sábado, 2 de outubro de 2021

Portugal | CDS no fio da navalha

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

Não é a primeira vez que o CDS se encontra no fio da navalha. Em 1987, esmagado pelo PSD de Cavaco Silva, ficou reduzido a pouco mais de 4% e a quatro deputados (foi por isso alcunhado como o "partido do táxi").

Parecia ser um partido redundante para a Direita e assim se manteve no ciclo eleitoral seguinte (1991). Até que Manuel Monteiro e Paulo Portas tomaram o poder e refundaram o partido, incluindo a mudança de nome.

Foram os tempos do Partido Popular, com uma viragem à Direita, a geografia política em que havia espaço para crescer. Os resultados eleitorais subsequentes provam que funcionou, apesar de alguns altos e baixos e das sangrentas lutas internas com que, por vezes, ensaiava o suicídio. E esteve, por mérito e peso próprio, nos governos de Durão Barroso (2002) e de Passos Coelho (2011).

Paulo Portas, o grande provedor dos últimos 25 anos, saiu no rescaldo da troika e da derrota de 2015 (a coligação de Direita foi a mais votada, mas sucumbiu à maioria de Esquerda no Parlamento). Os herdeiros valiam pouco sem o líder. E, nas legislativas 2019, o CDS-PP voltou aos 4%.

Uns meses depois, o que restava do "portismo" sucumbiu à fibra truculenta do jovem Francisco Rodrigues dos Santos. E aqui chegámos. Um presidente que domina o Largo do Caldas, e uma oposição interna agrupada do Parlamento (a face mais visível de um partido na Oposição) e no Parlamento Europeu (Nuno Melo). E um diálogo de surdos, com algumas mensagens de WhatsApp pelo meio.

Com o aproximar das autárquicas e sentindo a ameaça das urnas, o líder do partido optou pela alternativa que lhe poderia assegurar a sobrevivência, diluindo o partido em múltiplas coligações com o PSD. Não chegou. Terá concorrência para a liderança no próximo congresso (falta saber se a oposição interna vai ou não dividida).

Sucede que a mudança de líder, a acontecer, pode não ser suficiente. Já não estamos nos anos 90. O espaço à Direita foi ocupado pela Iniciativa Liberal (na ideologia económica) e pelo Chega (na ideologia política). É possível que o CDS-PP se torne, desta vez, definitivamente redundante. Ainda que em política não haja bolas de cristal.

*Diretor-adjunto

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