Octávio Serrano* | opinião
Um dos titulos jornalísticos de fins de Julho foi este: “O Estado vai pagar o salário dos trabalhadores que queiram estudar”!
Sinceramente, não sei interpretar se se trata de um titulo jornalístico para vender jornais; ou se se trata de um anuncio demagógico, tendo em vista as próximas eleições autárquicas. Mas aceitemos tudo isto como meras intenções do governo, para aproveitar o maná financeiro europeu, a que vulgarmente se chama “A bazuca”! Designação, que à partida, considero imprópria, uma vez que uma bazuca é uma arma de destruição, não de criação, de seja o que quer que seja!
Bem! O governo está a pensar gastar fundos europeus, pertencentes a essa tal de ”bazuca”, para pagar uma licença sabática a trabalhadores que queiram melhorar as suas competências, estudando; as empresas terão de os dispensar, e idealmente estes, quando voltarem trabalho, virão melhor formados e capacitados; e as empresas terão de os aumentar em função das novas capacidades adquiridas! Tudo Idealmente...certamente! E com o ar feliz com que os nossos governantes fazem esta comunicação, assim irá ser...certamente! Mas vejamos esta questão pelo lado das empresas!
Primeiro, todas os sectores empresariais foram e estão a ser, mais ou menos afectados pela pandemia e pela crise económica que lhe veio associada; os sectores cuja actividade foi mais ou menos bloqueada, só pensam em recuperar o mais depressa possível, para níveis de antes da crise! Outros sectores, estão com as suas actividades afectadas por falhas no abastecimento de mercadorias e de matérias primas; outras conseguiram continuar a laborar, recorrendo ao tele-trabalho; mas todas irão precisar dos trabalhadores, que estão integrados nos seus quadros de pessoal, para viverem a recuperação económica que se adivinha; se os seus trabalhadores efectivos, em vez de trabalharem, suspenderem os seus contratos para “estudar” à conta do Estado, como é que as empresas vão conseguir cumprir a sua função produtiva? Como é que vão conseguir cumprir com as carteiras de encomendas que adjudicaram com os seus clientes? Como é que muitas vão recuperar dos prejuízos que tiveram de suportar durante a pandemia?
Segundo, todas as empresas têm interesse em possuir quadros de pessoal estáveis e competentes a nível técnico, com que possam cumprir os seus desígnios económicos; são esses trabalhadores que com a sua competência asseguram a viabilidade competitiva das empresas; e diga-se o que se disser, nomeadamente da parte de gestores que só veem números, estes não são fáceis de substituir; quanto mais, de um momento para o outro; o que é que irá acontecer a empresas, dependentes de empregados especializados, caso estes decidam ser empregados do Estado, durante um período, que se prevê mais ou menos longo, para irem estudar? Onde irão as empresas buscar por outros trabalhadores que os substituam nesse período? Certamente não será ao Bangladesh!
Terceiro, é do interesse das empresas possuir trabalhadores com as melhores competências possíveis; mas que se coadunem com a actividade que a empresa exerce; logo, a questão que se coloca é a seguinte: quando um trabalhador pedir a suspensão do seu contrato de trabalho, para ir estudar, irá afinal estudar o quê e para quê? Se for uma especialização profissional, que lhe enriqueça as competências laborais, certamente que a empresa poderá vir a ter interesse nisso; isto, caso o trabalhador após adquirir as novas competências, não vá procurar no mercado de trabalho outras empresas que lhe paguem melhor pelas suas competências melhoradas ou adquiridas, nem que seja no Estrangeiro!
Quarto, uma duvida legitima; estará o nosso sistema de ensino preparado para alavancar a competência técnica dos trabalhadores nacionais? Algumas escolas profissionais talvez estejam, mas certamente com um “numerus clausus” limitado, senão mesmo reduzido; é que esta iniciativa governativa de formação massiva dos trabalhadores portugueses poderá transformar-se numa mera operação de recebimento massivo de fundos europeus, destinado a aproveitar e justificar a sua vinda; tal e qual como aconteceu em situações similares no passado..sem grande resultado!
Mas tenhamos um pouco de esperança; que a possível “asneira” seja mitigada e controlada; e afinal, no fim de contas, algo de bom se venha a aproveitar de tudo isto...
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