quarta-feira, 29 de abril de 2020

Portugal da fraude | Dispara venda de máscaras com certificação falsa e sem proteção


"Não há nenhuma máscara certificada que resista a 25 lavagens, muito menos a 50 e ainda menos a 90", garante Braz Costa, diretor-geral do Citeve.

Prometem máscaras com cores, feitios e dezenas ou centenas de lavagens com certificação. No entanto, uma grande parte das empresas que vendem máscaras reutilizáveis na Internet e em algumas lojas de retalho nunca pediram testes de produtos ao Citeve, o único centro tecnológico têxtil com protocolo com o Infarmed e DGS para certificar.

Uma rápida pesquisa no Google ou Facebook permite encontrar dezenas de vendedores que asseguram estar certificados pelo centro tecnológico ou que vendem máscaras reutilizáveis várias vezes.

A "Safe Máscaras Reutilizáveis", por exemplo, promete "enorme resistência e durabilidade" em "mais de 100 lavagens". O problema é que o Citeve ainda não certificou máscaras que sejam reutilizáveis mais de cinco vezes. O JN confrontou a empresa, mas não obteve qualquer resposta.

Para Braz Costa, produtos com mais lavagens "podem não cumprir parâmetros fundamentais para que a proteção possa acontecer", uma vez que não foram testados.

Há ainda outras empresas que asseguram ter máscara "lavável até 50 vezes e certificada", como a Hospivida. No Facebook, a empresa refere que o produto é certificado "pelo Citeve". Contudo, o centro só terá certificado as propriedades antibacterianas do tecido, o que não garante a fiabilidade da máscara como um todo, pois ficam por analisar outros aspetos como a filtragem de partículas e a respirabilidade, por exemplo.


SÓ TECIDO NÃO BASTA

"A proteção não vai resistir a 50 lavagens", assegura Braz Costa, que revela que o uso da certificação do tecido como se fosse da máscara toda é o logro mais comum: "Já detetámos várias situações e entramos em contacto com as empresas para resolverem o problema".

Há ainda entidades públicas que caem no engano. A Junta de Freguesia de Santa Maria Maior ofereceu, no dia 22, máscaras que dizia estarem "certificadas para 75 lavagens". O logro foi denunciado pelo "Sexta às 9", da RTP, e desde então a junta passou a anunciar que é o tecido que está certificado. Ou seja, a máscara não garante proteção contra as partículas de Covid-19. Ao JN, o presidente da Junta, Miguel Coelho, não quis falar sobre o assunto.

Entretanto, a ASAE tem multiplicado as ações de fiscalização junto de vendedores não certificados. Quem quiser vender deve "dar cumprimento aos normativos legais e à legislação aplicável", sob pena "de estar a ser desenvolvida uma atividade ilegal", refere aquela autoridade ao JN, que está a compilar o número de contraordenações e processos-crime já instaurados por venda irregular ou ilegal de equipamentos de proteção.

Delfim Machado | Jornal de Notícias

Na imagem: Câmara da Póvoa de Lanhoso distribuiu à população 12 mil máscaras que levaram o selo do Citeve sem estarem certificadas

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