# Publicado em português do Brasil
Luis Hernández Navarro -
Correspondente da Carta Maior na Cidade do México |
No dia 11 de setembro de 1973 um
golpe militar derrubou no Chile o governo do socialista Salvador Allende. A
partir desse momento, com o apoio dos falcões de Washington, caiu sobre a
maioria dos países da América Latina a noite sombria das ditaduras militares, a
repressão e o desmantelamento das conquistas sociais. O Chile se converteu no
grande laboratório neoliberal de onde seriam exportadas suas políticas para
todo o mundo. Sacrificando Allende se quis frear as lutas de libertação no
continente.
O 11 de setembro de 2001, o ataque às Torres Gêmeas
Os dois 11 de setembro são datas que marcam o início de ofensivas do Império
para reforçar seus interesses e abrir no continente americano e no Oriente
Médio um novo ciclo de dominação e de acumulação de capital. No primeiro caso,
o golpe de Estado serviu para frear o avanço da esquerda e das forças
nacional-populares no Cone Sul, aprofundar a penetração do capital
estadunidense e ampliar a presença militar. No segundo, permitiu à Casa Branca,
com o pretexto do combate ao fundamentalismo religioso, avançar no controle dos
recursos petroleiros no Oriente Médio e fazer da guerra parte do ciclo de
expansão e consolidação da globalização neoliberal. Seu objetivo foi impor uma
nova ordem internacional unilateral; estabelecer, pela lógica do fato
consumado, um governo autoritário da globalização.
Os dois 11 de setembro reafirmaram o “excepcionalismo” estadunidense. Em 1787,
James Madison, conhecido como o “pai da Constituição” dos Estados Unidos,
assinalou que o objetivo principal do governo devia ser “proteger a minoria
opulenta da maioria”.
Nessa época, outro dos “pais fundadores” desse país, Thomas Jefferson, afirmou:
“Estou persuadido que nunca houve nenhuma constituição tão bem calculada como a
nossa para a expansão imperial e o autogoverno”.
Quase dois séculos depois, primeiro Richard Nixon e depois George W. Bush se
empenharam em tornar realidade em escala planetária a missão que Madison
atribuía ao governo e que Jefferson atribuía à Constituição de seu país.
A 38 anos do primeiro 11 de setembro e dez do segundo, na América Latina os
povos resistem. Derrubaram as ditaduras militares da década dos setenta e
meados dos oitenta e abriram a porta para que candidatos de centro-esquerda
ganhassem as eleições. Antes do triunfo eleitoral, já tinha se produzido uma
vitória cultural. O que o Império quis evitar com o Golpe de Estado no Chile
renasceu por outras vias. As aventuras imperiais de Washington no Oriente Médio
debilitaram o controle sobre a área que era considerada o quintal dos Estados Unidos.
Os governos progressistas na América Latina impulsionaram um processo de
reconstrução da arquitetura do poder e da geopolítica na região. Há no
continente uma redefinição profunda das relações e da inserção com os Estados
Unidos, que se expressa tanto no rechaço das políticas da Casa Branca como no
surgimento de um novo tecido institucional para favorecer a integração
regional. A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi torpedeada e, no
Equador, não se renovou o contrato para que os EUA utilizassem a base militar
de Manta. Também na contramão de Washington, a solidariedade com Cuba e as
relações diplomáticas ativas com o Irã tem sido uma constante. O investimento
chinês cresceu vertiginosamente. Com dificuldades, uma proposta pós-neoliberal
abre caminho na região.
Ironias da história, dois 11 de setembro depois, o legado de Salvador Allende
na região está mais vivo do que nunca.
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