Duarte Caldeira | AbrilAbril | opinião
Os incêndios florestais são um dos riscos identificados no território do Continente. Não sendo o único, este risco é o que mais impacto produzem na opinião pública e mais atenção merecem dos decisores políticos. É assim desde há muitos anos.
Para fazer face aos incêndios florestais, o sistema de proteção civil dispõe anualmente de um dispositivo de combate, integrado por meios aéreos, veículos, Bombeiros, militares do UEPS da GNR e outros agentes no terreno. É assim há muitos anos.
A estratégia de combate está alicerçada na prioridade à primeira intervenção e no ataque ampliado, neste caso quando os incêndios ganham maior dimensão. Para garantia de uma maior eficácia, tanto na primeira intervenção como no ataque ampliado, recorre-se ao pré-posicionamento de meios no terreno em função do nível de risco de cada distrito e na sequência de avisos meteorológicos emitidos pelo IPMA. É assim há muitos anos.
Muito mais dados poderíamos inventariar para demonstrar que o essencial do dispositivo anual de combate a incêndios florestais não regista grandes novidades, exceto quanto ao número de meios disponíveis e à melhoria qualitativa da intervenção dos mesmos, em especial devido ao esforço de formação promovido pela Escola Nacional de Bombeiros (ENB).
Sabe-se que a confiança da sociedade no sistema de proteção civil sofreu, talvez injustamente, um considerável dano, na sequência dos incêndios de 2017 e das suas dramáticas consequências. Daí ser normal que todos os intervenientes do sistema assumam um particular empenho no restabelecimento da referida confiança, enquanto fator decisivo para que o sistema cumpra cabalmente a sua missão.
Dito isto, importa refletir se a recorrente apropriação dos avisos meteorológicos do IPMA por governantes serve o objetivo de credibilizar o sistema e funcionar como meio de sensibilização dos cidadãos para não adotarem comportamentos de risco.
Vai sendo tempo do primeiro-ministro, ministros e secretários de Estado deixarem para os operacionais da ANEPC e para os agentes do sistema a comunicação pública de matérias inerentes ao regular funcionamento de um sistema de proteção civil adulto, resistindo à tentação de (por tudo ou por nada) marcar as agendas das televisões com aparecimentos intempestivos e, muitas vezes, sem racionalidade.
O sistema de proteção civil, nomeadamente no domínio da gestão e comunicação do risco, tem de ser capaz de se impor por si, pela sua qualidade e credibilidade. Mas para isso é preciso que os decisores políticos abram espaço para o efeito, abstendo-se de mediatizar mensagens de injustificada infantilização dos cidadãos, com efeitos nulos quanto à formação de uma consciência coletiva do risco.
Estude-se o problema e atue-se em conformidade.
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