Os dois maiores sindicatos cabo-verdianos manifestaram-se contra as subidas dos preços e do custo de vida no país, e pediram a reposição do poder de compra dos trabalhadores, com aumento salarial de 2%.
As posições foram manifestadas pelos líderes da União Nacional dos Trabalhadores Cabo-verdianos -- Central Sindical (UNTC-CS) e da Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres (CCSL), após encontros separados com o Presidente da República, José Maria Neves, que está a ouvir vários quadrantes sociais sobre o Orçamento de Estado e a situação económica do país.
UNTC-CS: Aumento do custo de vida pede aumento salarial
O primeiro sindicato a ser recebido foi a UNTC-CS, cuja secretária-geral, Joaquina Almeida, disse que abordou com o chefe de Estado a "situação complexa" dos trabalhadores e suas famílias, com a subida dos impostos e aumento do custo de vida. Por isso, exigie a reposição do poder de compra dos trabalhadores, com aumento salarial na função pública de 2%.
"Nós pedimos 5% e pensamos que 2% é o mínimo", indicou a porta-voz da maior central sindical cabo-verdiana, mostrando-se igualmente contra a possibilidade do aumento do IVA de 15 para 17%, lembrando que essa proposta não foi discutida no conselho de concertação social.
Para a líder sindical, o momento em que o país vive exige esforços de todos, não só dos trabalhadores e do cidadão comum, mas também do Governo e da classe política, em resposta ao facto de o executivo já ter descartado aumentos salariais para o próximo ano.
"Tudo o que vem da parte dos trabalhadores o Governo descarta sempre. Demonstra que os trabalhadores são sempre deixados para trás, mas esquecem-se que são os trabalhadores que contribuem para a construção e desenvolvimento do país", frisou.
Outro assunto que a
secretária-geral da UNTC-CS abordou com o chefe de Estado foi a
sustentabilidade do sistema de segurança social
"Também mostramos que há uma falta de respeito e dignidade para com os parceiros sociais, que há uma certa urgência para se dignificar a concertação social", terminou Joaquina Almeida.
CCSL: Trabalhador cabo-verdiano sem poder de compra
Seguiu-se a presidente da Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres, José Manuel Vaz, que também considerou que a situação económica e social do país "não é nada fácil", derivado ao aumento do desemprego e da pobreza, dos preços da água, combustíveis e do IVA.
"E o poder de compra dos trabalhadores cabo-verdiano está a diminuir", deu conta o dirigente sindical, defendendo um aumento salarial de 2,6%, igual à taxa de inflação prevista para o próximo ano.
"Defendemos essa percentagem para que não haja uma heresia do salário, e do poder de compra dos trabalhadores e das famílias cabo-verdianas. Porque, perante os aumentos que temos no país, o trabalhador cabo-verdiano poderá chegar a um momento de não poder comprar nada, e aí vamos ter muitos problemas sociais", alertou José Manuel Vaz.
O presidente disse que a CCSL apoia o Orçamento do Estado, porque o país não pode funcionar sem orçamento, mas pediu igualmente aumento do salário mínimo para 14 mil escudos (126 euros).
Atualmente, Cabo Verde tem definido um salário mínimo nacional de 13.000 escudos (117 euros) no setor privado e de 15.000 escudos (135 euros) na função pública, mas o primeiro-ministro já afastou a possibilidade de um aumento devido à crise económica no país.
Esta semana, o Presidente da República recebeu o Governo e os partidos políticos, nas suas primeiras auscultações aos vários quadrantes da sociedade cabo-verdiana após tomar posse, a 9 de novembro.
"2022 será o ano da retoma económica"
A proposta de lei do Orçamento de Estado para o próximo ano, que vai ser discutida e votada no Parlamento na próxima semana, está orçada em cerca de 73 mil milhões de escudos (660 milhões de euros), menos 2% face ao orçamento em vigor.
Prevê um crescimento entre 3,5% e 6%, para fazer a ponte entre a pandemia e a retoma económica, depois das previsões entre 6,5% e 7% este ano, e da forte recessão económica de 14,8% em 2020, por causa dos efeitos da pandemia da Covid-19.
Já a inflação deverá situar-se entre 1,5% e 2%, o défice orçamental ainda negativo (- 6,1%), dívida pública de 150,9% do Produto Interno Bruto (PIB) e taxa de desemprego a reduzir para 14,2%, depois de 14,5% nos últimos dois anos.
O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, disse que é "um dos orçamentos mais difíceis" da história do país, garantindo que o momento que o país vive é transitório e que 2022 vai ser o ano da saída da crise e da retoma económica.
Deutsche Welle | Lusa
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