Pedro Ivo Carvalho |
Jornal de Notícias | opinião
A nova normalidade que, dia sim,
dia não, vemos esculpida nos discursos políticos não tem nada de novo nem tem
nada de normal.
Os tempos que se seguirão ao fim
do estado de emergência serão de velha anormalidade. Não nos deixemos, por
isso, encantar com o perfume inebriante de um desconfinamento que não pode ser
libertário nem irresponsável. Porque este fim é, na verdade, um recomeço. Desde
logo de um Estado que será obrigado a correr uma maratona em pista dupla.
Evitando, por um lado, o colapso de um Serviço Nacional de Saúde que poderá ser
confrontado com novas vagas de contágio em virtude de um previsível aumento de
infetados e internados resultado da mitigação das restrições; e que,
cumulativamente, terá de recuperar o tempo perdido para os muitos portugueses
que ficaram para trás, privados de consultas, exames e cirurgias.
Mas este é também um recomeço, um
reatar, do nosso compromisso pessoal, do muito que se exige a cada um de nós
nesta fase determinante do combate à pandemia. A lei pode tolher-nos mais ou
menos os movimentos, mas a evolução favorável desta velha anormalidade está nas
nossas mãos. Serve-se da fibra da cidadania. Com vírus ou sem ele, a
responsabilidade coletiva alimenta-se sempre das nossas obrigações individuais.
Sejamos, pois, solidários no
cumprimento escrupuloso das regras e das bizarrias de outrora que agora se
tornarão rotinas. Saibamos entender, neste contexto, a necessidade urgente de
cidadãos e empresas regressarem ao trabalho. E não nos transformemos em
delatores informais do comportamento dos outros. O pior que nos podia acontecer
era começarmos a andar de costas voltadas no exato momento em que vamos passar
a cruzar-nos mais vezes na rua. O esforço inicial foi de todos. O mérito final
tem de ser de todos. O fim é um princípio.
*Diretor-adjunto
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