Conselho Nacional de Saúde Pública |
Miguel Guedes | Jornal de Notícias
| opinião
Fica então para segunda-feira
porque fechar as escolas a uma sexta-feira-13 pode dar azar. As escolas ainda
não fecharam mas a Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares anunciou o
encerramento do atendimento presencial.
As escolas não encerraram mas já
não há jogos nem treinos nos estádios de futebol. As escolas ainda não fecharam
mas muitos municípios já interditaram piscinas e pavilhões. As escolas não
fecharam mas muitas universidades e politécnicos já suspenderam as aulas. As
escolas ainda não encerraram mas já há autarquias que classificam as suas
praias como proibidas. As escolas não fecharam mas as faculdades de medicina
pedem uma quarentena como na China porque "é preciso agir já". As
escolas ainda não encerraram mas eventos culturais foram cancelados e
equipamentos culturais interditos. As escolas não fecharam mas muitos bares e
espaços de lazer já trancaram as portas. As escolas ainda não encerraram mas já
temos o presidente da República em quarentena depois de distribuir beijos e
abraços em plena crise Covid-19. Não é fácil de entender. As autarquias, as
entidades locais e as organizações privadas estão a fazer a sua parte. Só o
poder central continuava a achar que esta situação era sustentável. O país
real, esse, já acordou.
As escolas encerrarão na
segunda-feira para salvaguarda da nossa saúde e dos nossos filhos mas,
incompreensivelmente, demasiado tarde. Ou talvez tarde demais. Mas não nos
equivoquemos. Tenhamos o maior respeito pela dedicação, responsabilidade e
competência daqueles que, nesta altura, têm que tomar opções difíceis e decidir
sobre a forma como nos organizamos em sociedade no combate a algo que nunca
havíamos experienciado ou antecipado. Mas o privilégio de termos sido o último
país do ocidente europeu a ser atingido pelo coronavírus e o conhecimento de
muitas realidades comparadas em países antes afectados, devia-nos ter informado
de maior bom senso. Bom senso, coisa simples a exercitar quando se lida com um
mundo a ser vivido em apalpação e ligado a ventiladores.
Ainda está por medir a dimensão
do desafio de roleta que levou o Governo a esperar pela declaração de pandemia
pela Organização Mundial de Saúde para finalmente encerrar as escolas. Se a
intenção era a de evitar uma bola de neve de histeria, criou-se uma tempestade
de desconfiança à custa do Conselho Nacional de Saúde Pública. Desnecessário.
Se há vida para além do vírus, façam a vossa parte.
Autor escreve segundo a antiga
ortografia
*Músico e jurista
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