sábado, 17 de outubro de 2020

Dezenas de sul-africanos voltam a protestar contra estrangeiros

Os manifestantes protestaram esta sexta-feira em Pretória para pedir ao Governo sul-africano que trave a entrada de imigrantes no país. O seu slogan: #PutSouthAfricansFirst (sul-africanos primeiro).

Mais de uma centena de manifestantes voltou a sair às ruas esta sexta-feira (16.10), em Pretória, para pedir às autoridades sul-africanas um maior controlo das fronteiras e mais restrições para os estrangeiros que residem no país.

É o segundo protesto do género em menos de um mês. Os mentores da manifestação, convocada através da rede social Twitter, acusam os imigrantes de tráfico humano, consumo de drogas, violência contra mulheres e agravamento das dificuldades no acesso a serviços básicos do país. 

"O Ministério das Obras Públicas defendeu que podemos ser atacados com bombas a qualquer momento, porque não estamos seguros. As pessoas não podem entrar e sair de qualquer maneira no nosso país. Nós lutamos por este país", afirmou Ike Thamnsaqa Khumalo, advogado e um dos líderes do protesto. 

Os manifestantes entoaram canções xenófobas e empunharam dísticos com a hashtag #PutSouthAfricansFirst, que em tradução livre da língua inglesa significa "sul-africanos primeiro".

Vusi Mbadzi, filho de imigrantes moçambicanos, mostra-se revoltado com o aumento do ódio contra estrangeiros no país que o viu a nascer. "Colocar a África do Sul primeiro não é uma boa ideia. Todos somos humanos", adverte. "Colocar a África do Sul primeiro é uma forma de incitar ataques xenófobos, porque até os investidores não são sul-africanos. Isolada, a África do Sul não é nada. Penso que devem colocar as pessoas em primeiro lugar e não os sul-africanos", considera.

Economia em maus lençóis

A economia sul-africana está a ser duramente afetada pela pandemia causada pelo novo coronavírus. Nos últimos meses, milhares de sul-africanos perderam os seus postos de trabalho e os estrangeiros tornaram-se o bode expiatório em dias de incerteza. 

O Presidente Cyril Ramaphosa disse na quinta-feira (15.10) que iria criar cerca de 800 mil postos de trabalho nos próximos meses, mas a promessa não serviu para acalmar os ânimos dos manifestantes.

Os Combatentes para a Emancipação Económica (EFF), a terceira maior força política da África do Sul, declinaram o convite para participar na marcha, considerando que o problema da falta de emprego, pobreza e desigualdade social no país não é culpa dos estrangeiros africanos, mas do "monopólio do capitalismo branco". 

"Quando terminarem com os nigerianos, moçambicanos e zimbabueanos, as próximas vítimas serão os Changanas de Giyani. É preciso parar isto agora, antes que eu me torne a próxima vítima", diz Julius Malema, líder do EFF, o único partido que se pronunciou acerca das marchas xenófobas em curso na África do Sul.

Em 2018, um inquérito levado a cabo pelo Conselho de Pesquisa de Ciências Humanas, em Pretória, concluiu que uma grande parte dos sul-africanos tinha pensamentos negativos acerca dos estrangeiros a residir no país.

Segundo dados do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (CDC África), a África do Sul é o país mais afetado pela Covid-19 no continente, com 698.184 casos de infeção e 18.309 óbitos associados ao novo coronavírus.

Milton Maluleque (Pretória) | Deutsche Welle

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