quarta-feira, 15 de abril de 2020

Portugal | Pingo Doce: "Sabe bem pagar tão pouco"


Daniel Oliveira | TSF | opinião

Daniel Oliveira aproveitou o espaço de opinião que ocupa na TSF à terça-feira para deixar vários agradecimentos (irónicos) ao Pingo Doce, pelas medidas adotadas pela empresa em tempo de pandemia da Covid-19.

"Há uma empresa a quem eu tenho de agradecer acima de todas as outras que é o Pingo Doce. Para este agradecimento, devo confessar, faltam-me quase adjetivos", ironiza.

O primeiro agradecimento vai para o facto de o Pingo Doce ter oferecido bens alimentares aos hospitais portugueses, sublinhando que o Serviço Nacional de Saúde não necessitaria deste tipo de apoio "se não tivesse havido tantos cortes, como nós acompanhámos ao longo dos anos, no investimento do SNS".

Mas o que é que o investimento no SNS tem que ver com o Pingo Doce? Daniel Oliveira explica: "Haveria mais recursos se empresas como o Pingo Doce, por exemplo, não tivessem a sua sede social na Holanda, para poderem pagar menos impostos. Se os pagassem cá, como eu, seguramente não faltariam recursos ao Serviço Nacional Saúde."

“Todos ficamos a ganhar por o Pingo Doce ser fiel ao seu lema 'sabe bem pagar tão pouco': pagar tão pouco ao Estado, aos trabalhadores e aos senhorios.”

"Felizmente, o Pingo Doce poupou, não gastou dinheiro a pagar impostos e, agora, pode dar fruta e leite aos servidores do Estado e não precisa de os dar aos médicos holandeses porque esses não dependem da caridade, têm os impostos do Pingo Doce", continua.


O segundo agradecimento (ou a segunda crítica, entenda-se) vai para o facto de o Pingo Doce não ter aumentado salários, mas ter oferecido um prémio de 500€ aos seus trabalhadores, ou seja, "o mesmo que o Pingo Doce fez ao Estado fez aos trabalhadores."

"Tenho a certeza de que os trabalhadores do Pingo Doce não desdenham estes 500€. Como ganham, em geral, pouco faz-lhes até bastante falta e isto é melhor do que o que Pingo Doce fez em 2012, em que, em vez de aumentar salários, criou um plano de emergência social para colaboradores que viviam em necessidade extrema (talvez vivessem em necessidade extrema, porque os salários não os permitiam viver melhor)", sustenta.

Por fim, Daniel Oliveira agradece ironicamente o facto de o Pingo Doce ter pedido aos senhorios para baixar as rendas dos seus estabelecimentos "apesar de não viver dificuldades que se saiba, de não estar em risco de ter prejuízos, até porque está com as portas abertas e as pessoas continuam a comprar lá o que necessitam", ou seja, na visão do comentador, "aproveitou este momento de crise para tentar reduzir um pouco mais os custos, como costuma, aliás, fazer com os fornecedores e os fornecedores sabem bem do que estou a falar".

"Mais uma vez tenho de agradecer porque, apesar de o Pingo Doce estar bem, pensou em todos os inquilinos que estão mal e representou-os nesta pressão sobre os senhorios para baixar as rendas", ridiculariza.

Daniel Oliveira conclui que "com estes três gestos 'altruístas' todos ficamos a ganhar por o Pingo Doce ser fiel ao seu lema 'sabe bem pagar tão pouco': pagar tão pouco ao Estado, pagar tão pouco aos trabalhadores e pagar tão pouco aos senhorios."

*Texto de Sara Beatriz Monteiro

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