domingo, 2 de maio de 2021

NÃO É DO INTERESSE EUROPEU O RADICALISMO ANTI-RUSSO

Octávio Serrano* | opinião

Jogos de influência geo estratégicos; querem apresentar-nos o mundo a preto e branco; quando na realidade, ele é composto de zonas cinzentas; a verborreia do “anti-outro” que nos soltam diariamente nos meios de comunicação social, esconde sempre agendas e interesses ocultos, que visam preservar ou conquistar interesses para alguns. Tem sido assim a actuação dos EUA, actualmente e em anos recentes, na Europa.

Visando condicionar a evolução politica e económica da Europa, segundo os seus interesses; com a dupla intenção de manter dependente o continente Europeu, dos seus desígnios imperialistas; de um lado a Europa Ocidental e central; do outro a Rússia; criando propositados antagonismos entre os dois blocos, de modo a que a colaboração económica entre a Rússia e a Europa, não crie um bloco de interesses próprios que afaste a Europa, do controlo americano.

Porque a independência geopolítica europeia não interessa de modo nenhum aos Estados Unidos; a colaboração estreita da Comunidade Europeia com a Rússia também não; sem duvida fortaleceria, a Rússia como uma potência económica viável a nível global; quando já o é, a nível militar; contribuiria para o desenvolvimento de um Mundo com poderes multi-polares, colocando em causa a hegemónica superioridade americana no Mundo.

Por isso os americanos têm alimentado revivalismos anti-russos nos países que fazem fronteira com a Rússia; e ao mesmo tempo que alimentam o mito do papão russo, vendem armas com fartura a esses países de fronteira; Estónia, Lituânia, Letónia, Polónia, Hungria, e agora a Ucrânia; visando criar antagonismos, que impeçam o desenvolvimento de relações comerciais, económicas e politicas normais, entre os dois blocos de países; um novo muro que isole a Rússia dos europeus; e não há nada melhor para comprovar esta estratégia, do que os embargos sistemáticos que os norte americanos têm feito, às empresas que estão a construir o gasoduto Nord Stream 2, que transportará gaz natural directamente entre a Rússia e a Europa Ocidental, através do Mar Báltico; sem duvida que este gasoduto irá fornecer um estratégico recurso energético à Europa; e uma grande fonte de divisas aos russos; um desenvolvimento das relações comerciais entre a CE e a Rússia; e tornar a Europa menos dependente dos EUA. Precisamente aquilo que os EUA não querem.

Claro, que as elite russa está preocupada com todas estas movimentações do seu antagonista americano; para eles a Nato estar junto das suas fronteiras e tomar atitudes belicosas em relação ao espaço que eles consideram de sua segurança geo-estratégica é ameaçador; pois os russos têm o complexo da profundidade; quanto mais, as suas fronteiras de influência estiverem afastadas da sua capital Moscovo, mais se sentem confortáveis; e têm razões para tal; foi precisamente esses espaços, que no passado, lhes permitiram resistir às tropas de Napoleão e aos nazis; a Rússia é uma nação continental, quer na sua noção de espaço territorial quer na sua mentalidade.

Mas estas guerrilhas politicas mais ou menos surdas promovidas pelos americanos, visarão também obstar ao à implementação rentável da rota da seda chinesa; a China tem vindo a desenvolver e a investir, em infraestruturas, principalmente ferroviárias que atravessam a Ásia central, através da Rússia, e ancoram em países do leste europeu; de modo a substituírem a rota marítima; pois a rota terrestre será mais competitiva e rápida, para servir os intercâmbios comerciais, entre as duas zonas; disso também beneficiaria a Rússia, por arrasto! Situação que não serve os interesses americanos, que não lhes permitiria isolar a China comercialmente.

Logo, não se pode ver com bons olhos, o envolvimento mais ou menos tácito da Nato, na escalada militar chantagista, que tem decorrido no leste da Ucrânia; a radicalização de posições que está a acontecer, serve apenas os interesses americanos; o interesse da Europa, vai no sentido da efectivação sem peias de todas as colaborações possíveis, entre os seus povos; no seu interesse mutuo; no seu desenvolvimento integrado; claro que a Europa deve ter uma voz de projecto autónomo; e terá de ter condições militares defensivas dissuasoras; mas nunca assumir confrontações provocadoras em relação a ninguém....e muito menos servir de instrumento a alguém....

*Octavio Serrano-Pagina de Analise Politica | Facebook 

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