O que é a
Regra da Lei?
O que é
mercado livre?
O que é
democracia?
O que é
autocracia e "autoritarismo"?
O que é
neoliberalismo?
O que são
direitos de propriedade?
O que é
uma economia fracassada?
A
alternativa
O Sr. Soros fez uma birra pública
por não poder ganhar com a China o tipo de dinheiro fácil que conseguiu quando
a União Soviética foi destruída e privatizada. A 7 de Setembro de 2021, no seu
segundo grande artigo em uma semana, George Soros expressou o seu horror
perante a recomendação da BlackRock, a maior gestora de activos do mundo, de
que os gestores financeiros deveriam triplicar o seu investimento na China.
Alegando que tal investimento colocaria em perigo a segurança nacional dos EUA
ao ajudar a China, o Sr. Soros reforçou a sua defesa das sanções financeiras e
comerciais dos EUA.
A política da China de moldar
mercados para promover a prosperidade global, ao invés de deixar o excedente
económico concentrar-se nas mãos de investidores corporativos e estrangeiros, é
uma ameaça existencial para as prioridades neoliberais da América, afirma ele.
O programa "Prosperidade Comum" do Presidente Xi "procura
reduzir a desigualdade através da distribuição da riqueza dos ricos à população
em geral. Isso
não augura nada de bom para investidores estrangeiros". [1] Para
os neoliberais, isso é heresia".
Criticando o "cancelamento
abrupto de uma nova emissão da China pelo grupo Ant do Alibaba em Novembro de
2020", e o "banimento das empresas de tutoria da China financiadas
pelos EUA ", o Sr. Soros destaca o co-fundador de Blackstone, Stephen
Schwarzman (Note-se que a Blackstone sob o comando de Schwartzman não deve ser
confundido com a BlackRock sob o comando de Larry Fink) e o antigo presidente
da Goldman Sachs, John L. Thornton, por procurarem obter retornos financeiros
para os seus investidores, em vez de tratar a China como um estado inimigo e um
adversário da Guerra Fria que se aproxima:
A iniciativa da BlackRock põe em
perigo os interesses de segurança nacional dos EUA e de outras democracias
porque o dinheiro investido na China ajudará a reforçar o regime do Presidente
Xi ... O Congresso deveria aprovar legislação que desse poderes à Securities
and Exchange Comission para limitar o fluxo de fundos para a China. O esforço
deve ter apoio bipartidário.
O New York Times publicou
um artigo importante definindo a "Doutrina Biden" como vendo "a
China como o competidor existencial da América; a Rússia como um disruptor; o
Irão e a Coreia do Norte como proliferadores nucleares, ameaças cibernéticas em
evolução permanente e o terrorismo a propagar-se muito para além do
Afeganistão". Contra estas ameaças, o artigo descreve a estratégia dos EUA
como representando a "democracia", o eufemismo para países com
governos mínimos que deixam o planeamento económico para os gestores
financeiros de Wall Street, e as infra-estruturas nas mãos de investidores
privados, não fornecidas a preços subsidiados. Nações que restrinjam os
monopólios e a relacionada busca de rendas não merecidas são acusadas de serem
autocráticas.
O problema, naturalmente, é que
tal como os Estados Unidos, a Alemanha e outras nações se tornaram potências
industriais nos séculos XIX e XX através de infra-estruturas patrocinadas pelo
governo, tributação progressiva e legislação antimonopólio, a rejeição destas
políticas após 1980 levou-as à estagnação económica para os 99 por cento
sobrecarregados pela deflação da dívida e pelo aumento dos encargos rentistas
pagos aos sectores Financeiro, de Seguros e Imobiliário (FIRE). A China está a
prosperar, seguindo precisamente as políticas pelas quais as antigas nações
industriais líderes tornaram-se ricas antes de sofrerem da doença da financeirização
neoliberal. Este contraste suscita o impulso do artigo, resumido no seu sumário
do que espera que se torne uma Doutrina Biden apoiada pelo Congresso de
escalada de uma Nova Guerra Fria contra economias nãoneoliberalizadas,
contrapondo o imperialismo liberal-democrata patrocinado pelos EUA contra o
socialismo estrangeiro:
No mês passado, o Sr. Blinken
advertiu que a China e a Rússia estavam "a argumentar em público e em
privado de que os Estados Unidos estão em declínio – por isso é melhor tentarem
a sua sorte com as suas visões autoritárias para o mundo do que com a nossa
visão democrática" [2].
O Sr. Soros viu o fim da Guerra
Fria abrir o caminho para ele e outros investidores estrangeiros para usar a
"terapia de choque" para facilitar colheitas na Rússia, seguida pela
crise asiática muito mais vasta de 1997 como uma oportunidade de encher o seu
saco de compras com os activos mais lucrativos que proporcionassem rendal. Ele
está inquieto por o Presidente Xi não estar a emular Boris Yeltsin e deixar
emergir uma cleptocracia cliente na China tal como na economia da Rússia – o
que fez do mercado de acções russo o queridinho do mundo durante alguns anos,
1995-97.
Logo após a Crise Asiática, a
administração de Bill Clinton admitiu a China na Organização Mundial do
Comércio, dando a investidores e importadores dos EUA acesso a trabalho de
baixo preço capaz de competir com o trabalho industrial estado-unidense. Isso
ajudou a travar ganhos salariais nos EUA, ao passo que a China utilizou o
investimento estrangeiro como um meio de melhorar a sua tecnologia e de o
trabalho se tornar economicamente auto-suficiente. Ela não deixou o seu sistema
monetário ou organização social tornar-se financeiramente dependente de
"mercados" a funcionarem como veículos para o controle
estado-unidense como o sr. Soros esperava que ocorresse quando começou a
investir na China.
A China reconheceu desde o
princípio que a sua insistência em manter o controle da sua economia –
pilotando-a para promover a prosperidade geral, não enriquecer uma oligarquia
cliente frente a uma classe investidora estrangeira – criaria oposição política
dos ideólogos da Guerra Fria nos EUA. A China portanto quiz aliados da Wall
Street, oferecendo oportunidades de fazer lucro à Goldman Sachs e outros
investidores cujo auto-interesse levou-os na verdade a se oporem a políticas
anti-China.
Mas o êxito da China criou tantos
multimilionários que ela agora procura restringir a riqueza excessiva. Essa
política cortou drasticamente os preços das principais acções chinesas, levando
o sr. Soros a advertir investidores quanto a salvamentos (bail out). A
sua esperança é que isto levará a China a controlar e reverter a sua política
de elevar padrões de vida a expensas do envio dos seus ganhos económicos para
os EUA e outros investidores estrangeiros.
A realidade é que a China não
precisa do dinheiro dos EUA ou de outros estrangeiros para desenvolver-se. O
Banco Popular da China pode criar todo o dinheiro que a economia interna
necessita, enquanto o seu comércio de exportação já está a inundá-la com
dólares e a pressionar para cima a sua taxa de câmbio.
John McCain caracterizou a Rússia
como um posto de gasolina com bombas atómicas (deixando de reconhecer que é
agora o maior exportador mundial de cereais, já não dependendo mais do Ocidente
para o seu abastecimento alimentar – graças em grande medida às sanções
comerciais patrocinadas pelos EUA). A imagem corolária é dos Estados Unidos
como uma economia financiarizada e monopolizada com bombas atómicas e ciber
ameaças, em perigo de se tornar um estado falhado como a antiga União Soviética
mas a ameaçar deitar abaixo toda a economia mundial se outros países não
subsidiarem a sua economia da Nova Guerra Fria, a cavalo da dívida.
Apresentando-se a si própria como
a principal democracia do mundo, apesar da sua oligarquia financeira interna e
do seu apoio a oligarquias clientes no exterior, os Estados Unidos consolidaram
o poder financeiro na sequência das hipotecas-lixo e da fraude bancária de
2008.
A decisão política e a alocação
de recursos saíram das mãos da política eleitoral significativa para àquelas do
sector das Finanças, Seguros e Imobiliário (Finance, Insurance and Real Estate,
FIRE) e daquilo que Ray McGovern chamou de MICIMATT, o complexo
Military-Industrial-Congressional-Intelligence-Media-Academic-Think Tank,
incluindo as grandes fundações e ONGs. Estas institituições procuram concentrar
rendimento e riqueza nas mãos da oligarquia do sector FIRE assim como o Senado
romano impedia reformas sobre legislação popular mediante o poder de veto e as
câmaras altas de parlamentos, tal como a Casa dos Lordes britânica, utilizam um
poder estrangulador semelhante para resistir ao controle governamental no
interesse público.
A ascensão do neoliberalismo
patrocinado pelos EUA significa que o combate do século XIX por mercados livres
da finança predatória patrocinadora do parasitismo rentista fracassou. Este
fracasso é celebrado como uma vitória da regra da lei, democracia, direitos de
propriedade e mesmo dos mercados livres em relação à autoridade do poder
público para regular a busca de riqueza privada. Integrar a economia global de
acordo com linhas unipolares que permitam a interesses financeiros dos EUA e
das economias aliadas da NATO apropriarem-se dos activos de países estrangeiros
mais lucrativos e produtores das mais altas rendas é idealizado como a evolução
natural da civilização, não como a estrada para a servidão neoliberal e a
escravidão da dívida corporificada no que responsáveis estado-unidenses chama a
Regra da Lei.