falsa
circularam oito vezes mais do que as outras.
A essa análise acho importante
adicionar as revelações trazidas principalmente pela Folha de S.Paulo sobre
os disparos de WhatsApp feitos nas eleições. O jornal conseguiu apurar que
empresários fizeram contratos de até US$ 3 milhões com agências especializadas
no disparo automatizado de mensagens. O mais famoso desses empresários acusados
atua no setor de varejo, o que indica a possibilidade de repetição de métodos
de marketing de sua empresa para o âmbito político. Doações diretas por
empresas foram vetadas nesse pleito. Os empresários teriam adquirido bases de
usuários vendidas por agências, o que como prática de campanha é ilegal – e
algo que reforça a ideia de que práticas de marketing comercial foram
incorporadas ao marketing eleitoral. Diversas reportagens, além das da Folha,
apontam um conjunto de empresas e um mercado que oscila entre o formal e o
informal, dedicado ao envio de mensagens direcionadas usando o aplicativo.
A matéria da Folha denunciou
ainda que as agências conseguem gerar números internacionais usados por
funcionários para driblarem restrições contra spam e para administrarem ou
participarem de grupos. Isso indica que, além do envio de mensagens
individualizadas, a estratégia envolveu o gerenciamento anônimo de grupos. Esse
gerenciamento, como já apontei, é invisível. O grupo de WhatsApp aparenta ser
espontâneo, ter uma dinâmica natural, mas na verdade é administrado por
funcionários envolvidos na campanha de um candidato.
Segundo o jornal apurou junto a
ex-funcionários e clientes dessas agências, os administradores usam algoritmos
que segmentam os membros dos grupos entre apoiadores, detratores e neutros, e
assim definem o tipo de conteúdo que enviam. Os apoiadores mais ativos do
candidato seriam ainda contatados para criarem mais grupos em favor do
candidato. Em outro artigo, o jornal apontou como alguns desses grupos simulam
uma organização militar, auto-identificando-se como um “exército virtual” em
favor de um candidato. De acordo com o jornal, os grupos são divididos em
“brigadas”, “comandos” e “batalhões”, reunindo principalmente jovens, alguns
com menos de 18 anos de idade.
Adeus às ilusões
Pois bem, o que se tira desse
exemplo brasileiro e que pontes podem ser feitas com o exemplo internacional,
do YouTube? Que desordem informacional é essa que emerge e que estimula a
circulação de informações falsas? Acredito que há aqui dois fatores.
O primeiro tem a ver com essa
esfera pública idealizada, que segundo Boaventura foi transformada em aspiração
global, mas que é cada vez mais difícil de ser instituída devido a pressões
variadas em favor de um liberalismo irreal que desconsidera as assimetrias de
poder entre os atores sociais. Em contextos como os do Sul Global, esse quadro
se torna ainda mais difícil. Falando especificamente do Brasil, a desordem
informacional é precedida por uma grande concentração dos meios de comunicação.
Imaginamos, não faz muito, que a
internet poderia ser um atalho para se resolver esse problema da concentração
sem se perturbar demais os poderes constituídos. Seria a democratização da
comunicação por meio da tecnologia. Contudo, o mercado da internet evolui de
forma a recompensar o fluxo indistinto de dados, o capitalismo de vigilância e
a captura da atenção. Esse mercado vem criando estímulos ao engajamento
contínuo, explorando as emoções extremadas e capazes de mobilizar ao máximo os
sujeitos. A lógica desse processo fica muito longe da ideia de exposição de argumentos
racionais para o entendimento mútuo. Os algoritmos vão progressivamente
radicalizando suas sugestões, instigando e fascinando com conspirações e
revanchismo. Abaixo das plataformas surge o empreendedorismo do ódio: youtubers radicais, influencers fascistas,
comunicadores pró-intervenção militar. E junto com eles, pequenos negócios,
como aqueles especializados em marketing via WhatsApp, que mistura o eleitoral
com o comercial.
Em algum momento se sonhou com
uma ágora digital democrática, capaz de conectar a humanidade, fazendo com que
dela emergisse o que há de melhor. Apostou-se que bastava manter o que seria
uma “natureza” original da internet, livre e aberta, que os benefícios
positivos seriam uma consequência lógica. O que assistimos, no entanto, foi a
construção de modelos de negócio predatórios da atenção, do escândalo e do
menor denominador comum. Sem intervenção humana, racional, participativa e
justa, corremos o risco de vê-los solaparem a própria democracia.
* Rafael de Almeida Evangelista é
graduado em Ciências Sociais (1998), mestre em Linguística (2005) e doutor em
Antropologia Social (2010), todos os títulos pela Unicamp. Também é
especialista em Jornalismo Científico (2000). Como pesquisador tem trabalhado
com os temas: história e ideologias das tecnologias da informação; utopias da
cibernética e cultura do Vale do Silício; gameficação; redes sociais, internet
e trabalho não remunerado; regulação da internet e vigilância em sistemas
informacionais. E-mail: rae@unicamp.br
Referências
Santos, B. de S. “Public sphere
and epistemologies of the South”. Africa Development, v. 37, n. 1, p. 43 –
67, 1 jan. 2012.
Harvey, D. Neoliberalismo
(O) – História e implicações. [sem local] Loyola, 2008.
Barbrook, R. Futuros
imaginários – Das máquinas pensantes à aldeia global. [s.l.] Editora
Peirópolis Ltda, 2009.
Resende, G.;
Melo, P.; Sousa, H.; Messias, J.;
Vasconcelos, M.; Almeida, J.; and Benevenuto, F. 2019.
“(Mis)Information dissemination in Whatsapp: Gathering, analyzing and
countermeasures”. In: Proc. of the web conference (WWW’19).
2019
Melo, P. et al. “WhatsApp
monitor: A fact-checking system for WhatsApp”. Proceedings of the
International AAAI Conference on Web and Social Media, v. 13, p. 676–7, 6 jul.
2019.
Lewis, R. “Alternative
influence”. Data & Society, [s.d.]. Disponível em:
https://datasociety.net/output/alternative-influence/. Acesso em: 7 ago. 2019
[1] holding
controladora do Google e demais negócios do grupo, como YouTube
[2] false
information deliberately and often covertly spread (as by the planting of
rumors) in order to influence public opinion or obscure the truth [Merriam-Webster]
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