quinta-feira, 9 de abril de 2020

MEDO E ABSURDO POLÍTICO FACE À PANDEMIA


Thierry Meyssan*

Cada grande epidemia altera o curso da história, não forçosamente por aniquilar as populações, mas provocando revoltas e mudanças de regimes políticos. Sob o efeito do pânico, somos incapazes de reflectir e comporta-mo-nos colectivamente de maneira irracional. Muitas sociedades não conseguiram sobreviver às decisões estúpidas que então tomaram.

Durante a História, as grandes epidemias que arrasaram as economias nacionais foram quase todas seguidas por muitos derrubes de governos. A do Covid-19 não deverá constituir excepção a esta regra, independentemente do número de mortes que possa ocasionar. É por isso que, um pouco por todo o lado no mundo, os dirigentes políticos tomam decisões que sabem ser inúteis apenas para mostrar aos seus concidadãos que fizeram tudo aquilo que estava ao seu alcance.

A psicologia social mostra que o medo não é proporcional ao perigo, mas sim ao facto de não se poder nem avaliá-lo, nem controlá-lo.

Quando sobrevêm uma doença desconhecida, a qual não sabe quantas pessoas matará, a Ciência tenta conhecê-la pondo tudo em questão. Os responsáveis políticos, esses, têm que tomar decisões sem saber mais do que cientistas. Alguns rodeiam-se pois de personalidades que tendo feito progredir a Ciência no passado, agora nomeiam de «especialistas» do que ainda não conhecem, e utilizam-nas para propangandear tudo de bom que pensam sobre a sua política. Para eles, o objectivo não é salvar vidas, mas, sim agir para garantir o seu Poder.


Confinamentos

Os média (mídia-br) tentam convencer os seus concidadãos que o seu próprio Executivo tomou as mesmas medidas que os demais e não deveria, portanto, ser acusado de negligência. Eles obscurecem o debate afirmando, falsamente, que 3 mil milhões (bilhões-br) de humanos são confinados simultaneamente por razões médicas. É misturar situações muito diferentes e mentir sobre os seus objectivos.

O termo «confinamento» é hoje em dia utilizado também para designar:

»»Uma quarentena. Quer dizer, a encerramento pela alfândega num local arejado, geralmente um barco, pelo tempo necessário a que estejam seguros de não permitir a entrada no país de fontes de doença. A invenção desta medida remonta ao Duque de Milão, em 1374. Foi o que o Japão fez em Fevereiro com o paquete Diamond Princess.

»»Um cordão sanitário. É o isolamento de uma região vizinha doente ou de um grupo de população doente a fim de que não transmita a doença ao resto da população. Arriscando, então, as pessoas sãs a serem infectadas pelos doentes. No século XVII, a Itália e a Espanha colocaram em isolamento pelo exército grupos de população doente, com ordens de atirar à vista se os indivíduos tentassem sair. Foi o que a China fez com a população de Hubei.

»»O confinamento de pessoas em risco. É a designação de uma categoria de cidadãos como potencialmente doente e a sua interdição de se encontrar com o resto da população para que ela não possa ser infectada, nem infectar os outros. Foi o que fez a França, por exemplo, ao interditar a entrada nas instituições para pessoas idosas, e aos aí residentes de sair lá.

»»Colocação de toda uma população nas residências sem distinção. Essa medida não foi requerida pelos médicos infecciologistas, mas pelos epidemiologistas estatísticos a fim de não saturar os hospitais com um afluxo maciço de doentes num curto prazo. Ela não tem precedentes históricos.

As medidas destinadas a impedir uma doença de infectar um território só às vezes obtiveram resultados, como em 1919 nas ilhas Samoa norte-americanas que se protegeram eficazmente da gripe espanhola que devastou as Samoa neozelandesas. No entanto, fechar uma fronteira não tem qualquer interesse quando a doença já está presente.

Pelo contrário, medidas visando abrandar uma epidemia jamais conseguiram fazer baixar a taxa de mortalidade. Pior, ao diferir a propagação da doença no tempo, elas tornam a população vulnerável a uma segunda, depois a uma terceira vaga de contaminação, até a disponibilização em massa de uma vacina a qual requer pelo menos 18 meses de preparação. Enquanto as populações que recusam ser colocadas em permanência domiciliar adquirem, progressivamente, uma imunidade de grupo que as protege durante as novas vagas de contaminação. Contrariamente ao discurso dominante, as formas actuais de confinamento são, pois, susceptíveis de aumentar consideravelmente o número de mortes a longo prazo. Na medida em que alguns países não utilizam estas medidas, tais como a Coreia do Sul ou a Suécia, será possível comparar os resultados quando surgirem novas ondas de contaminação. A política hipercautelosa de alguns dirigentes políticos arrisca então voltar-se contra eles.

Queda da civilização

Não é possível vivermos juntos se tivermos medo uns dos outros. A civilização não pode ser baseada na desconfiança. Não é pois humanamente aceitável, por exemplo, proibir o acompanhamento de doentes no leito de morte. Não podemos aceitar sermos privados da nossa liberdade sem uma razão válida.

A Convenção Europeia dos Direitos do Homem, de 4 de Novembro de 1950, que foi subscrita por todos os Estados do continente europeu, do Reino Unido à Rússia, autoriza «a detenção legal de uma pessoa susceptível de propagar uma doença contagiosa» (artigo 5e), mas não controlar o afluxo de pacientes aos hospitais.

Os Tratados da União Europeia elevam ainda mais a fasquia ao afirmar que o «direito de circulação de pessoas» é inerente à identidade da UE. De facto, vários Estados membros colocaram-se à margem desta regra fundamental, iniciando a desintegração do Estado supranacional.

Alguns governos optaram por transformar cidadãos em inimigos. Ao fazê-lo, eles privam o Estado de legitimidade a seus olhos, uma vez que este se torna assim seu inimigo.

Na França, o Chefe da polícia de Paris, Didier Lallement, declarou que as pessoas que hoje estão em terapia intensiva foram aquelas que ontem violaram as ordens de confinamento.

Agora mesmo, num outro continente, o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, ordenou à sua polícia para «atirar a matar» contra qualquer cidadão que tentasse violar as regras de confinamento antes de acabar por reconsiderar.

Se todos estão cientes do custo económico exorbitante da política actual, e se todos descobrem o seu impacto psicológico destrutivo sobre os espíritos fracos, poucas pessoas têm consciência da factura política que está para vir.

Medidas placebo

Ignorando tudo sobre a nova doença, as autoridades médicas e políticas preconizam, na realidade, medidas placebo para manter o moral dos seus concidadãos.

No século XVII, os médicos da peste usavam uma espécie de combinação de linho, couro, ou lona encerada, e uma máscara com nariz comprido que lhes permitia respirar através de várias fumigações de menta, cânfora etc. Inventado pelo médico do Rei da França, espalhou-se por toda a Europa. Hoje, alguns usam igualmente combinações de plástico ou de borracha com máscaras cirúrgicas contra o coronavírus. O uso destas máscaras começou para o público durante a epidemia da “gripe espanhola”, em 1918, no Japão. Restauraram a confiança da população vestindo-a como os cirurgiões ocidentais. Impôs-se, assim, progressivamente na Ásia e espalhou-se para o resto do mundo por ocasião da epidemia de 2020 do Covid-19. No entanto, nunca a eficácia do traje dos médicos da peste, tanto como a do conjunto de roupas cirúrgicas e máscaras para todos, pode ser comprovada contra uma epidemia.

Pouco importa, ao recomendar o uso de roupas de cirurgião para protecção da doença as autoridades médicas chinesas, depois os dirigentes políticos do mundo inteiro, propõem uma solução para um problema que ninguém pode actualmente resolver. O essencial é agir, não prevenir e menos ainda tratar.

Thierry Meyssan | Voltairenet.org | Tradução Alva

Na imagem: As ruas vazias de Nova Iorque cujos habitantes estão confinados à residência.

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

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