Daniel Oliveira | TSF
| opinião
Daniel Oliveira aproveitou o
espaço de opinião que ocupa na TSF à terça-feira para deixar vários
agradecimentos (irónicos) ao Pingo Doce, pelas medidas adotadas pela empresa em
tempo de pandemia da Covid-19.
"Há uma empresa a quem eu
tenho de agradecer acima de todas as outras que é o Pingo Doce. Para este
agradecimento, devo confessar, faltam-me quase adjetivos", ironiza.
O primeiro agradecimento vai para
o facto de o Pingo Doce ter oferecido bens alimentares aos hospitais
portugueses, sublinhando que o Serviço Nacional de Saúde não necessitaria deste
tipo de apoio "se não tivesse havido tantos cortes, como nós acompanhámos
ao longo dos anos, no investimento do SNS".
Mas o que é que o investimento no
SNS tem que ver com o Pingo Doce? Daniel Oliveira explica: "Haveria mais
recursos se empresas como o Pingo Doce, por exemplo, não tivessem a sua sede
social na Holanda, para poderem pagar menos impostos. Se os pagassem cá, como
eu, seguramente não faltariam recursos ao Serviço Nacional Saúde."
“Todos ficamos a ganhar por o
Pingo Doce ser fiel ao seu lema 'sabe bem pagar tão pouco': pagar tão pouco ao
Estado, aos trabalhadores e aos senhorios.”
"Felizmente, o Pingo Doce
poupou, não gastou dinheiro a pagar impostos e, agora, pode dar fruta e leite
aos servidores do Estado e não precisa de os dar aos médicos holandeses porque
esses não dependem da caridade, têm os impostos do Pingo Doce", continua.
O segundo agradecimento (ou a
segunda crítica, entenda-se) vai para o facto de o Pingo Doce não ter aumentado
salários, mas ter oferecido um prémio de 500€ aos seus trabalhadores, ou seja,
"o mesmo que o Pingo Doce fez ao Estado fez aos trabalhadores."
"Tenho a certeza de que os
trabalhadores do Pingo Doce não desdenham estes 500€. Como ganham, em geral,
pouco faz-lhes até bastante falta e isto é melhor do que o que Pingo Doce fez
em 2012, em que, em vez de aumentar salários, criou um plano de emergência
social para colaboradores que viviam em necessidade extrema (talvez vivessem em
necessidade extrema, porque os salários não os permitiam viver melhor)",
sustenta.
Por fim, Daniel Oliveira agradece
ironicamente o facto de o Pingo Doce ter pedido aos senhorios para baixar as
rendas dos seus estabelecimentos "apesar de não viver dificuldades que se
saiba, de não estar em risco de ter prejuízos, até porque está com as portas
abertas e as pessoas continuam a comprar lá o que necessitam", ou seja, na
visão do comentador, "aproveitou este momento de crise para tentar reduzir
um pouco mais os custos, como costuma, aliás, fazer com os fornecedores e os
fornecedores sabem bem do que estou a falar".
"Mais uma vez tenho de agradecer
porque, apesar de o Pingo Doce estar bem, pensou em todos os inquilinos que
estão mal e representou-os nesta pressão sobre os senhorios para baixar as
rendas", ridiculariza.
Daniel Oliveira conclui que
"com estes três gestos 'altruístas' todos ficamos a ganhar por o Pingo
Doce ser fiel ao seu lema 'sabe bem pagar tão pouco': pagar tão pouco ao
Estado, pagar tão pouco aos trabalhadores e pagar tão pouco aos senhorios."
*Texto de Sara Beatriz Monteiro
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