"Os EUA tornaram-se arrogantes e autoconfiantes. Declararam vitória na Guerra Fria, quando salvámos juntos o mundo de um confronto", afirmou o último líder da URSS
A crise entre a Rússia e os países ocidentais tem origem na "arrogância" dos Estados Unidos após a queda da União Soviética, afirmou esta sexta-feira o último líder da URSS, Mikhail Gorbatchov.
"Os EUA tornaram-se arrogantes e autoconfiantes. Declararam vitória na Guerra Fria, quando salvámos juntos o mundo de um confronto", declarou Gorbatchov à agência de notícias RIA Novosti.
O crescimento da NATO para as ex-repúblicas soviéticas é, segundo o presidente Vladimir Putin, a principal causa da crise entre a Rússia e o Ocidente, que considera a estratégia uma ameaça para a segurança de Moscovo.
O Ocidente "decidiu construir um novo império e assim surgiu a ideia de ampliar a NATO", disse Gorbatchov, último presidente da antiga União Soviética (URSS). "Como se pode contar com relações de igualdade com os Estados Unidos e o Ocidente em tal posição?", questionou, na véspera do 30.º aniversário da sua renúncia como líder da URSS.
Putin pediu recentemente aos Estados Unidos e aos seus aliados a assinatura de um tratado que proíba a ampliação da NATO para leste.
Washington, que considera inaceitáveis algumas das reivindicações da Rússia, aceitou iniciar negociações em janeiro.
A renúncia de Mikhail Gorbatchov do cargo de presidente da União Soviética, a 25 de dezembro de 1991, marcou o fim do império soviético, o que Putin já chamou de "maior catástrofe geopolítica do século XX".
Considerado uma das figuras mais importantes da segunda metade do século XX, Gorbtchov continua uma figura controversa. O seu papel no fim da Guerra Fria, que lhe valeu até um Prémio Nobel da Paz, foi mais apreciado a Ocidente do que a Leste. Na Rússia, a sua liderança, que tentou maior abertura e uma reestruturação da economia, celebrizando conceitos como Glasnost (transparência) e Perestroika (reconstrução), continua a ser criticada por não ter impedido o colapso soviético, que resultou num declínio da influência russa no mundo e precedeu uma crise económica.
NATO fará "o necessário" para garantir segurança face ao reforço das tropas russas na fronteira com a Ucrânia
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, insistiu esta quinta-feira que a aliança militar ocidental fará "o necessário" para garantir a segurança face ao reforço militar russo junto às fronteiras da Ucrânia, mas mantendo-se em simultâneo "aberta ao diálogo" com Moscovo.
"Continuamos a avaliar as implicações para a nossa segurança e faremos o que seja necessário para garantir a segurança e defesa de todos os aliados da NATO, enquanto permanecemos abertos ao diálogo", indicou Stoltenberg na sua conta pessoal no Twitter.
O político norueguês emitiu estes comentários após ter abordado o aumento das tropas e armamento russo junto à Ucrânia com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, e o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, segundo informou.
Na terça-feira, o secretário-geral da Aliança assegurou estarem preparados para manter um "significativo diálogo" com a Rússia, e que tem a intenção de convocar uma nova reunião do Conselho NATO-Rússia o mais rapidamente possível a partir do próximo ano.
O contacto entre as partes deteriorou-se após a NATO ter retirado a acreditação aos diplomatas da missão russa na Aliança, acusados de "espionagem", com Moscovo a responder com o encerramento das delegações da organização no seu país.
Na semana passada, a Rússia propôs à NATO a assinatura de um acordo de garantias de segurança que previna a adesão à NATO de países provenientes da ex-União Soviética.
Moscovo também exortou os aliados a desistirem de toda a atividade militar junto às suas fronteiras, desde a Europa de leste ao Cáucaso e Ásia Central.
O acordo incluiu sugestões sem precedentes, como a retirada de tropas e armamento deslocados desde a assinatura em 1977 do acordo que regula as suas relações, e que implicaria a saída das forças aliadas da Polónia e das três repúblicas do Báltico, membros da NATO desde 2004.
Stoltenberg assegurou que a Aliança não comprometerá o direito de qualquer país, incluindo a Ucrânia, de decidir sobre a sua adesão à organização militar aliada, nem prescindirá do princípio da defesa coletiva.
Diário de Notícias | AFP | Imagem: © EPA/ALAIN-PIERRE HOVASSE
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