Sondagem da Pitagórica para o JN
e a TSF projeta um resultado de 44,8% e deixa os socialistas ainda mais longe
do PSD (24,1%). O Chega está em queda (6,4%) mas rouba o terceiro lugar ao
Bloco (6,1%).
Os passos trocados de António
Costa e Mário Centeno não resultaram no trambolhão que se poderia esperar. Bem
pelo contrário. Segundo a mais recente sondagem da Pitagórica para o JN e a
TSF, o PS está no limiar de uma maioria absoluta (44,8%) e cada vez mais longe
do PSD, que até recupera (24,1%). Outro dado assinalável é que o Chega, mesmo
em queda, consegue passar para terceiro (6,4%), ultrapassando o BE (6,1%). A
CDU melhora e entra na luta pelo pódio (5,8%). Seguem-se o PAN, em recuperação
(3,3%), o CDS, que estanca as perdas (2,8%), e a Iniciativa Liberal, em baixa
(1,6%).
O país político e mediático
entusiasmou-se, em maio, com a novela à volta do pagamento de 850 milhões de
euros ao Novo Banco; com a evidente falta de sintonia entre o primeiro-ministro
e seu ministro das Finanças; e ainda mais quando o presidente da República
consolou Costa e vergastou Centeno. As elites partidárias e jornalísticas
entusiasmaram-se, o país real, aparentemente, não. Pelo menos a julgar pelos
resultados da última sondagem da Pitagórica, cujos inquéritos foram recolhidos
entre 16 e 24 de maio, já depois da conclusão dos episódios.
PS BATE RECORDE
O PSD de Rui Rio, que pediu a
demissão do ministro das Finanças, até sobe um ponto percentual entre os
barómetros de abril e maio (para 24,1%), mas o PS de António Costa, que recusou
demitir Mário Centeno, sobe três pontos (para 44,8%). É o valor mais alto desde
que se iniciaram estes barómetros para o JN, em abril do ano passado.
Um resultado que deixaria os
socialistas, se estivéssemos em tempo de eleições, a roçar a maioria absoluta.
Recorde-se que António Guterres conseguiu 44% (menos 8 décimas) em 1999 e ficou
a um deputado do controlo do Parlamento; mas que José Sócrates marcou 45% (mais
duas décimas) em 2005, conseguindo a única maioria socialista em 46 anos de
democracia.
O fosso entre os dois maiores
partidos continua por isso a alargar-se: nas legislativas de outubro passado
foi de cerca de nove pontos percentuais e, de acordo com a projeção atual, já
ultrapassaria os 20 pontos, em favor do PS.
Mas o atual clima de paz social
entre os dois maiores partidos (o drama com Centeno foi a exceção) também
autoriza a leitura de que o chamado "bloco central" ganha dimensão: a
soma de socialistas e sociais-democratas nas legislativas de 2019 dava 64
pontos percentuais, e está agora em quase 70 pontos. Esse ressurgimento do
"centrão" fica mais evidente quando se percebe que a maioria dos
outros partidos (com a notável exceção do Chega) valem menos do que em outubro
passado.
ESQUERDA AMARGA
Destacam-se em particular os
partidos à Esquerda do PS. Bloquistas e comunistas somaram, nas últimas
legislativas, cerca de 16 pontos; hoje valem 12 (menos quatro pontos). Nos
barómetros de março e abril, o BE mostrava maior capacidade de resistência, mas
os resultados de maio são piores, aproximando-o da CDU (estão separados por
três décimas). Parece ser evidente que o PS canibaliza o eleitorado dos seus
antigos parceiros.
É diferente o cenário à Direita.
O valor conjunto de Chega, CDS, Iniciativa Liberal e Aliança é de 11 pontos:
menos dois do que há um mês, mas mais três do que nas eleições de outubro
passado. Ao contrário do PS, o PSD está a perder para os seus rivais mais
pequenos. Se a projeção de resultados para Rui Rio se confirmasse em eleições,
seria o pior resultado de sempre dos sociais-democratas (Sá Carneiro marcou
24,3% em 1976).
CHEGA AINDA SOMA
Quando se comparam os resultados
das legislativas de 2019 com a projeção atual, há apenas dois partidos com
razão para celebrar: os socialistas, porque estão no limiar de uma maioria
absoluta, e os radicais de direita do Chega, agora em terceiro lugar.
Mesmo tendo em conta que a
formação de André Ventura está em queda desde março (já perdeu quase dois
pontos percentuais), o que é verdadeiramente importante é que soma mais cinco
pontos do que em outubro passado.
São sondagens e não resultados
reais, é certo. Mas revelam tendências. Acresce que o Chega mantém-se estável
em Lisboa, ou seja, no maior círculo eleitoral do país.
21%
Tal como em março e abril, o PS
está à frente do PSD em todos os segmentos (excluindo a faixa dos 45/54 anos,
com um empate). Essa diferença é maior entre as mulheres (mais 21 pontos para
os socialistas) do que entre os homens (mais 13 pontos)
29,9%
A região Norte continua a ser o
melhor bastião dos sociais-democratas (29,9%), ainda que estejam abaixo dos
socialistas (33,2%). No Grande Porto o caso muda de figura: o PS tem uma vantagem
de quase 26 pontos relativamente ao PSD.
16,2%
O número de indecisos continua em
queda: são agora 16,2%, com destaque para os homens (16,9%), os que têm entre
18 e 24 anos (25%) e os que residem no Grande Porto (23,5%).
21,4%
Os portugueses que votaram no
Bloco de Esquerda continuam a revelar-se menos féis, numa tendência que
permanece constante há três meses e que ajuda a explicar os maus resultados: ao
todo, 21,4% estão agora indecisos.
Rafael Barbosa | Jornal de Notícias | Imagem: José
Sena Goulão / EPA
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