quarta-feira, 8 de julho de 2020

A cura da Covid-19 vai ser só para os ricos?


Pedro Tadeu* | Plataforma | opinião

O governo dos Estados Unidos, assim que soube da relativa eficácia do medicamento Remdesivir para a diminuição dos sintomas da Covid-19 e do efeito que ele tem na aceleração da recuperação dos doentes, comprou à farmacêutica Gilead, que o fabrica em exclusivo, praticamente todo o stock disponível para os próximos três meses.

Já a meio de março passado vários governantes alemães comentaram, com indignação, uma notícia que garantia ter o governo norte-americano oferecido mil milhões de dólares à farmacêutica alemã CureVac, para esta lhe dar o exclusivo da vacina para a Covid-19, que está para testar.

A notícia acabaria por ser desmentida pela empresa e pela diplomacia norte-americana, mas muitos desconfiam que a mentira está no desmentido, não na informação original.

Mais significativo ainda: mesmo que a alegada tentativa, por Donald Trump, de obtenção de exclusivo mundial da vacina para a Covid-19 tenha sido uma mentira, a verdade é que tantos acharam ser isso possível que quase parece ser natural, previsível ou aceitável esperar que os Estados Unidos usem a força do dinheiro para açambarcarem qualquer medicamento que livre da pandemia o país mais poderoso do planeta, mesmo se o resto do mundo ficar a contar mortos, sem acesso ao fármaco.

Mas antes de começarmos o ritual da indignação, há que perguntar: podemos criticar o presidente dos Estados Unidos, ou de qualquer outro país, por tudo fazer para tentar salvar vidas do seu povo e para se estar nas tintas para as outras nações?…

Coloco-me no lugar do outro: se eu fosse primeiro-ministro de Portugal, ou governasse a cidade de Lisboa ou, apenas, presidisse a uma pequena junta de freguesia, tentaria qualquer coisa posta ao meu alcance para livrar “os meus” da doença. Só depois pensava nas outras freguesias, nas outras cidades, nos outros países, no resto do mundo.

Quando a questão é, apenas, escolher entre vida ou morte, a solidariedade não é prioridade – é essa certeza, aliás, a definir normalmente a separação entre humanidade e santidade.

Não é, portanto, desumano o egoísmo que nos leva a tentar salvar a vida de quem nos está mais próximo, mesmo se isso implicar a consequência da diminuição das hipóteses de sobrevivência de quem nos está distante. Mas isso não impede que haja uma injustiça desumana no simples facto de tal hipótese ser colocada.

Sim, é desumano ser possível, neste mundo, um país poder açambarcar medicamentos e deixar à míngua todos os outros.

Sim, é desumano ser possível, neste mundo, a posse de dinheiro decidir a possibilidade de sobrevivência a um ataque de um vírus.

Sim, é desumano ser possível, neste mundo, que a utilização do Remdesivir, que nem sequer cura os doentes da Covid-19, apenas melhora a recuperação dos que se conseguem curar, só esteja acessível a quem possa pagar, mais ou menos, 2000 euros por doente.

Sim, é desumano ser possível, neste mundo, que a estimativa mais barata que se encontra para o preço da futura vacina ao novo coronavírus ronde os 150 dólares por dose – como, em 50 países do mundo, o rendimento médio mensal por pessoa não chega a esse valor, é previsível que nesses lugares as pessoas não se possam vacinar.

Sim, é desumana a forma como organizamos, investigamos, patenteamos, comercializamos e distribuímos os medicamentos no mundo.

Que vai ser da Índia, o segundo país mais populoso do planeta, com mais de mil milhões de pessoas, onde, em média, cada indivíduo ganha menos dinheiro num mês do que vai precisar para pagar a vacina?

Que vai ser de São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Moçambique, países de língua oficial portuguesa, onde esse abismo entre o rendimento e o custo para pagar a saúde se repete?

A cura da Covid-19 vai ser só para os ricos, para pessoas ou países que podem aceitar pagar os preços das farmacêuticas? Sim, pelo menos numa primeira fase, infelizmente, não acredito que seja de outra maneira… E os que, de nós, tiverem a sorte, do seu bolso ou através do Estado, de conseguirem obter a vacina, não vão ter peso na consciência. Eu próprio, quase de certeza, não terei – e isso é lamentável.

*Jornalista – Portugal

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China inaugura gabinete para a segurança nacional em Hong Kong


O Governo chinês inaugurou hoje o Gabinete de Salvaguarda da Segurança Nacional em Hong Kong, oito dias após a entrada em vigor de nova legislação imposta à região por Pequim, noticiou a agência oficial Xinhua.

O novo organismo, que fica sob tutela do Governo chinês e não sujeito às instâncias judiciais de Hong Kong, vai “supervisionar, guiar, coordenar e apoiar” o Executivo de Hong Kong em questões de segurança nacional, enquanto “faz propostas sobre estratégias e políticas a seguir”, indicou.

A Xinhua acrescentou que “o Gabinete também vai reunir e analisar informações sobre segurança nacional e lidar com crimes que representem um risco para a segurança nacional”.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, considerou um “momento histórico” a abertura do Gabinete de Defesa da Segurança Nacional, que vai permitir a agentes dos serviços de informações chineses operem abertamente no território.

“A cerimónia de inauguração de hoje é um momento histórico, pois estamos a testemunhar uma nova etapa na implementação de um sistema jurídico e de um mecanismo que manterá a segurança nacional em Hong Kong”, afirmou.

Hong Kong:Carrie Lam diz que vai “aplicar vigorosamente” lei da segurança nacional


A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse hoje que o seu Governo vai implementar “vigorosamente” a nova lei de segurança imposta por Pequim, deixando um aviso aos ativistas “radicais”.

“O Governo de Hong Kong aplicará vigorosamente esta lei”, disse Lam, durante uma conferência de imprensa.

A governante avisou ainda os ativistas “radicais” para não “passarem a linha vermelha, porque as consequências de violar a lei são muito graves”.

Carrie Lam defendeu novamente o diploma imposto por Pequim ao território semi-autónomo, afirmando que ajudará a restaurar a estabilidade e a confiança após meses de protestos, no ano passado.

A lei “não é tão sombria como parece para Hong Kong”, disse Lam, defendendo que, “com o tempo (…), a confiança será maior” no futuro do território.

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