Paulo Baldaia* | Jornal
de Notícias | opinião
Segunda-feira, dia 18 de novembro
de 2019, duas da tarde. Escrevo este texto numa esplanada de Carcavelos. Está
sol, a sensação térmica supera os 20 graus, há turistas no areal a bronzear-se.
É o novo normal, as pessoas
estranham é quando chove no outono. Leio nos jornais que dois terços do país
estão em seca severa ou extrema e que existem aldeias onde a água só chega em
camiões-cisterna. O deserto aproxima-se a passos largos e o clima em Portugal
assemelha-se cada vez mais ao do Norte de África.
Repito informação de uma
realidade que todos bem conhecemos para tentar perceber o que leva um
governante a anunciar orgulhosamente que os impostos dos portugueses vão ajudar
a pagar a construção de um pavilhão do gelo em Lisboa. Puseram o país a olhar (imaginar)
como boi para esse palácio. Não é uma pista de gelo, como aquela que existe em
Viseu, paga e explorada por privados, ou aquela que a própria Federação de
Desportos de Inverno quer montar na Covilhã, orçamentada em 400 mil euros. É um
pavilhão para a prática de desportos de inverno, para custar milhões de euros.
É este o novo desígnio para o país, construir uma infraestrutura que permita
aos turistas fazer patinagem no gelo ou "curling", depois de uma
volta de camelo nas portas do deserto ao sul do Tejo. Com um bocadinho de
imaginação, ainda conseguem fazer um circo no gelo e o camelo faz umas horas
extras de patinagem, para gáudio dos turistas.
Neste país de contribuintes
ordeiros, o secretário de Estado da Juventude e Desporto pode fazer este anúncio
que ninguém se revolta. É mais uma obra para nascer em Lisboa com os impostos
dos que são permanentemente ignorados pela capital. Tudo por um prato de
lentilhas, muito na linha da política à portuguesa: o senhor João Paulo Rebelo
fez este anúncio de milhões para uma federação desportiva que tinha acabado de
o distinguir como "Personalidade do Ano". Coisa mais pacóvia é
difícil de imaginar.
Este governante nasceu para a
representação política em Viseu (vereador sem pelouro e deputado eleito), mas
não se nota. É um, entre vários, daqueles que não se percebe porque se
mantiveram no cargo. Fez uma lei sobre claques e violência no desporto e gosta
muito de falar sobre o tema, mas a (in)competência do dito governante em
prevenir a violência é factual: um adepto italiano do Sporting foi morto junto
ao estádio da Luz e membros da claque do Sporting invadiram o centro de treinos
agredindo vários jogadores. A quem serve este secretário de Estado?
*Jornalista
Sem comentários:
Enviar um comentário