quinta-feira, 4 de março de 2021

De pedra e cal

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

De pedra e cal. Digam o que disserem os comentadores que se alimentam do sobressalto político, seja que o Governo está acabado, seja que o melhor é avançar para um Governo de salvação nacional, seja que Passos Coelho está já à espreita de um regresso.

Até prova em contrário, António Costa está de pedra e cal. Com naturais oscilações, ao sabor das curvas da pandemia, as sondagens confirmam que o PS está solidamente implantado na liderança.

Mesmo os que não acreditam na quantificação das sondagens (apesar de confirmarem o seu relativo acerto a cada eleição que passa) fariam bem em olhar pelo menos para as avaliações qualitativas: António Costa é, de longe, o mais bem cotado dos líderes partidários. Mais do que isso, é o único que consegue uma avaliação positiva dos portugueses, passando quase incólume pelo pico de primeiras, segundas e terceiras vagas.

Para os pânditas que dominam o comentário televisivo, é aborrecido. E portanto moldam a realidade a seu gosto. Se não está em queda hoje, vai estar para a semana. Cheira a fim de regime, dizem. Ao ponto de Marcelo achar importante dizer que não será ponta de lança de crises políticas.

Não precisava o presidente de ficar em cuidados. O povo, ignaro, ouve os pânditas, que lhe entram pela casa dentro, mas não lhes dá ouvidos. Por estranho que pareça, o povo não parece inclinado a julgamentos políticos à conta de uma pandemia que não distingue cores políticas: um Governo tipo frente popular de esquerda, como o de Espanha? Não tem antídoto para a pandemia. Um populista de Esquerda ora suportado pela direita radical, ora pelos sociais-democratas, como em Itália? Também não. Um centrista de nova geração, o Blair do século XXI, como em França? Vai de mal a pior. Uma líder de centro-direita à moda antiga, como na Alemanha? Basta ler a imprensa internacional para perceber que o único antídoto são os milhares de milhões que cabem no bolso mais fundo da Europa.

E por isso todos sobrevivem à crise, tal como Costa, umas vezes mais populares, outras menos, um pouco ao sabor das curvas (a queda do Governo em Itália não conta, explica-se com a natural tendência para o caos). De pedra e cal. Não é bom nem é mau, é como é.

*Diretor-adjunto

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