Na província do Bengo, após
protesto contra a falta de água, quatro ativistas foram condenados por
desobediência às autoridades. Agora, não têm dinheiro para pagar a pena
convertida em multa e aguardam por ajuda.
Tudo começou quando os ativistas
tentaram realizar um conjunto de protestos contra a falta de água na província
do Bengo, vizinha de Luanda, a capital angolana, na última quarta-feira
(05.08).
Em entrevista à DW África, Jaime
Domingos, um dos jovens, relata que no tribunal do Dande, onde foram julgados,
"não havia água potável durante esse tempo todo".
"Na esquadra ou no comando
onde a gente estava detido não tinha água. Desde o momento em que a gente
protestou, a água começou a jorrar", explica.
Durante os protestos houve o uso
da força por parte da polícia para reprimir a manifestação. E "Jaime
MC", como é conhecido nas lides musicais, foi atropelado por uma viatura
policial, tendo sido levado ao hospital. Mas foi detido depois do que chama de
"pequena assistência".
A polícia alega que os
manifestantes recusaram-se a acatar a ordem de dispersão da manifestação que
supostamente não tinha sido autorizada.
Ao todo foram quatro os ativistas
acusados de desobediência: Domingos Fernando Gomes Periquito, Jaime Domingos,
José Gomes Hata e António Manuel Lima.
Versões diferentes
Na quinta-feira (06.08), a juíza
da causa suspendeu a sessão por alegada falta de provas. Mas o ativista, Jaime
Domingos, tem uma versão diferente:
"Na sexta-feira, a partir
das 12 horas, fomos julgados. A primeira sessão do julgamento terminou às 18
horas e a juíza tinha pedido trinta minutos para poder ditar a sentença. Mas só
voltou às 23 horas dando sinal de que houve ordens superiores e fomos condenados
a um mês de pena suspensa convertido em multa", acusa.
Multa por pagar
Agora, os ativistas não têm
dinheiro para pagar a multa de 57 mil kwanzas (cerca de 85 euros). A ONG
Observatório Social garantiu que vai pagar as custas judiciais, conta Jaime
Domingos.
"Estamos à espera daquilo
que, se calhar, pessoas de boa-fé conseguirão para ajudar a pagar (a
multa)".
Apesar da repressão da
manifestação e da sua condenação, o também músico de intervenção social,
garante que os protestos na província do Bengo vão continuar. "O revú
[revolucionário] não se rende nem se vende. A luta tem que continuar. O revú
luta, vence ou morre".
Governo contra manifestações?
A ONG Friends of Angola, sedeada
nos Estados Unidos da América, foi uma das vozes que condenaram a repressão.
Rafael Morais é o coordenador em Angola.
"O Governo angolano é
alérgico a manifestações. Existe sempre estes elementos que ele utiliza para
reprimir achando que talvez as pessoas tenham medo para não protestar, para não
reivindicar aqueles que são os seus direitos", interpreta.
Para a inversão do quadro, o
ativista apela à instauração de processos judicias contra os agentes da polícia
que violarem os direitos dos cidadãos. "É chegada a hora de a sociedade
civil angolana começar a processar esses elementos que fazem parte da segurança
pública sempre que agridem os cidadãos que estão legalmente protegidos pela
Constituição", opina Rafael Morais.
Manuel Luamba | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário