José Maria Cardoso | Téla Nón | opinião
Para o registo democrático das ilhas, pela primeira vez, o Presidente da República cessante não demitiu governo, não se recandidatou à cadeira e não menos pertinente, o sucessor, eleito no dia 5 de Setembro, pelo escrutínio universal, direto e livre, antes da tomada de posse, correu a devolver ao partido que lhe indigitou e apoiou na corrida, o cartão de militante. Palmas aos dois africanos!
Aos que mantiveram dúvidas no gesto do novo inquilino, confiado o cheque em branco dos são-tomenses, bastou a composição do gabinete da presidência da república para traição à própria aposta “no trabalho árduo, no mérito, no respeito pelo próximo, na harmonia e na paz”, o sacro juramento do Chefe do Estado, testemunhado pelos Presidentes português, Marcelo Rebelo de Sousa (o modelo) e bissau-guineense, Umaru Sissoko Embaló (o inflamável), os Vice-presidentes de Angola, Bornito de Sousa e da Nigéria, Yemi Osinbajo e pelas demais individualidades estrangeiras e nacionais presentes, no dia 2 de Outubro, na tomada de posse.
Um mês que dilatou as duas datas, deu tempo suficiente ao eleito para vir no primeiro dia útil da cadeira de veneração, provocar apupos com o Decreto, o cocktail Treze, de nomeação de diretores, assessores, secretários e companhia, o governo presidencial paralelo ao do país.
O compromisso de deixar para trás
os “vugu-vugus”, foguetes, da longa campanha presidencial, lançados
parte-a-parte, ao trono da Nação, apareceu em contra-mão do discurso de posse,
Um desvio. Não está disponível a
reação oficial do MLSTP/PSD à eterna partida de um antigo dirigente, democrata
convicto, mestre em improvisos e governante de causas que, na semana passada, a
notícia de morte, aos 68 anos de idade, ocorrida
Manuel Vaz Afonso Fernandes, não era bom no que exibia, mais do que isso, era único e excelente orador que em “combate” com Filinto Costa Alegre, animava os ouvintes na pretensão de chegar ao alto da pujante tribuna dos juristas da ex-Cívica. Ao contrário de barbaridades, em que o parlamento se tornou praguejante adorável à condenável e humilhante via de fatos, o mestre, os pares da altura e os cúmplices do PCD, ministraram no arranque da democracia, o livre confronto de opinião e pensamento que na praça pública, permitiam aos dois blocos parlamentares, no lugar de ódio, exibirem na rua e com o elevado contágio, os abraços de amizade.
Aos familiares do malogrado, é oportuno associar às condolências e que o mural do “camarada” Manuel Vaz, não seja rasurado pelo tempo.
Por mais desastrosas queixas de abusos, querelas e desnorte, apontadas à Nova Maioria, não deveriam ser suficientes para a afronta da presidência satisfazer à lamuria perdedora “Por isso é que os dois blocos se entenderam. É bem claro e não tenho a menor dúvida que houve um entendimento político entre MLSTP e ADI nessas eleições presidenciais e os resultados estão claros“. O derrotado, Delfim Neves, que ao colo de Pascoal Daio, o presidente do Tribunal “Eleitoral”, paralisaram o país, um mês, sem responsabilização criminal, não deveria ter o Chefe do Estado, tão cedo, a dar sinais de enfiar a cabeça em maus lençóis e não o da conselheira, a Primeira-dama.
Um bolo de Natal, envenenado, também de nada enobrece aos dois partidos maioritários numa aliança, na treva, aplicarem a última machadada ao PCD e esmagar o presidente da Assembleia Nacional, que no murmúrio ao excessivo leite derramado na retumbante derrota na 1a. volta, reclamava ainda na entrevista à imprensa estrangeira “Eu quero aqui dizer de forma clara aquilo que aconteceu com o candidato apoiado pelo PCD. Claro que foi uma tramoia montada contra o candidato para que o PCD não ascendesse.”
O “vungunu-vangana” da Nação, queda em queda, espelhado no arrojo político partidário-presidencial, assenta-se no argumento de que Carlos Vila Nova, sem mesmo subalternizar-se ao partido, apenas se sente confiante nos cartões de identificação azuis, ou seja, os quadros, amigos e simpatizantes de ADI. Todo o resto, exclusão.
A polícia do pensamento livre, fuzil na mão apontando à liberdade opinativa e taticamente aquartelada nos partidos políticos, não deixa manobra à utilidade do poder da sociedade civil, forçada à colagem partidária, de impacto negativo, daí da difícil missão do engenheiro abastecer-se, escapulindo ao arame-farpado partidário.
A premiação dos fanáticos e porta-vozes do partido, compondo os Treze discípulos, excessivos do seu gabinete, governo competitivo ao da república, deixa sem rasura, a tempestade de questionar ao Presidente da República. Quem fica na terra, não mede a paixão dos de “côbô d’awa” aquando são-lhes injetados anti-corpos das ilhas. Parabéns à poetisa, São Deus Lima, pela universalidade de “afroinsularidade”.
O empresário Carlos Vila Nova, na débil situação económica e financeira, esbanjaria o autêntico despesismo com a malta de ADI na gestão da sua empresa, numa aposta de competência, eficiência e eficácia, já testada e vaiada num curto e inaugural texto de representatividade do Estado, ao mais alto, enviado ao homólogo português?
Ah! Não. O mais alto Magistrado, por miopia, obedeceu ao organograma da presidência da república, deixado pelos anteriores ocupantes da cadeira do palácio cor-de-rosa. Quantos funcionários gerem os “ministros” da presidência da república?
Se não for para pagar de semblante amoroso aos que dariam a própria vida, à eleição de Vila Nova, apenas 5 conselheiros, uma mão de dedos, bastaria ao gabinete da presidência, se fosse eleita a realidade económica e financeira de rasto do país que escasseia o simples algodão nas duas unidades hospitalares e nos centros de saúde.
O Presidente da República, na primeira semana de atividade e sono no colchão de ouro, teve tempo no único hospital de São Tomé, o outro é no Príncipe, para soprar a areia nos olhos do povo ao comover-se aquando “in loco” penetrou-se no sofrimento dos pacientes, sem medicamentos e atendimentos básicos, nas antigas enfermarias enfermas de bactérias daninhas. O antigo ministro das Infraestruturas e Recursos Naturais do XVI governo, regressou ao local de crime, atentado à saúde pública e ausência de água, mais de uma década, num país pluvioso e anotou a má prestação do XVII governo. Não usou os 17 milhões de USD de empréstimo kuwaitiano na construção do novo hospital, para tal, os sindicatos das classes, dias após a visita presidencial, terem corrido ao palácio com o “ferro-quente” às mãos de Vila Nova.
Ainda no cocktail ministerial da presidência, a faixa maioritária nacional reclamada num brilhante e refletivo texto “19 de Setembro: o paradoxo de uma celebração?” do professor Lúcio Neto Amado, aquando da recente passagem do Dia das Mulheres, para ser-lhes facultada a luz de iluminar as ilhas, elas não foram tidas, nem achadas. O partido no roteiro, dito por não dito, introduziu os dez dedos nos olhos do Chefe do Estado, embora na caça dos votos, este havia elegido no estandarte, a inclusão no centro da agenda presidencial. Tudo não passou de poesias de campanha eleitoral, encostando as dinâmicas jovens, uma vez mais, no “cantchin di cama”.
Na linha de disponibilidade presidencial, propalou-se a cidadã Celiza Deus Lima, a antiga signatária da Reforma da Justiça, na altura, contestada pela classe jurídica e pelos partidos parlamentares, mas acarinhada pelo poder absolutista de ADI, daí o mais alto Magistrado piscar os olhos à sociedade civil. Na composição do órgão de aconselhamento, não vinculativo, entendeu por bem, ter por perto a advogada no Conselho de Estado.
Os conflitos de interesse e sintomas de extravagância, enquadrados na patologia vingativa que vêm sujando a luta pelo poder entre os dois palácios, da presidência da república e do governo, mas do que conspiração contra a democracia, não abona em nada o progresso das ilhas com o duplo gasto público, a dar eficácia aos opinadores do rápido presidencialismo, apesar de outros défices, na gestão política do país.
O Chefe do Estado com as contas a acertar para com o executivo que, anteriormente, pretendia ver-lhe nos calabouços, não vai precipitar a queda do governo para indigitar como é moda partidária, o Secretário-Geral de ADI, Américo Ramos, quem viu o sol quadrado – uma mão lava a outra – para assegurar a transição, na perspetiva de inaugurar as eleições antecipadas. A expetante Vida-boa, reanimada pela vitória de Vila Nova, deve descer à cidade, sem malabarismo e ao seu tempo, em caravanas festivas, para lá abraçar o presidente, em férias prolongadas no estrangeiro, de vir liderar, pós eleitoral, a política económica-social dos são-tomenses.
Ao corresponder a agenda partidária, acima dos interesses nacionais, a zona de conforto de milhares de eleitores, não militantes, que na impossibilidade de melhor opção, votaram no cidadão Carlos Vila Nova, possível de coabitação, ao certo desfraldará o benefício de dúvidas que lhes inspirava num Presidente da República, não do mesmo, mas de todos os filhos-da-terra.
O Primeiro-ministro, por seu turno, ao bem do Tesouro Público, deveria aproveitar a remodelação (não dispõe de poder para demitir o ministro do imbróglio da droga, nem os outros graduados da incompetência) para o aperto da equipa governativa. Já falta menos tempo para o sacrifício de Bom Jesus na cruz eleitoral do final de 2022.
Caso sinta sobrecarregado na cumulação de pastas, não deve despistar para agradar ditames partidários ou certa análise que premeia equipa grande. Deposite a confiança na ministra Edite Ten Jua – a performance feminina no discurso nas Nações Unidas deixou em alta a fasquia ao Vila Nova – transferindo-lhe a pasta da Defesa e Ordem Interna (não há muito a fazer), ou seja, a “diplomata” entenderá da agenda de partilha de Relações Exteriores e Defesa nas audiências com o Presidente da República.
O novo ministro de Planeamento, Finanças e Economia Azul, Engrácio da Graça, nomeação assertiva por inerência de função anterior, por bagagem e consideração, não deve desfraldar expectativas. Há que redobrar os esforços urgentes na resposta salarial, orçamental e nos desafios com os parceiros internacionais.
Com o gesto de emagrecimento das despesas públicas, o “cientista” da universidade argelina, Carlos Vila Nova, terá lição a estudar de que o Estado debilitado, não é diferente da sua empresa, sem cofre para tantos cargos, salários de ouro, viaturas topo de gama, mordomias, viagens e demais cordas no pescoço do povo, faminto mas festivo, que lhe confiou a engenharia de mudar a mentalidade tacanha, odiosa, despesista e de ajuste de contas, instalada na república.
O empresário de sucesso, simplesmente, não deve deixar que o faz-de-contas e a manipulação partidária, façam de Chefe do Estado, o político de insucesso.
Ao Presidente da República, Carlos Vila Nova, o desejo de maiores sucessos.
*José Maria Cardoso
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