sexta-feira, 20 de novembro de 2020

'Transição' e Constância da Guerra de Washington

#Publicado em português do Brasil

Strategic Culture Foundation | Imagem: © Reuters / Tom Brenner

Fala-se muito sobre a “transição” para um novo governo dos Estados Unidos, agora que o candidato democrata à presidência Joe Biden deve ser empossado em 20 de janeiro. Há a especulação usual da mídia sobre quem o presidente eleito vai nomear para seu gabinete.

Uma equipe potencial de Biden está promovendo legisladores hawkish que ocuparam cargos importantes na administração anterior de Obama, quando Biden também serviu como o então vice-presidente. Esses nomes incluem Susan Rice, que era conselheira de segurança nacional, Michelle Flournoy, que era uma importante autoridade do Pentágono, e o ex-legislador do Departamento de Estado Anthony Blinken. Todas essas pessoas estavam associadas ao lançamento de guerras desastrosas no Oriente Médio e no Norte da África, assim como o próprio Biden.

Antes de se tornar vice-presidente nas duas administrações Obama (2008-2016), Biden passou 47 anos como legislador no Congresso, onde ocupou cargos importantes no apoio às guerras americanas no Afeganistão e no Iraque.

Não há sinal de que em sua vida (Biden fez 78 anos esta semana, o presidente eleito dos Estados Unidos mais velho de todos os tempos) ele pode ter suavizado sua postura de política externa. Ele rapidamente abandonou qualquer sugestão de nomear membros mais progressistas do Partido Democrata para seu futuro gabinete. Biden está enfatizando a “unidade nacional” e trabalhando com o Partido Republicano. Isso significa que seu governo assumirá uma posição convencional de direita nas relações internacionais.

De fato, nas últimas décadas, o Partido Democrata se tornou o partido preferido do establishment da política externa dos Estados Unidos, o aparato de inteligência, o Pentágono e Wall Street. Em suma, a classe dominante, ou “estado profundo”. Biden, com sua conversa tranquilizadora de reengajamento com “aliados” e a OTAN, é, portanto, uma figura presidencial muito preferida do que o rebelde Donald Trump, cujo estilo impetuoso e errático só serviu para frustrar as ambições hegemônicas de Washington. Quando Biden diz que “a América está de volta”, o que ele realmente quer dizer é “de volta ao business as usual”, o que pressagia um retorno ao militarismo e intervencionismo desimpedidos dos EUA nas relações exteriores.

A contagem regressiva para a próxima pandemia

#Publicado em português do Brasil

Desmatamento e criação de animais são receitas conhecidas para novas doenças – hoje, facilmente disseminadas pelo globo. Humanidade não aprendeu com as últimas epidemias. Ela serão mais comuns e intensas. Haverá como contê-las?

André Biernath, na BBC Brasil | em Outras Palavras

A gripe espanhola de 1918 começou nos Estados Unidos. O zika estava restrito às ilhas da Polinésia Francesa, no Oceano Pacífico, mas atravessou o mundo e virou preocupação no Brasil. A gripe suína de 2009 brotou em fazendas do México antes de colocar o mundo inteiro em pânico. O Sars-CoV-2, coronavírus causador da covid-19, foi detectado pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China.

Mas, afinal, o que define o local e a hora de nascimento de uma pandemia? E quais características permitem que um vírus até então pouco conhecido comece a afetar, de uma semana para outra, milhares ou milhões de pessoas de todos os continentes?

Os conhecimentos básicos de biologia até podem explicar o processo. Mas as transformações sociais, políticas e econômicas pelas quais o mundo passa atualmente deixam o cenário favorável para que novas crises sanitárias desse tipo fiquem ainda mais comuns daqui para frente.

Receita básica

Um determinado vírus pode circular por um tipo de animal rotineiramente, durante milhares de anos. Há coronavírus, por exemplo, que só afetam morcegos, gatos ou camelos. Mas, ao longo desse processo, pode acontecer alguma mudança que faça o patógeno pular para outra espécie.

“Na natureza, os vírus passam por mutações aleatórias o tempo todo. Nesse jogo de tentativa e erro, ocorrem alterações em alguns genes para torná-lo apto a infectar seres humanos”, explica o virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

Até aí, a situação não é assim tão grave — afinal, o risco só vai existir se a gente entrar em contato com aquele bicho. O problema fica complicado mesmo quando o vírus em questão sofre uma nova transformação em seu código genético e adquire a capacidade de ser transmitido de pessoa para pessoa.

O Sars-CoV-2 já é um modelo clássico desse fenômeno: pelo que se sabe até o momento, ele circulava entre morcegos pelo Sudeste Asiático. Até que sofreu algumas edições em seu genoma e conseguiu “pular” para os seres humanos. Não se sabe ainda se houve um animal intermediário no meio do caminho.

Vale alertar, porém, que essa passagem demora anos para acontecer. “Não é que um único indivíduo comeu um morcego e deu início a toda a situação. Essas mutações ocorrem paulatinamente e os vírus se adaptam pouco a pouco ao novo hospedeiro”, esclarece Brandão.

Esse perigo, aliás, já era conhecido muito antes de os primeiros casos de uma nova doença começarem a causar estranhamento em meados de dezembro de 2019. Um artigo publicado em março do ano passado por quatro cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan já alertava: “É altamente provável que um surto de coronavírus se origine de morcegos, e há uma grande possibilidade que isso venha a ocorrer na China”.

Mas por que a China? O coronavírus da vez não poderia ter aparecido na Romênia ou na Nova Zelândia? Como você verá a seguir, certos locais do mundo reúnem as condições ideais para o surgimento de uma pandemia.

Portugal | Os pobres são as vítimas, não os culpados

Paulo Pedroso | Diário de Notícias | opinião

A inversão do ónus da pobreza, tornando as vítimas em culpados do seu próprio destino, é uma marca identitária dos populismos de extrema-direita, que procuram em cada sociedade os pontos que julgam fracos para alimentar fraturas sociais que virem as classes médias contra os seus concidadãos. É também um dos efeitos perniciosos da sua influência na cena política, nomeadamente quando contagiam os partidos supostamente moderados.

Em Portugal estamos a entrar numa fase de renovação dos discursos de culpabilização dos pobres pelo seu destino. Este debate tinha existido no início dos anos noventa do século passado e tinha sido ultrapassado pela inversão de políticas sociais dinamizada por António Guterres. Já então, surgiam afloramentos de um discurso culpabilizador dos pobres pelo seu destino, que ficaram imortalizados na frase de um político quando apupado, que dizia de quem o rejeitava que eram "os ciganos do rendimento mínimo".

Nos últimos 25 anos Portugal teve ganhos significativos de coesão social, mesmo se vive desde 2000 um período difícil no que diz respeito ao crescimento económico e passou por uma profunda crise económica entre 2009 e 2013.

Portugal covidado | Mais 61 mortes no sexto dia acima dos seis mil casos

Portugal regista 6489 novas infeções e mais 61 óbitos por covid-19 em 24 horas. Já há 163 mil recuperados.

No dia em que foi aprovada no Parlamento a renovação do estado de emergência, Portugal contabiliza um total de 249.498 infeções e 3762 óbitos causados pelo novo coronavírus. Esta é a sexta vez, desde o início da pandemia, em que o boletim epidemiológico apresenta um valor diário superior a seis mil casos. O recorde diário de infeções foi registado na quinta-feira, com 6994 novos casos. O dia com mais óbitos foi 16 de novembro, com 91 vítimas mortais.

60% dos novos casos no Norte

Olhando isoladamente para as regiões, o Norte, regista mais 3630 infeções (quase 60% do total de hoje), elevando para 128.202 o número total de casos na região. Lisboa e Vale do Tejo soma 1805 novos contágios (totaliza 86.605), o Centro tem mais 799 (em 23.720), o Alentejo mais 135 (4960) e o Algarve mais 90 (4549). No arquipélago dos Açores, há mais 29 infetados (total de 713) e a Madeira conta mais 1 (749).

RS | Jornal de Notícias | Imagem: Pedro Correia / Global Imagens

- em atualização

Portugal | A riqueza em Rabo de Peixe (Açores)

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

O espalhanço populista de Rui Rio na entrevista à TVI deixou bem claro que um candidato a "rei da integridade" pode passar, num ápice e por vontade própria, a "mestre do contorcionismo". Rio decepciona mesmo os seus indefectíveis, aqueles que sempre o abençoaram pela ilusão de verticalidade que proporcionava. "Não quero chegar a primeiro-ministro de qualquer maneira", afirma sem pestanejar. Talvez tenha escolhido a pior maneira para que nunca o possa vir a ser.

O processo de flagelação do PSD está a ser liderado pela falta de mundo e percepção daquele que havia chegado com a missão de "limpar" o partido e de o resgatar dos habituais interesses instalados. Como tantas vezes ficou claro enquanto presidente da Câmara do Porto, Rio padece da desconsideração dessas "coisas da cultura". Arrasta e assoma a personalidade, a teimosia e mania da perseguição. No acordo dos Açores não foi feita "uma barulheira" para "abafar a verdade", como disse. Parte do PSD nacional, como muitos dos seus dirigentes confirmaram nos dias seguintes, estava sequioso e pronto, ansiando por mais.

O ataque de Rui Rio aos mais pobres que não querem trabalhar, à boleia da falta de fiscalização do RSI e de alguns casos evidentes de errónea atribuição é, sobretudo nos Açores, um triste momento de demagogia populista. Um argumento criminoso, uma mancha no currículo para o carácter de um social-democrata. Cada caso é um caso e 30% dos beneficiários do RSI nos Açores têm menos de 18 anos. Rabo de Peixe, queiram ou não os homens ir ao mar (as mulheres com RSI não contam muito para o líder do PSD, está visto), não é só dos concelhos mais pobres do país: Rabo de Peixe é uma das zonas mais pobres da Europa. Rui Rio, escolha a boleia do argumento da subsídio-dependência populista do seu novo parceiro da extrema-direita, coloca-a geograficamente no epicentro da fome e omite a realidade da pobreza que ali existe. Encolhe-se, enquanto político e cidadão, perante a miséria que o RSI ali diminui. Que pior exemplo pode ter escolhido, quando nem sequer aponta os responsáveis por quem manteve, até agora, toda aquela gente no desamparo? Tem que haver uma enorme riqueza nas gentes de Rabo de Peixe para aguentarem o infortúnio de lidar com tanta miséria alheia.

Portugal era visto, há um ano, como um paraíso de imunidade ao fascismo. Um ano depois, ver o PSD a aniquilar a Direita democrática em Portugal (nos Açores, arrastando o CDS e a IL), é uma irresponsabilidade e dor de alma para os valores democráticos. A Direita democrática portuguesa está no limite de uma tragédia autodestrutiva, engolida numa estratégia extremista onde vai ser parte integrante e nunca integradora. A prazo, será integrada. Está na história. Há quem na Direita a tente salvar, manter à distância de quem, ainda esta semana, voltou a sugerir que uma deputada voltasse para a Guiné. Que sejam firmes e que venham mais. E, sem hesitações, que contem com a Esquerda nesse combate.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e jurista

Portugal | Estado de emergência aprovado com votos a favor do PS e PSD

Renovação do estado de emergência aprovada

O prolongamento do período do estado de emergência foi aprovado no Parlamento, com os votos a favor de PS e PSD. BE, CDS e PAN abstiveram-se, ao passo que PCP, PEV, Iniciativa LIberal e Chega votaram contra.

Na votação desta sexta-feira, houve dois partidos a alterar a sua posição relativamente ao que tinham feito há duas semanas: o CDS absteve-se pela primeira vez (até aqui tinha sempre votado a favor) e o Chega estreou-se nos votos contra. O partido de André Ventura passou, assim, a ser o primeiro a já ter feito uso de todos os sentidos de voto.

Eduardo Cabrita: “A pandemia não suspende a democracia”

"Só medidas que reduzam os contágios e os contactos permitem uma sustentável redução dos casos, uma sustentável redução dos internamentos e uma sustentável redução dos óbitos”, afirmou o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, em nome do Governo.

“É essa persistência e essa resiliência coletiva dos portugueses” demonstrada no último fim de semana no cumprimento do recolher obrigatório, “que se exige aqui de todos os responsáveis”.

Eduardo Cabrita defendeu que perante os dados, ontem revelados na reunião do Infarmed, quanto às “previsões de aumento de casos e nível preocupante de óbitos que temos de dizer 'sim, é preciso insistir'”.

“Estamos a tomar todas as decisões excecionais ao abrigo da Constituição e ao abrigo à lei do estado de emergência aprovada em 1986 sob iniciativa do governo liderado por Cavaco Silva quando era presidente da República Mário Soares”, que prevê que reuniões de partidos, sindicatos e associações profissionais não serão proibidas.

“É por isso injusta a crítica feita ao presidente da República, porque o decreto presidencial não pode proibir o que está na lei proibido proibir”, disse, aludindo ao congresso do PCP.

“A pandemia não suspende a democracia”, defendeu Eduardo Cabrita.

Joacine aponta baterias a Ventura

Joacine Katar Moreira, deputada não inscrita, centrou a sua intervenção em André Ventura, que voltou esta semana a sugerir que a parlamentar fosse deportada. Joacine considerou ser necessário "combater a pandemia da supremacia racial". "Este é o estado de emergência que temos de acionar", considerou. "É uma vergonha estarmos aqui sentados como se não houvesse racismo em Portugal".

A deputada - que voltará a votar contra o estado de emergência - disse que não se pode falar de estado de emergência "se não se falar dos ataques à democracia". Nesse sentido, salientou a importância de Estado "democrático", que "respeite a diferença" e "feminista", que "proteja as mulheres".

Tropas australianas assassinaram civis e prisioneiros afegãos, reconhecem chefias

Membros das forças especiais da Austrália «executaram ilegalmente» pelo menos 39 pessoas no Afeganistão, entre 2005 e 2016, revelou esta quinta-feira o chefe das Forças Armadas australianas.

Angus Campbell admitiu os factos ao apresentar os resultados de uma investigação realizada pelo inspector-geral das Forças Armadas, Paul Brereton, sobre má conduta militar no Afeganistão, afirmando que existiam «provas credíveis» de que as forças especiais australianas tinham morto «ilegalmente» pelo menos 39 civis e prisioneiros afegãos em mais de uma década.

Numa conferência de imprensa que teve lugar esta quinta-feira em Canberra, Campbell afirmou que uma cultura de impunidade «destrutiva» entre as tropas de elite conduziu a uma cadeia de assassinatos e encobrimentos, perpetrados por 25 membros das forças especiais australianas em 23 incidentes separados.

De acordo com as conclusões do extenso relatório hoje apresentado – 465 páginas –, nenhum dos assassinatos, na sua maioria de prisioneiros, teve lugar durante combates, pelo que podem constituir um crime de guerra.

Pompeo, o cúmplice dos crimes israelitas visita territórios árabes ocupados

De uma assentada, Pompeo visita colonatos na Cisjordânia e nos Montes Golã ocupados

Sírios, palestinianos e Liga Árabe condenaram a visita inédita de um secretário de Estado dos EUA aos territórios ocupados, esta quinta-feira, classificando-a como uma violação do direito internacional.

A declaração da Liga Árabe foi emitida ontem, depois de Mike Pompeo se ter tornado o primeiro secretário de Estado norte-americano a visitar um colonato na Margem Ocidental ocupada, após uma outra visita sem precedentes aos Montes Golã sírios também ocupados por Israel.

Sobre a viagem de Pompeo, que mereceu fortes críticas e repúdio generalizado das diversas facções palestinianas, a Liga Árabe afirmou que violava as normas do direito internacional.

Por seu lado, a funcionária palestiniana Hanan Ashrawi disse que a visita de Pompeo visava criar um novo precedente ilegal e lembrou que Pompeo, que «já fez estragos suficientes», estava a pisar «terra palestiniana roubada por Israel», indica a PressTV.

Numa declaração proferida esta quinta-feira, Pompeo anunciou que os produtos importados por Washington dos colonatos ilegais israelitas passariam a ser etiquetados como produtos de Israel.

A decisão foi classificada por dirigentes palestinianos como uma «provocação», uma «violação do direito internacional» e uma confirmação da parceria entre a administração de Donald Trump e o ocupante isarelita.

Os euromísseis nucleares estão de regresso

Manlio Dinucci

Quando há mais de cinco anos, no il manifesto (9/Junho/2015), titulámos "Será que os mísseis regressam a Comiso ?", essa hipótese foi ignorada por todo o arco político e descartada como 'alarmista' por alguém que se designa arbitrariamente como sendo um especialista. Infelizmente, o alarme era fundamentado.

Há poucos dias, em 6 de Novembro, a Lockheed Martin (a mesma empresa que produz os F-35) assinou o primeiro contrato de 340 milhões de dólares com o Exército dos EUA para a produção de mísseis de médio alcance, também com ogivas nucleares, projectados para serem instalados na Europa. Os mísseis dessa categoria (com base no solo e alcance entre 500 e 5500 km) foram proibidos pelo Tratado INF, assinado em 1987 pelos Presidentes Gorbachev e Reagan e eliminou os mísseis balísticos nucleares Pershing II, instalados pelos Estados Unidos na Alemanha Ocidental e os mísseis nucleares de cruzeiro Tomahawk, estabelecidos pelos Estados Unidos em Itália (em Comiso), na Grã-Bretanha, na Alemanha Ocidental, na Bélgica e na Holanda e, ao mesmo tempo, os mísseis balísticos SS-20 colocados pela União Soviética no seu território.

Em 2014, a Administração Obama, sem qualquer prova, acusava a Rússia de ter ensaiado um míssil de cruzeiro (sigla 9M729) da categoria proibida pelo Tratado e, em 2015, anunciou que “perante a violação do Tratado INF pela Rússia, os Estados Unidos estão a considerar a inserção na Europa, de mísseis com base em terra”.

O testemunho passou, então, para a Administração Trump, que em 2019 decidiu a retirada dos Estados Unidos do Tratado INF acusando a Rússia de tê-lo "violado deliberadamente".

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