Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião
Tive alguma simpatia por Eduardo Cabrita quando, nos tempos da troika, pôs um secretário de Estado na linha, desligando-lhe o microfone porque, evidentemente, no Parlamento há regras a cumprir e mandam os deputados e não o Governo. Como ministro, não gostei da sua atuação, sempre com cara de zangado com o mundo e cometendo diversos erros, quanto mais não fosse de comunicação, ao longo destes anos, em que se tornou o bombo da festa, principalmente dos partidos da Direita.
Demitiu-se, agora, invocando as razões erradas. É evidente que, sobre o acidente, embrulhou-se em afirmações infelizes. Mas um acidente rodoviário é isso mesmo: um acidente. Que, infelizmente, como acontece diariamente em Portugal, vitimou uma pessoa, destruindo uma família e ensombrando a vida de quem esteve envolvido no mesmo. Mas só o estilo CMTV (que contagiou a Direita e os órgãos de comunicação social que preferem as audiências à seriedade) pode transformar este acidente na reivindicação da demissão de um ministro. Não apenas porque, de facto, foi um acidente, independentemente do incumprimento do Código da Estrada (se fosse na Alemanha, esse código teria sido cumprido). Mas, principalmente, porque ao defenderem esta demissão por esta causa estão a desonrar a memória de um cidadão ucraniano - Ihor Homenyuk - torturado até à morte por serviços tutelados por Cabrita. Aí, sim, exigia-se a sua demissão. Não por ser o responsável direto por este inqualificável ato, mas porque seria a melhor forma de mostrar que comportamentos destes não são toleráveis. Sairia com honra. Tendo continuado, sai pela porta pequena. A mesma onde estão todos aqueles que, na altura, tiveram tímidas reações e, agora, se puseram em bicos de pés....
*Engenheiro
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