quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Netanyahu reúne com Costa. Irão, cibersegurança e terrorismo na agenda


O primeiro-ministro israelita reúne-se esta quinta-feira com António Costa, depois do encontro de quarta-feira em Lisboa com Mike Pompeo. As relações entre Portugal e Israel vão ficar reforçadas com a visita de Marcelo Rebelo de Sousa àquele país no próximo ano.

Cooperação tecnológica na área da cibersegurança, colaboração no combate ao terrorismo e nas áreas científica e académica, serão pontos na agenda do encontro, esta quinta-feira, entre os primeiros-ministros israelita e português - soube o DN junto a fontes diplomáticas.

"As relações comerciais entre os dois países nunca estiveram tão boas", sublinha João Rebelo, ex-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel. "E do ponto de vista político e diplomático terão o seu ponto alto com a visita do Presidente da República a Israel, em janeiro, no âmbito do dia de memória do holocausto", assinala ainda. Será a primeira visita a Israel de um chefe de Estado, desde que Mário Soares ali se deslocou em 1994, que coincidiu com o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin.

Fonte de Belém confirmou que a visita está "prevista", bem como fonte diplomática israelita.

A lutar pela sobrevivência política, Benjamin Netanyahu - que ainda não conseguiu formar governo desde as eleições de setembro e está acusado de corrupção - aproveitou a sua vinda a Lisboa, cujo objetivo principal foi encontrar-se com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, para também procurar apoio do governo português na sua 'guerra' contra o Irão.


A 'cruzada' contra o Irão

Da parte do gabinete da António Costa apenas foi revelado que na reunião, prevista para a tarde desta quinta-feira na residência oficial de S. Bento, seriam apenas as relações bilaterais o tema de discussão. No entanto, fontes diplomáticas que acompanharam a preparação do encontro garantiram que a agenda tem também questões 'quentes' do palco internacional, como é o caso das sanções ao Irão por causa do programa nuclear deste país, que Israel considera uma ameaça à paz do médio oriente.

Segundo a imprensa israelita, Costa assinalará a Netanyahu que o nosso país é, desde esta quarta-feira, membro integral da International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA), fundada em 1998 pelo ex-primeiro-ministro sueco, Goran Persson. Reúne já 48 países - na Europa só faltava Portugal - e é um fórum político de alto nível para a memória, educação e prevenção de antissemitismo. A definição de antissemitismo da IHRA, considera que são comportamentos antissemitas alegar que Israel tem atitudes racistas, comparando-o à Alemanha nazi, ou acusar cidadãos judeus de serem mais leais a Israel do que aos seus próprios países.

Ao que o DN apurou, está previsto que esta reunião tenha a duração de uma hora. Benjamin Netanyahu será acompanhado por uma comitiva de quatro pessoas, com destaque para Meir Ben-Shabat, o todo-poderoso chefe máximo do Conselho Nacional de Segurança israelita, uma estrutura que coordena, monitoriza e analisa para o primeiro-ministro todas as questões de segurança que envolvem o país.

Além de Ben-Shabat, está previsto que a comitiva israelita integre também os conselheiros militar e diplomático, bem como o embaixador de Israel em Portugal, Raphael Gamzou. Do lado português, António Costa será acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pelo seu chefe de gabinete, Francisco André, e pelo assessor diplomático Francisco Duarte Lopes.

MNE em silêncio

No encontro com Pompeo esta tarde, o Irão e o apoio dos EUA a Israel foram o foco do encontro, segundo admitiu o próprio Benjamin Netanyahu à saída de Telavive para Portugal. "No domingo falei com o presidente (norte-americano Donald) Trump. A conversa centrou-se principalmente no Irão. A continuação desta conversa com o secretário de Estado (Mike) Pompeo focar-se-á principalmente no Irão e em duas outras questões: a aliança defensiva com os EUA, que eu gostaria de desenvolver, e o futuro reconhecimento norte-americano da aplicação da soberania israelita no vale do Jordão. Estas são questões muito importantes", declarou o primeiro-ministro israelita em funções aos jornalistas no aeroporto Ben Gurion, segundo extratos divulgados pela sua assessoria de imprensa.

O primeiro-ministro israelita disse que se encontraria em Lisboa com António Costa, mas que o seu "principal objetivo" era "em primeiro lugar" encontrar-se "com o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo". Este é o primeiro encontro entre os dois responsáveis desde que a administração de Donald Trump anunciou, em meados de novembro, que os EUA deixam de considerar os colonatos israelitas na Cisjordânia contrários ao direito internacional, contrariando uma posição defendida pelo Departamento de Estado desde 1978.

Valentina Marcelino | Diário de Notícias

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