Simões Ilharco | Diário de Notícias | opinião
“Vai ser difícil ganharmos, por causa da distância que nos separa do PS", disse Rui Rio. Foi a derrota anunciada do PSD nestas eleições autárquicas. Rio andou sempre as zigue-zagues. Tinha dito que o seu sonho era governar a seguir às autárquicas e agora admite perdê-las. Mas a maior 'cambalhota' foi, sem dúvida, a de querer viabilizar Orçamentos do PS e depois aproximar-se do Chega. Não dá para entender.
Rio foi um líder de transição entre Passos Coelho e Paulo Rangel. Mesmo que consiga melhores resultados do que em 2017 não se aguentará na liderança do PSD. O affaire Rangel é irreversível. Eu posso não concordar, mas admito que a grande maioria dos sociais-democratas o quer. E há que respeitar esta vaga de fundo, digamos assim.
Moedas ainda foi hipótese, mas a sua má prestação no debate televisivo com Medina fê-lo perder a Câmara e a liderança do partido. Rangel terá de fazer oposição a Costa, coisa que Rio não fazia e que lhe custou caro. Muito caro, mesmo. Rio cometeu um erro de palmatória: quis ser estadista na oposição, o que, manifestamente, não dá.
Se chegar a primeiro-ministro, Paulo Rangel não poderá repetir os erros de Costa e que foram bastantes. O laissez faire, laissez passer do PS, e que é o expoente maximo do liberalismo económico, deverá acabar. Como social-democrata, Rangel terá de equacionar a intervenção do Estado nos sectores-chave da economia, sendo mais interventor do que Costa. Não pode deixar andar como este faz, deixando correr o marfim, se a expressão me é permitida. Não se intitulando socialista, Rangel terá, porém, para bem do país, de governar mais à esquerda do que António Costa. Nem pode consentir tudo à banca.
O liberalismo do PS só acentuou as injustiças e desigualdades. Se não houver uma mão correctora no sistema, este torna-se mais desigual. Não podemos acreditar na mão invisível de Adam Smith, como Costa parece acreditar.
O PSD tem de ser mais humanista do que o PS e com maior espírito reformista. As grandes reformas ficaram todas por fazer. O Governo de Rangel não pode ser meramente de gestão como foi o de António Costa.
O pior que nos poderia acontecer - e o povo português, honrado e trabalhador, não o merecia - seria dar razão a Sá Carneiro, quando este nos diagnosticou: "Portugal, país provisório e sucessivamente adiado".
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