Manlio Dinucci*
A União Europeia criou um órgão,
o Recovery Fund, a fim de intensificar os investimentos públicos e as reformas
na sequência da crise do COVID-
Enquanto a "crise do Coronavirus" continua a provocar consequências socio-económicas devastadoras, também em Itália, uma grande parte do "Fundo para a Recuperação" é destinada não aos sectores económicos e sociais mais atingidos, mas aos sectores mais avançados da indústria bélica.
De acordo com o Fundo de Recuperação, a Itália deveria receber € 209 biliões nos próximos seis anos, dos quais cerca de 81 como subsídios e 128 como empréstimos a serem reembolsados com juros.
Entretanto, os Ministérios da Defesa e do Desenvolvimento Económico apresentaram uma lista de projectos de carácter militar no valor de cerca de 30 biliões de euros [1]. Os projectos do Ministério da Defesa prevêem atribuir 5 biliões de euros do Fundo de Recuperação para aplicações militares nos sectores da cibernética, das comunicações, do Espaço e da inteligência artificial. Os projectos relativos ao uso militar da 5G são significativos, principalmente no Espaço, com a concretização de uma constelação de 36 satélites e outros.
Os projectos do Ministério do Desenvolvimento Económico, relacionados, sobretudo, com o sector aeroespacial militar, prevêem uma despesa de 25 biliões de euros do Fundo de Recuperação. O Ministério pretende investir num caça da sexta geração (a suceder ao F-35 de quinta geração), o Tempest, denominado "o avião do futuro". Outros investimentos dizem respeito à produção de helicópteros/tilt rotors militares da nova geração, capazes de decolar e aterrar na vertical e voar a alta velocidade.
Ao mesmo tempo, irá investir em drones e unidades navais da nova geração e em tecnologias submarinas avançadas. Também são esperados grandes investimentos no sector das tecnologias espaciais e de satélite. Várias dessas tecnologias, entre as quais se destacam os sistemas de comunicação 5G, serão usadas com um duplo objectivo - militar e civil. Visto que alguns dos projetos militares apresentados pelos dois departamentos se sobrepõem, o Ministério do Desenvolvimento Económico elaborou uma nova lista que permitirá reduzir as suas despesas em 12,5 biliões de euros.
No entanto, permanece o facto de
que se está a programar gastar uma quantia que varia de
Esta verba soma-se ao orçamento do Ministério da Defesa, elevando a despesa militar italiana para mais de 26 biliões de euros por ano, equivalente a uma média de mais de 70 milhões de euros por dia, em dinheiro público subtraído às despesas sociais. Cifra que a Itália se comprometeu com a NATO a aumentar para uma média de cerca de 100 milhões de euros por dia, de acordo com o que foi solicitado pelos Estados Unidos.
A atribuição para este efeito de uma grande parte do ‘Recovery Fund’ permitirá à Itália atingir este nível. Na primeira fila, entre as indústrias militares que pressionam o governo a aumentar a fatia militar do Fundo de Recuperação, está a empresa Leonardo,da qual o Ministério do Desenvolvimento Económico possui 30% das acções. A Leonardo está integrada no gigantesco complexo militar-industrial USA, comandado pela Lockheed Martin, construtora do F-35 em cuja produção participa essa mesma empresa Leonardo, através da sua fábrica em Cameri.
A Leonardo que se autoproclama "protagonista mundial no Aeroespaço, na Defesa e na Segurança", com a missão de "proteger os cidadãos", demonstra como pretende fazê-lo, ao usar a sua influência e poder para roubar aos cidadãos, recursos vitais do "Fundo de Recuperação", a fim de conseguir uma maior aceleração da "recuperação" da indústria bélica.
Recursos que seremos sempre nós a pagá-los, acrescidos de juros. Pagaremos assim, "o avião do futuro", que nos protegerá, assegurando um futuro de guerra.
Manlio Dinucci* | Voltairenet.org | Tradução: Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte: Il Manifesto (Itália)
*Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra. Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
Nota: [1] «Fondi anche per la Difesa dal Recovery Fund», Giovanni Martinelli, Analisi Difesa, 25 settembre 2020.
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