#Publicado em português do Brasil
Tarso Genro*
Joe Biden e Kamala Harris
arremeteram duramente, com discursos de fogo de barragem, contra Bolsonaro nas
eleições americanas. Isso ocorreu no momento em que se fechava aqui o grande
acordo de “salvação nacional” ultraliberal comandado pelo Presidente da Câmara,
cuja base política mais sólida é representada pelo “centrão. Retirado da
clandestinidade midiática e apartado da repulsa do Presidente da República, o
centrão festejou, mas apareceram Joe Biden e Kamala Harris para atrapalhar.
Ambos representam, nas eleições americanas, o campo de resistência aos métodos
mais fascistas que estão se avolumando no cenário mundial, cujo nacionalismo
delirante e frequentemente racista, prejudica o retorno da idílica liderança
democrática dos EEUU, na cena mundial. Esta liderança, se nunca existiu por
motivos nobres no concreto da História, sobreviveu como mito na política
interna do país, como legado de Jefferson e Lincoln, Jimmy Carter e Bernie
Sanders, com moldes e em épocas diferentes.
A montagem interna estava perfeita: a domesticação formal de Bolsonaro, que deixou de atacar os poderes constituídos ajudava a viabilizar as privatizações selvagens e retomava as reformas de devastação do Estado Social; o “centrão” entra no Governo para dar “seriedade” às articulações políticas realistas; a Globo benzia -do alto da sua propalada imparcialidade- um Presidente mais “civilizado”, embora corresse o risco retornar à sua natureza primitiva se não fosse ajudado pelo Congresso; a oposição de esquerda, de centro-esquerda e de centro, na sua maioria, estava imersa em divergências táticas e de fundo, dedicadas especialmente às eleições, atuais e futuras; e, finalmente, os efeitos das “ajudas sociais” ao povo mais pobre, revertia em favor do Presidente, embora este não quisesse pagá-las num valor razoável.
A derrota de Trump nas eleições americanas poderá ter um efeito extraordinário no Continente, certamente não para desalojar as elites políticas e financeiras do poder de mando na nossa democracia adoentada, mas certamente o terá para bloquear a aliança do fascismo com as reformas e -portanto- enfraquecer a ideologia medievalista, negacionista e anti-científica, de aparelhamento direto do Estado pelos setores mais corruptos e autoritários do empresariado brasileiro. Esta foi a política promovida em conjunto com os quadros milicianos espalhados no país, que hoje têm sua capacidade de fogo aumentada pela liberação “geral” das armas, autorizada pelo próprio Presidente.
A montagem interna estava perfeita: a domesticação formal de Bolsonaro, que deixou de atacar os poderes constituídos ajudava a viabilizar as privatizações selvagens e retomava as reformas de devastação do Estado Social; o “centrão” entra no Governo para dar “seriedade” às articulações políticas realistas; a Globo benzia -do alto da sua propalada imparcialidade- um Presidente mais “civilizado”, embora corresse o risco retornar à sua natureza primitiva se não fosse ajudado pelo Congresso; a oposição de esquerda, de centro-esquerda e de centro, na sua maioria, estava imersa em divergências táticas e de fundo, dedicadas especialmente às eleições, atuais e futuras; e, finalmente, os efeitos das “ajudas sociais” ao povo mais pobre, revertia em favor do Presidente, embora este não quisesse pagá-las num valor razoável.
A derrota de Trump nas eleições americanas poderá ter um efeito extraordinário no Continente, certamente não para desalojar as elites políticas e financeiras do poder de mando na nossa democracia adoentada, mas certamente o terá para bloquear a aliança do fascismo com as reformas e -portanto- enfraquecer a ideologia medievalista, negacionista e anti-científica, de aparelhamento direto do Estado pelos setores mais corruptos e autoritários do empresariado brasileiro. Esta foi a política promovida em conjunto com os quadros milicianos espalhados no país, que hoje têm sua capacidade de fogo aumentada pela liberação “geral” das armas, autorizada pelo próprio Presidente.
Penso que as situações que podem se formar para as lutas sociais e políticas, aqui no Brasil -neste possível novo cenário- sãos propensas a serem analisadas com as espátulas refinadas do 18 Brumário. As análises mecanicistas dos próceres marxistas que identificavam a socialdemocracia -na luta contra o fascismo- como uma espécie de social-fascismo a ser enterrado junto com Hitler e Mussolini, se mostraram falsas. As perdas políticas e humanas desta posição já foram devidamente debatidas ao longo da história recente, mas é bom lembrá-las por analogia: Biden ou Trump no poder -nos Estados Unidos- têm efeitos diferentes sobre a nossa crise política, moral e sanitária, e Biden no Governo dos EEUU pode ajudar ao isolamento de Bolsonaro na política externa, que ele deseja semear em toda a América Latina.
Luis Nassif comenta, no seu recente texto postado no Jornal GGN neste domingo, que aqui no Brasil o pacto protofascista com o ultraliberalismo encontrou em “Bolsonaro uma zebra política, que seguia um roteiro previamente desenhado e quase estragou tudo com a sua falta de noção”. Mas se ergue, agora, com o novo pacto em curso na “operação centrão”, que é muito mais forte do que as convicções do liberalismo político em relação à democracia, pois ele recupera a malha da política tradicional do Brasil: desta feita com o terceiro time de todas as elites: os tímidos sobrantes da “Lava-jato”; as religiões do dinheiro infestadas de escroques e manipuladores da fé dos pobres; os pequenos e tímidos líderes dos partidos de ocasião, sem doutrina, sem experiência e sem moral. E um empresariado que se deixa liderar por dirigentes das suas organizações de classe que sequer são empresários ou pelo incansável “Véio da Havan”, que segue em direção ao seu inferno falimentar. Que ganhe Biden, pelo menos isso pode nos ajudar a respirar!
*Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.
*Publicado originalmente em 'Sul/21' |
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