Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião
Há umas semanas, o país encolhia-se de horror perante as imagens de miséria que chegavam de Odemira. A indignação tolheu governo e deputados e nenhum responsável, político ou outro, deixou de lado a opinião alimentada pela consciência de que o caso dos imigrantes a viver em condições sub-humanas não podia admitir-se. Houve quem lembrasse que não era caso único nem sequer recente, enquanto a maioria rasgava as vestes e declarava a situação insuportável.
Como todos os outros, o caso de Odemira passou, ao fim de uns dias, de assunto de Estado a palha para engordar a longa lista de temas que queimam e se extinguem demasiado depressa - como os horrores vividos pelos moçambicanos às mãos de jihadistas, o descontrolo nas festas dos adeptos de futebol, a marquise de Cristiano Ronaldo e outros temas que por diferentes motivos despertam a indignação coletiva. Raras vezes duram tempo suficiente para encontrar responsáveis e soluções. Antes servem de combustível para alimentar causas próprias.
Sobre Odemira, disse Fernando Medina no seu espaço de comentário semanal que muito daquela história se contava pelo "desequilíbrio ambiental e dos serviços" - educação e saúde - e que "o ideal seria nunca ter deixado crescer a agricultura intensiva ao nível que cresceu". Porque, naturalmente, a avidez de produzir mais e mais, e a falta de portugueses que queiram trabalhar nos campos, combinadas com a deficiente fiscalização, haviam resultado naquela situação indizível.
Há, porém, outras Odemiras. E a
muitas não pode apontar-se o crime da agricultura. Como aquela que se
desenvolve debaixo do nariz do presidente da câmara de Lisboa, empurrando
dezenas de nepaleses, bangladeshianos, senegaleses, guineenses e outros
imigrantes que aqui chegam com parcos meios e ainda menos perspetivas para se
alojarem em quartos de
Também em Lisboa o problema não é
novo ou desconhecido: foi identificado num estudo completado há uma década. Mas
pouco se alterou nesta que é cada vez mais a realidade de bairros como a
Mouraria, o Martim Moniz, o Intendente. Nem foi atalhado há um ano, já em
tempos de pandemia, quando a polémica do dia eram as 170 pessoas retiradas de
um desses edifícios,
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