domingo, 6 de outubro de 2019

Portugal / Eleições | O poder que nos é confiado


Domingos de Andrade | Jornal de Notícias | opinião

Se não o fizer por mais ninguém, se não o fizer por si porque não acredita, porque se convenceu de que já não vale a pena, porque lhe parece tudo igual, faça-o porque houve quem lutou e haverá quem lute.

Porque vale a pena levar os pais pela mão, os netos e os filhos, e passar o testemunho geracional do tempo em que não se podia fazer para que nunca mais se perca a oportunidade de o fazer. Votar. Porque este é, como escreve Valter Hugo Mãe neste jornal, o momento em que somos todos únicos e em que valemos tanto quanto cada um, nem mais nem menos.

E deixe que estes sejam dias futuros de boas memórias. Para lá das escolhas partidárias. Como aqueles da campanha quente para as presidenciais de 1986, que representaram para uma geração inteira o primeiro sobressalto cívico e a perceção do que estava em jogo num ato eleitoral. Entoava-se "Soares é fixe" e "Prá frente Portugal".

Freitas do Amaral, protagonista dessa disputa e um dos responsáveis pela integração da Direita na democracia, deixou-nos em vésperas de ida às urnas. O seu percurso empenhado e livre, tão livre que ficou por muitos momentos numa inesperada solidão, deve levar-nos a refletir sobre a forma como vivemos os nossos direitos e deveres.

O adormecimento social, em parte explicado pela sucessão de casos e de polémicas que retira dignidade à ação política, faz chegar o distanciamento por parte dos eleitores a um ponto inaceitável. Como o caso narrado por um adolescente, filho de um casal amigo, que chegou a casa surpreendido porque uma professora tinha afirmado que este domingo se realizariam eleições autárquicas.

Faz falta uma dignificação da vida pública e uma renovação dos partidos que afaste os vícios da corrupção, da promiscuidade e do aproveitamento dos cargos. Faz falta o surgimento de novas lideranças, mais livres e inspiradoras. Mas nada disso se alcança sem uma participação exigente dos cidadãos, porque a democracia faz-se da confluência entre os dois papéis. Hoje é o dia de dizermos presente, mostrando que estamos atentos. E que não abdicamos do dever e do poder que nos é confiado.

*Diretor

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