sábado, 13 de fevereiro de 2021

Sissoco é peça vital para o Senegal no conflito de Casamança?

Bissau continua em silêncio sobre o seu alegado envolvimento no conflito entre o Exército senegalês e os independentistas do MFDC. Analistas guineenses pedem uma "maior neutralidade" no conflito que dura há décadas.

Na capital da Guiné-Bissau, o conflito armado em Casamança é tema de debate.

Sabino Santos, editor do semanário "Última Hora", diz que o Executivo guineense não tem como fugir ao assunto. 

"O Governo não tem nada de concreto que pode apresentar para provar aos guineenses de que não está metido no conflito do Senegal", afirma. O jornalista diz que, "nos últimos dias, fala-se mesmo no envolvimento dos militares guineenses". E isso, na sua opinião, "devia justificar o esclarecimento por parte do Governo da Guiné-Bissau".

No início do mês, os rebeldes de Casamança ameaçaram entrar na Guiné-Bissau caso sofressem ataques pelas tropas senegalesas a partir do território guineense, acusando as autoridades de Bissau de se terem aliado ao Senegal contra a região independentista.

Esta semana, o Exército senegalês anunciou ter capturado três bases dos independentistas contando com a colaboração da Guiné-Bissau, que teria cedido parte do seu território aos militares do país vizinho.

O silêncio de Bissau

Apesar destas notícias, da parte do Executivo guineense, até agora não se ouviu uma única palavra sobre o assunto, embora se debata diariamente o tema nos órgãos de comunicação social do país.

A DW África contactou as autoridades guineenses, mas também não conseguiu obter um comentário sobre o assunto.

O Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC) luta há cerca de 40 anos pela independência daquela região sul do Senegal. Investigadores acreditam que "boa parte" dos guerrilheiros do MFDC tem raízes na Guiné-Bissau.

Em março de 2006, na era do então Presidente João Bernardo Vieira "Nino", os militares da Guiné-Bissau desencadearam uma operação, alegadamente para expulsar os independentistas do território guineense.

Sissoco, peça estratégica para o Senegal 

Segundo o professor universitário e mestre em relações internacionais, Ismael Sanhá, o atual apoio do Senegal ao Presidente Umaro Sissoco Embaló é estratégico.

"Não foi por mero acaso que o Presidente Macky Sall [do Senegal] se empenhou para a eleição do general Umaro Sissoco Embaló, bem como de Adama Barow [da Gâmbia], para permitir, através deles, executar uma das estratégias da sua política interna", explica. 

Mas o analista entende que "o Estado da Guiné-Bissau não devia ter alinhado com esta situação e devia manter a neutralidade", porque, segundo ele, "no dia em que o Senegal conseguir ter o controlo absoluto sobre essa região, vai sufocar as aspirações da Guiné-Bissau e impor a sua vontade".

Isso seria "nocivo para um país que vive em constantes sobressaltos", continua Sanhá.

"É por isso que a Guiné-Bissau sempre manteve a neutralidade no conflito de Casamança, por temer a hegemonia do Senegal", alerta.

O especialista prevê um conflito interminável: "O Senegal não vai conseguir os seus objetivos ao optar pelo conflito militar, ao invés do diálogo. O MFDC deixou de ser uma força homogénea e o Senegal vai enfrentar num confronto assimétrico".

Este é um dos mais antigos conflitos de África e já custou milhares de vidas humanas.

Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle

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