Contra o racismo nos EUA
'Tirem seus joelhos de nossos
pescoços', disse religioso na primeira cerimónia com o corpo de George Floyd.
Com atos mais tranquilos, Washington e Los Angeles retiram toque de recolher.
Os Estados Unidos entraram
na quinta-feira (4) na 10ª jornada de manifestações contra o racismo,
em dia marcado pelo primeiro funeral do ex-segurança George Floyd,
morto durante ação policial em Minneapolis.
Na cerimónia, o reverendo Al
Sharpton pediu fim da violência policial contra a população negra, mencionando
o policia ajoelhado sobre o pescoço de George Floyd — o
que, indicam perícias, causou
a morte do ex-segurança. O gesto tornou-se um símbolo
dos protestos.
"Tirem seus joelhos de
nossos pescoços!" — Al Sharpton, reverendo.
Após uma noite mais pacífica do
que as anteriores, autoridades de diversas cidades norte-americanas começaram a retirar
os toques de recolher impostos para conter os tumultos.
Governadores de cidades que tiveram
grandes manifestações com milhares de pessoas, Bill de Blasio, em Nova York,
e Keisha Lance Bottoms, em Atlanta, pediram que aqueles que estiveram nos
atos dos últimos dias procurem locais para fazer testes de coronavírus, já que
as aglomerações podem ter contribuído para a disseminação do vírus.
Resumo do 10º dia de protestos
nos EUA
- Parentes, amigos, celebridades e
políticos homenagearam George Floyd no primeiro dos funerais do
ex-segurança. O prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, ajoelhou-se diante do
caixão.
- Após noite sem prisões e com protestos
pacíficos, a capital Washington não terá toque de recolher nesta
quinta. Entretanto, militares da Guarda Nacional continuam na cidade — o que
gerou protestos da governadora Muriel Bowser. Mas uma forte chuva acabou
dispersando cedo muitos dos manifestantes.
- Da mesma forma, o xerife de Los
Angeles, Alex Villanueva, determinou o fim do cumprimento do toque de
recolher na cidade. Segundo o jornal "Los Angeles Times", ele
justificou a decisão "com base nos padrões pacíficos dos protestos mais
recentes".
- Já em Nova York, a polícia
continuou detendo pessoas que não respeitaram o toque de recolher a partir das
20 horas.
- Três dos ex-policiais acusados de
participação na morte de Floyd compareceram a um tribunal pela
primeira vez desde o início do caso. O juiz arbitrou fiança
de US$ 1 milhão para eles.
- Os protestos continuaram
pelo mundo: houve registo de atos na França, no Reino Unido e na Áustria.
- Pelas redes sociais, o
vice-presidente dos EUA, Mike Pence, ofereceu
condolências à família e aos amigos de Floyd. "Sua morte foi uma
tragédia e, como o presidente Donald Trump disse
à nação, justiça será feita", escreveu.
- O artista Kanye West anunciou
que vai
arcar com os estudos da filha de Floyd e que vai doar US$ 2 milhões a
famílias de vítimas de violência policial nos EUA. Ele também participou de uma
manifesyação em Chicago.
- Grupos de direitos civis processaram
Trump pela repressão a manifestantes perto da Casa Branca momentos
antes de o presidente se deslocar a uma igreja, o que gerou críticas de
religiosos.
Funeral em Minneapolis
Familiares e amigos de George Floyd organizam
nesta quinta-feira (4), em Minneapolis, o primeiro funeral do ex-segurança,
morto em maio durante uma ação policial — caso que gerou onda de protestos
contra o racismo nos Estados Unidos e
no mundo.
De acordo com a emissora
norte-americana CBS, o corpo de Floyd será levado ainda a outras duas cidades
para outras cerimónias: Raeford, na Carolina do Norte, cidade natal do
ex-segurança; e Houston, onde ele foi criado. A última homenagem está marcada
para terça-feira.
A cerimónia em Minneapolis teve a
presença do ativista Martin Luther King III, último filho vivo de Martin Luther
King Jr., que lutou pelos direitos civis da população negra dos EUA em meados
do século 20. Políticos como a senadora Amy Klobuchar, ex-pré-candidata à
presidência dos EUA, também participaram no ato.
O governador de Minneapolis, Jacob
Frey, também esteve no funeral e ajoelhou-se diante do caixão de
George Floyd. Os rappers T.I. e Tyrese Gibson participaram da cerimónia.
Philonise Floyd, um dos irmãos do
ex-segurança, afirmou na cerimónia que George era muito querido e "um
homem poderoso".
O reverendo Al Sharpton,
religioso que conduziu a cerimónia, disse que os Estados Unidos nunca foram
grande para os negros — parafraseando o slogan "Make America Great
Again", do presidente Donald Trump.
"Grande para quem? Nós vamos
fazer a América grande para todos pela primeira vez. Nunca foi grande para
negros, nunca foi grande para latinos", afirmou.
Fiança de US$ 1 milhão
Um juiz estabeleceu a fiança de
US$ 1 milhão nesta quinta-feira (4) para três dos ex-policias de Minneapolis acusados
de cumplicidade na morte de George Floyd. O outro ex-policia, Derek
Chauvin — flagrado com o joelho sobre o pescoço do ex-segurança, deverá
comparecer no tribunal na segunda-feira.
A fiança para os três acusados,
que fizeram a sua primeira aparição no tribunal nesta quinta-feira, seria baixada
para US$ 750 mil se eles concordassem com certas condições, inclusive abrir mão
de quaisquer armas de fogo pessoais. O juiz Paul Scoggin estabeleceu que os
homens devem aparecer no tribunal novamente em 29 de junho.
Thomas Lane, J. Alexander Kueng e
Tou Thao foram acusados na quarta-feira de ajuda e cumplicidade em assassinato
de segundo grau e de ajuda e cumplicidade em homicídio culposo. Eles poderão
enfrentar até 40 anos de prisão se condenados.
Caso George Floyd
George Floyd morreu em 25 de maio
após ser filmado com o pescoço prensado pelo joelho de um policial branco em Minneapolis. O
ex-segurança, que era negro, foi alvo da operação policial por supostamente
tentar pagar uma conta em uma mercearia com nota falsa de US$ 20, segundo a
imprensa norte-americana.
Uma primeira perícia, oficial,
não indicou evidências de que Floyd morreu por asfixia. Entretanto, outras duas
autópsias indicaram que, sim, o ex-segurança
foi morto por sufocamento.
O laudo da autópsia realizada
pelo condado de Hennepin, divulgado à imprensa na quarta-feira, informa ainda
que Floyd tinha presença de coronavírus no organismo quando morreu. O ex-segurança
havia sido diagnosticado com Covid-19 no início de abril.
- em G1
Imagens:
1 - Manifestante com bandeira dos
EUA que tem a inscrição 'Não consigo respirar' participa de protesto em Nova York contra o
racismo nesta quinta-feira (4) — Foto: John Minchillo/AP Photo
2 - A partir da esquerda, J.
Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, três dos ex-policiais acusados pela
morte de George Floyd, em foto de 3 de junho — Foto: Hennepin County Sheriff's
Office via AP
3 - Manifestantes se deitam em
rua em Pittsburgh, nos EUA, nesta quinta-feira (4), 10º dia de protestos contra
o racismo após a morte de George Floyd — Foto: Matt Freed/Pittsburgh
Post-Gazette via AP
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