Com a morte do general iraniano
Qassim Soleimani, o presidente americano instiga um surto incontrolável de
violência e enfraquece as forças democráticas no Irão e na região, opina Rainer
Sollich.
Após a morte
do general iraniano Qassim Soleimani em Bagdade, durante um
ataque-surpresa dos Estados Unidos, todos os sinais apontam para uma escalada
da violência. A situação é altamente perigosa. Juras de vingança já foram
proferidas pelo regime em Teerão e seus aliados, e temem-se ações violentas. A
situação pode sair de controle rapidamente.
Aliados dos EUA, como Israel e
Arábia Saudita, mas também o Líbano e sobretudo o próprio Iraque, poderiam
eventualmente sofrer graves consequências. Desde atentados sangrentos contra
pessoas, lugares ou instituições, passando por ataques a petroleiros ou
oleodutos, até o disparo de mísseis contra aliados dos EUA – nada pode ser
seriamente descartado no momento, pois Teerão só pode ver a morte de Soleimani
como humilhação e uma declaração de guerra de fato. Por razões de política
interna, Teerão dificilmente pode se permitir deixar a morte sem resposta.
O Irão pode, mas não
necessariamente tem que agir militarmente. O país dispõe – especialmente devido
às atividades
militares e de inteligência bastante eficazes de Soleimani nos últimos
anos – de uma rede de tropas auxiliares altamente equipadas e em ótimo
funcionamento na região: das milícias pró-Irão no Iraque e na Síria, até o
Hisbolá libanês e os rebeldes houthis do Iémene, que há tempos confrontam
diretamente a rival do Irão Arábia Saudita, além de serem inimigos declarados de
Israel e dos EUA.
Com Soleimani, foi eliminado o
líder operacional da política iraniana de poder e expansão na região. E –
falando com neutralidade – é mais do que surpreendente o regime em Teerão não
ter sido capaz de proteger de tal ataque seu mais importante general no
exterior. Mas também no Médio Oriente ninguém é insubstituível, nem mesmo
Qassim Soleimani como chefe da famosa Força Quds: a rede de milícias leais ao
Irão criada por ele deve permanecer poderosa e perigosa, e já foi nomeado um
sucessor para o general morto.
Soleimani certamente tem mérito
militar na luta conta o grupo jihadista "Estado Islâmico" (EI) no
Iraque e na Síria. Mas ele foi fantoche de um regime que apoia o terror e a
mais brutal tirania. Não há razão para ter qualquer simpatia por um homem do
tipo. No entanto sua morte foi um erro político.
Com ela, Donald Trump, como
presidente dos EUA e comandante-chefe das Forças Armadas americanas, não só
deixa em perigo de guerra todo o Oriente Médio – região da qual ele, a rigor,
quer retirar seu país militarmente. Ele também arrisca um efeito de
solidariedade antiamericana na região.
E esse sentimento pode aniquilar
politicamente movimentos de protesto democráticos no Iraque, no Líbano e no
Irão, pois todos esses protestos também tiveram, direta ou indiretamente, o
regime em Teerão como alvo. Se isso se concretizar, justamente Trump teria
servido aos interesses de Teerão de forma direta.
Rainer Sollich | Deutsche Welle |
opinião
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