domingo, 21 de novembro de 2021

Portugal | TRALHA MALUCA

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Partido Socialista tem um trilema. Primeiro, sofre de um grave problema de relacionamento com o Tribunal de Contas (TC) - porventura com todos os que escrutinem a sua acção -, depois padece de conflitos com as políticas de habitação e por último - mas não menos importante - apresenta uma difícil relação com a verdade. Vamos por partes. Em Janeiro de 2020, depois de um relatório do Tribunal de Contas declarar que o preço de venda de onze imóveis da Segurança Social à Câmara de Lisboa foi inferior em 3,5 milhões ao valor de mercado, o PS soltou as mandíbulas. "Deve ter sido escrito por mentecaptos, lido por mentecaptos e sancionado por mentecaptos. São a tralha toda da maluqueira nacional", declarou o deputado do PS Ascenso Simões sobre os respectivos juízes.

Já Fernando Medina apelidou o dito documento de lamentável e incompetente. Mais tarde, o ministro Manuel Heitor considerou que a auditoria da mesma instituição ao financiamento do ensino superior era um "elogio à ignorância" acrescentando que se tratava de um extravasar das competências. Enfim, estes insultos foram todos anteriores às considerações sobre os inaceitáveis impropérios a Ferro Rodrigues, claro. Adiante. Certo é que a casta política nos dias pares enche a boca com o esfalfado "À justiça o que é da justiça", enquanto nos ímpares lança chamas sobre o TC e às suas auditorias das aplicações do nosso dinheiro. No fundo, de segunda a domingo, estes podres podres não suportam transparência e prestação de contas. Não toleram a verdade.

Agora, ano e meio volvido, o Tribunal de Contas concluiu que as medidas do Governo para a habitação durante a covid foram um fracasso. Foram previstos 63,5 milhões de euros, mas gastos apenas 10 milhões (16% do total). Houve medidas que nem sequer foram executadas. Zero. Lá está o problema deste PS com a habitação que, de resto, foi também um calcanhar de aquiles nas autárquicas em Lisboa. E como é que o governo reagiu a mais este escrutínio da Avenida da República? Adivinhou, caro leitor. O executivo respondeu com a mesma soberba, afirmando que o Tribunal de Contas não devia meter-se neste assunto (ignorado assim a sua missão maior).

De seguida, cumprindo o seu trilema, o governo ainda embrulhou a verdade. Reparem - a crise económica instalada (com pesadas consequências na habitação) é decorrente das escolhas políticas de António Costa. Não foi o sars que levou a esta destruição de emprego e de riqueza - as opções podiam ter sido outras. Esta gestão da covid emocional e radical é que gerou essas consequências. As medidas avaliadas pelo TC foram as que o mesmo governo decretou para almofadar o impacto das suas escolhas. Só que agora, sem se rir, Pedro Nuno Santos jura que não se cumpriu porque havia covid.

Ou seja, o governo provoca um problema, depois propõe uma solução e no fim diz que não pode executar a solução que ele mesmo propôs por causa do problema que ele próprio criou. Enfim, é evidente que António Costa e sua tropa estão mesmo à espera que sejam tão só e apenas mentecaptos a lerem a suas medidas e que os portugueses em geral, aos seus olhos, são mera tralha da maluqueira nacional. Lixo doido. Por isso também, senhor primeiro-ministro, um grande bem haja.

*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia

 # Caricatura de António Costa em Blogs.Sapo

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