sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Um jornalismo económico caduco e fora da realidade

# Publicado em português do Brasil

Enquanto o mundo debate expandir gastos sociais e tributar super ricos, velha mídia brasileira insiste na cartilha neoliberal: mais juros para conter inflação e “austeridade” contra a crise – sempre com mesmas fontes e superficialidade

Luis Nassif, no GGN | em Outras Palavras

A economia mundial atravessa uma das fases mais instigantes da história. Morreu o consenso de Washington, o liberalismo de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, o fiscalicídio do Banco Europeu, a ortodoxia do Fundo Monetário Internacional. 

Verdades que, por décadas sustentaram as análises econômicas, estão ruindo, sob o peso da realidade. Metas de inflação, curva de Phillips, dominância fiscal, PIB potencial, taxa de juros de equilíbrio, papel do Estado na economia, há uma discussão ampla e irrestrita nos melhores centros acadêmicos.

No Brasil, o jornalismo econômico ouve do economista que Lei do Teto contra a inflação, Lei do Teto para crescimento, Lei do Teto para lumbago e dor de dente. São sempre as mesmas fontes, repetindo os mesmos diagnósticos, com a mesma superficialidade de quem considera os fatos como obstáculos às teorias.

Essa burocratização da mídia tem sonegado aos leitores temas fundamentais, como é o caso do imposto sobre as grandes fortunas mundiais, que dominou as primárias do Partido Democrata americano nas últimas eleições.

Não se pode olhar a realidade apenas do lado fiscal. A tributação é fundamental para a redução das desigualdades e para impedir a concentração excessiva de riqueza – e, consequentemente, de poder político – no grupo dos bilionários.

Brasil: entre o fascismo social e o fascismo político

# Publicado em português do Brasil

Luiz Marques | Carta Maior

“Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!”
Cecília Meireles


O Brasil está submetido a uma democracia de baixa intensidade, num regime social que oficializa a exclusão, através da fome e do abandono, de todas e todos que a dinâmica capitalista considera peças defeituosas da engrenagem de acumulação. Vive-se hoje “em uma sociedade politicamente democrática e socialmente fascista”. Donde se depreende a necessidade de, na Difícil Democracia, Reinventar a Esquerda, para lembrar o ensaio que Boaventura de Sousa Santos publicou pela editora Boitempo, em 2016. Ano em que o Parlamento, sob as vistas grossas do Judiciário, rasgou a Constituição no impeachment de uma presidenta honesta (Dilma Rousseff) - sem crime de responsabilidade. O Senado admitiu o erro, ao não retirar-lhe os direitos políticos. O fato foi secundarizado na mídia.

O estrago com o golpe parlamentar-jurídico-midiático, porém, foi consumado. Com o que a democracia trocou de categoria, de ruim para pior, e tornou-se de baixíssima intensidade. E seguiu descendo a ladeira, depois da aprovação da emenda constitucional que suspendeu por vinte anos os investimentos em educação e saúde. A nefasta obra se completou na entrega do órgão de poder responsável pela política monetária, o Banco Central, aos banqueiros e rentistas. Sem mencionar as terceirizações e a reforma do sistema previdenciário.

Em uma democracia de alta intensidade há um equilíbrio entre os ideais de liberdade individual e as políticas governamentais para potencializar a justiça social. Não é o que acontece, hoje. O presidente Bolsonaro fez da noção pervertida de liberdade o sinônimo da primazia do egoísmo no espaço público. De modo que o valor supremo do governo se manteve sempre distante do projeto civilizatório orientado pelo solidarismo. Ao contrário, converteu o “estado de natureza” hobbesiano em seu habitat natural: homo homini lupus:

a) Na política, ao defender os direitos individuais em contraposição aos direitos da coletividade, boicotando de forma deliberada as recomendações das autoridades sanitárias na pandemia, no que tange ao uso de máscaras e ao isolamento social, e promovendo frequentes aglomerações. Se fez publicidade da Hidroxicloroquina, com a divulgação de uma campanha que evitasse a propagação do vírus não gastou um centavo que fosse;

b) Na economia, por defender o laissez-faire do mercado à revelia dos interesses das maiorias. E abrir mão da estocagem de alimentos para regular o consumo interno, em proveito das exportações favorecidas pelo câmbio (dólar alto, real baixo). Isto é, deixou de fazer o certo em uma crise econômica para proteger a segurança alimentar da população.

O resultado foi a elevação dos preços, por exemplo, da carne e frango em supermercados, o que contribuiu para a inflação de dois dígitos. Não à toa, ruralistas estão empenhados em sustentar o ímpeto golpista da “familiciana”. Dispostos, inclusive, a arregimentar caminhões das empresas do agronegócio, com lastro de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos agrários, - para gerar o caos propício à decretação de um Estado de emergência: “agro é tech, agro é pop, agro é tudo”… Para quem, com vezo colonial-escravista, pensa o país como entreposto comercial, o slogan é perfeito. O bem comum da nação é nada. Óbvio.

CEDEAO aplica sanções a líderes do golpe na Guiné-Conacri

A organização exigiu o restabelecimento da ordem constitucional num prazo máximo de seis meses. E deixou claro que os líderes do golpe militar não podem concorrer às próximas eleições presidenciais.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) impôs esta quinta-feira (16.09) sanções contra os líderes do golpe de Estado perpetrado no passado dia 5 na Guiné-Conacri e exigiu o regresso à ordem constitucional em seis meses.

"A transição deve ser muito curta. Os chefes de Estado da CEDEAO afirmaram claramente que a transição não deve durar mais de seis meses, por isso, em seis meses, devem ser realizadas eleições. Não haverá necessidade de uma transição longa, porque o país precisa de voltar à ordem constitucional", disse à imprensa o presidente da Comissão da CEDEAO, Jean-Claude Kassi Brou.

O bloco de 15 países reafirmou o apoio da organização ao poder na Guiné-Conacri para regressar às mãos dos líderes civis. E deixou claro que os líderes do golpe militar não podem concorrer às próximas eleições presidenciais.

A cimeira de chefes de Estado reafirmou a sua exigência para a imediata libertação e sem quaisquer condições do Presidente deposto, Alpha Condé. A CEDEAO ameaça responsabilizar individual e coletivamente os membros do comando militar que assumiu o poder no país pela integridade física de Condé, de 83 anos.

Cabo Delgado: Família raptada por terroristas foi resgatada

Família foi resgatada pela força conjunta e relata os momentos de terror vividos às mãos dos insurgentes. Polícia diz que já foi restabelecida a segurança em Quissanga e apela à população que regresse a casa.

O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, disse esta quinta-feira (16.09), em Pemba, que já estão garantidas as condições de segurança no distrito de Quissanga, anteriormente palco de incursões terroristas. Por isso, exortou a população daquela zona a voltar às suas terras.

"Podem voltar", assegurou. "É verdade que as vias de acesso estão difíceis, mas não é impossível chegar a Quissanga hoje para produzirmos. Vamos voltar a casa para ser o exemplo para os distritos que estão mais ao norte. A riqueza do moçambicano é a terra."

O apelo segue-se a intensos confrontos que culminaram com a expulsão do grupo que aterrorizou e ocupou, no ano passado, a sede distrital, provocando mortes, destruições e a fuga das populações.

Minicimeira de Luanda apela ao cessar-fogo na RCA

Chefes de Estado e de Governo dos Grandes Lagos pediram em Luanda o cessar-fogo na República Centro-Africana. Altos dirigentes condenaram o golpe de Estado na Guiné-Conacri e exigiram a libertação do Presidente deposto.

No discurso de abertura da minicimeira de Luanda sobre a República Centro-Africana (RCA), o Presidente angolano, João Lourenço, manifestou a sua preocupação pelo embargo de armas ao país.

"A RCA está a viver um contexto político interno diferente, [...] sendo que a prevalência desta situação impede as autoridades centro-africanas de usufruir das capacidades necessárias para garantir a sua própria segurança", referiu o chefe de Estado, que é também presidente em exercício da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).

João Lourenço encorajou o chefe de Estado da RCA, Faustin-Archange Touadéra, a "continuar com a força de vontade e compromisso que tem demonstrado, assumindo e liderando este processo de paz", capitalizando os esforços de negociação que têm sido levados a cabo.

"Num momento em que assistimos ao recrudescer das ações de terrorismo na região do Sahel, ao ressurgimento do fenómeno do mercenarismo e à alteração da ordem constitucional por via de golpes de Estado na África do Oeste, como no Mali e mais recentemente na Guiné, a República Centro-Africana não deve perder esta oportunidade que se lhe oferece de alcançar a paz", advogou Lourenço esta quinta-feira (16.09).

Porque o Ocidente se intromete nas eleições da Rússia?

Porque o Ocidente está se intrometendo nas próximas eleições legislativas da Rússia?

# Publicado em português do Brasil

AndrewKorybko* | OneWorld

O Ocidente não está apenas travando uma Guerra Híbrida na Rússia, mas também nas mentes de seu próprio povo.

Evidências explosivas surgiram confirmando a intromissão do Ocidente nas próximas eleições legislativas russas. O jornalista da RT Murad Gazdiev compartilhou imagens no Twitter do agente estrangeiro financiado pelo Ocidente Golos, que se esconde por trás da fachada pouco convincente de serem observadores eleitorais, dizendo às pessoas em uma reunião que “Nosso trabalho é mostrar que essas eleições são ilegítimas ... Infelizmente, há menos violações … Então, nós temos instruções escritas para expulsar todos vocês das urnas, para mostrar que essas eleições são ilegítimas ”.

Isso coincidiu com o chanceler Lavrov dizendo à imprensa que “as autoridades russas estão esperando por uma resposta depois de apresentar ao embaixador americano um dossiê sobre supostos exemplos de tentativas dos EUA de interferir nas próximas eleições do país”, segundo a RT . O principal diplomata do país disse que as empresas de tecnologia dos EUA se recusaram a bloquear conteúdo proibido em suas plataformas. Tudo isso acontece depois da suspeita crise de saúde do agente da OTAN Navalny no ano passado e subsequente prisão após seu retorno à Rússia por violações da liberdade condicional.

Essa operação de interferência tem como objetivo desacreditar a votação que se aproxima, a fim de aumentar a pressão sobre a Rússia, independentemente de seu partido no governo, Rússia Unida, vencer ou não. Isso não vai moldar o resultado de maneira realista, então pode-se concluir que seu propósito é mais sobre gerenciamento de percepção do que qualquer outra coisa. Não está claro se as sanções ocorrerão após as eleições, mas esses esforços podem, no mínimo, desacelerar qualquer possível degelo entre a Rússia e a UE após a conclusão do Nord Stream II .

Doutrina Biden acalma as tensões dos EUA com a China

# Publicado em português do Brasil

MK Bhadrakumar* | Asia Times | opinião

A política acaba com o excesso de assertividade dos EUA e busca os interesses tangíveis dos EUA e espera que outros estados façam o mesmo

Uma conversa telefônica de 90 minutos entre os presidentes dos Estados Unidos e da China certamente virou notícia mundial, mas a ligação de Joe Biden para seu Xi Jinping na sexta-feira chama atenção especial por seu tempo, pano de fundo e conteúdo. 

Ele chega “pós-Afeganistão”, na véspera do 20º aniversário dos ataques de 11 de setembro e em meio a grandes expectativas de uma “Doutrina Biden” lutando para nascer na política externa dos EUA. Todos os três são momentos decisivos em meio a sinais seguros de um declínio lento e constante dos Estados Unidos, que está se acelerando recentemente. 

Um excelente ensaio na revista Foreign Affairs define a Doutrina Biden da seguinte forma: Uma "versão coerente do realismo pragmático - um modo de pensamento que valoriza o avanço dos interesses tangíveis dos EUA, espera que outros estados sigam seus próprios interesses e muda o curso para obter o que os Estados Unidos precisam de um mundo competitivo ... [marcando] uma mudança bem-vinda de décadas de política externa dos EUA excessivamente assertiva que desperdiçou vidas e recursos em busca de objetivos inatingíveis. ” 

Claro, a definição acima é apenas parcialmente correta. Não foi Biden um fervoroso defensor da expansão da OTAN, o ponto de inflexão na política das grandes potências da era pós-Guerra Fria? George Kennan avisou naquela época com grande presciência: 

“Por que, com todas as possibilidades esperançosas engendradas pelo fim da Guerra Fria, as relações Leste-Oeste deveriam se centrar na questão de quem seria aliado de quem e, por implicação, contra quem de alguma forma fantasiosa, totalmente imprevisível e mais improvável futuro conflito militar?

“Declarado sem rodeios… expandir a OTAN seria o erro mais fatal da política americana em toda a era pós-Guerra Fria. Pode-se esperar que tal decisão inflama as tendências nacionalistas, antiocidentais e militaristas da opinião russa; ter um efeito adverso no desenvolvimento da democracia russa; para restaurar a atmosfera da guerra fria para as relações Leste-Oeste, e para impulsionar a política externa russa em direções decididamente não do nosso agrado ... ” 

O vocabulário da diplomacia neoliberal na Nova Guerra Fria

Michael Hudson [*]

O que é a Regra da Lei?

O que é mercado livre?

O que é democracia?

O que é autocracia e "autoritarismo"?

O que é neoliberalismo?

O que são direitos de propriedade?

O que é uma economia fracassada?

A alternativa

O Sr. Soros fez uma birra pública por não poder ganhar com a China o tipo de dinheiro fácil que conseguiu quando a União Soviética foi destruída e privatizada. A 7 de Setembro de 2021, no seu segundo grande artigo em uma semana, George Soros expressou o seu horror perante a recomendação da BlackRock, a maior gestora de activos do mundo, de que os gestores financeiros deveriam triplicar o seu investimento na China. Alegando que tal investimento colocaria em perigo a segurança nacional dos EUA ao ajudar a China, o Sr. Soros reforçou a sua defesa das sanções financeiras e comerciais dos EUA.

A política da China de moldar mercados para promover a prosperidade global, ao invés de deixar o excedente económico concentrar-se nas mãos de investidores corporativos e estrangeiros, é uma ameaça existencial para as prioridades neoliberais da América, afirma ele. O programa "Prosperidade Comum" do Presidente Xi "procura reduzir a desigualdade através da distribuição da riqueza dos ricos à população em geral. Isso não augura nada de bom para investidores estrangeiros". [1] Para os neoliberais, isso é heresia".

Criticando o "cancelamento abrupto de uma nova emissão da China pelo grupo Ant do Alibaba em Novembro de 2020", e o "banimento das empresas de tutoria da China financiadas pelos EUA ", o Sr. Soros destaca o co-fundador de Blackstone, Stephen Schwarzman (Note-se que a Blackstone sob o comando de Schwartzman não deve ser confundido com a BlackRock sob o comando de Larry Fink) e o antigo presidente da Goldman Sachs, John L. Thornton, por procurarem obter retornos financeiros para os seus investidores, em vez de tratar a China como um estado inimigo e um adversário da Guerra Fria que se aproxima:

A iniciativa da BlackRock põe em perigo os interesses de segurança nacional dos EUA e de outras democracias porque o dinheiro investido na China ajudará a reforçar o regime do Presidente Xi ... O Congresso deveria aprovar legislação que desse poderes à Securities and Exchange Comission para limitar o fluxo de fundos para a China. O esforço deve ter apoio bipartidário.

O New York Times publicou um artigo importante definindo a "Doutrina Biden" como vendo "a China como o competidor existencial da América; a Rússia como um disruptor; o Irão e a Coreia do Norte como proliferadores nucleares, ameaças cibernéticas em evolução permanente e o terrorismo a propagar-se muito para além do Afeganistão". Contra estas ameaças, o artigo descreve a estratégia dos EUA como representando a "democracia", o eufemismo para países com governos mínimos que deixam o planeamento económico para os gestores financeiros de Wall Street, e as infra-estruturas nas mãos de investidores privados, não fornecidas a preços subsidiados. Nações que restrinjam os monopólios e a relacionada busca de rendas não merecidas são acusadas de serem autocráticas.

O problema, naturalmente, é que tal como os Estados Unidos, a Alemanha e outras nações se tornaram potências industriais nos séculos XIX e XX através de infra-estruturas patrocinadas pelo governo, tributação progressiva e legislação antimonopólio, a rejeição destas políticas após 1980 levou-as à estagnação económica para os 99 por cento sobrecarregados pela deflação da dívida e pelo aumento dos encargos rentistas pagos aos sectores Financeiro, de Seguros e Imobiliário (FIRE). A China está a prosperar, seguindo precisamente as políticas pelas quais as antigas nações industriais líderes tornaram-se ricas antes de sofrerem da doença da financeirização neoliberal. Este contraste suscita o impulso do artigo, resumido no seu sumário do que espera que se torne uma Doutrina Biden apoiada pelo Congresso de escalada de uma Nova Guerra Fria contra economias nãoneoliberalizadas, contrapondo o imperialismo liberal-democrata patrocinado pelos EUA contra o socialismo estrangeiro:

No mês passado, o Sr. Blinken advertiu que a China e a Rússia estavam "a argumentar em público e em privado de que os Estados Unidos estão em declínio – por isso é melhor tentarem a sua sorte com as suas visões autoritárias para o mundo do que com a nossa visão democrática" [2].

O Sr. Soros viu o fim da Guerra Fria abrir o caminho para ele e outros investidores estrangeiros para usar a "terapia de choque" para facilitar colheitas na Rússia, seguida pela crise asiática muito mais vasta de 1997 como uma oportunidade de encher o seu saco de compras com os activos mais lucrativos que proporcionassem rendal. Ele está inquieto por o Presidente Xi não estar a emular Boris Yeltsin e deixar emergir uma cleptocracia cliente na China tal como na economia da Rússia – o que fez do mercado de acções russo o queridinho do mundo durante alguns anos, 1995-97.

Logo após a Crise Asiática, a administração de Bill Clinton admitiu a China na Organização Mundial do Comércio, dando a investidores e importadores dos EUA acesso a trabalho de baixo preço capaz de competir com o trabalho industrial estado-unidense. Isso ajudou a travar ganhos salariais nos EUA, ao passo que a China utilizou o investimento estrangeiro como um meio de melhorar a sua tecnologia e de o trabalho se tornar economicamente auto-suficiente. Ela não deixou o seu sistema monetário ou organização social tornar-se financeiramente dependente de "mercados" a funcionarem como veículos para o controle estado-unidense como o sr. Soros esperava que ocorresse quando começou a investir na China.

A China reconheceu desde o princípio que a sua insistência em manter o controle da sua economia – pilotando-a para promover a prosperidade geral, não enriquecer uma oligarquia cliente frente a uma classe investidora estrangeira – criaria oposição política dos ideólogos da Guerra Fria nos EUA. A China portanto quiz aliados da Wall Street, oferecendo oportunidades de fazer lucro à Goldman Sachs e outros investidores cujo auto-interesse levou-os na verdade a se oporem a políticas anti-China.

Mas o êxito da China criou tantos multimilionários que ela agora procura restringir a riqueza excessiva. Essa política cortou drasticamente os preços das principais acções chinesas, levando o sr. Soros a advertir investidores quanto a salvamentos (bail out). A sua esperança é que isto levará a China a controlar e reverter a sua política de elevar padrões de vida a expensas do envio dos seus ganhos económicos para os EUA e outros investidores estrangeiros.

A realidade é que a China não precisa do dinheiro dos EUA ou de outros estrangeiros para desenvolver-se. O Banco Popular da China pode criar todo o dinheiro que a economia interna necessita, enquanto o seu comércio de exportação já está a inundá-la com dólares e a pressionar para cima a sua taxa de câmbio.

John McCain caracterizou a Rússia como um posto de gasolina com bombas atómicas (deixando de reconhecer que é agora o maior exportador mundial de cereais, já não dependendo mais do Ocidente para o seu abastecimento alimentar – graças em grande medida às sanções comerciais patrocinadas pelos EUA). A imagem corolária é dos Estados Unidos como uma economia financiarizada e monopolizada com bombas atómicas e ciber ameaças, em perigo de se tornar um estado falhado como a antiga União Soviética mas a ameaçar deitar abaixo toda a economia mundial se outros países não subsidiarem a sua economia da Nova Guerra Fria, a cavalo da dívida.

Apresentando-se a si própria como a principal democracia do mundo, apesar da sua oligarquia financeira interna e do seu apoio a oligarquias clientes no exterior, os Estados Unidos consolidaram o poder financeiro na sequência das hipotecas-lixo e da fraude bancária de 2008.

A decisão política e a alocação de recursos saíram das mãos da política eleitoral significativa para àquelas do sector das Finanças, Seguros e Imobiliário (Finance, Insurance and Real Estate, FIRE) e daquilo que Ray McGovern chamou de MICIMATT, o complexo Military-Industrial-Congressional-Intelligence-Media-Academic-Think Tank, incluindo as grandes fundações e ONGs. Estas institituições procuram concentrar rendimento e riqueza nas mãos da oligarquia do sector FIRE assim como o Senado romano impedia reformas sobre legislação popular mediante o poder de veto e as câmaras altas de parlamentos, tal como a Casa dos Lordes britânica, utilizam um poder estrangulador semelhante para resistir ao controle governamental no interesse público.

A ascensão do neoliberalismo patrocinado pelos EUA significa que o combate do século XIX por mercados livres da finança predatória patrocinadora do parasitismo rentista fracassou. Este fracasso é celebrado como uma vitória da regra da lei, democracia, direitos de propriedade e mesmo dos mercados livres em relação à autoridade do poder público para regular a busca de riqueza privada. Integrar a economia global de acordo com linhas unipolares que permitam a interesses financeiros dos EUA e das economias aliadas da NATO apropriarem-se dos activos de países estrangeiros mais lucrativos e produtores das mais altas rendas é idealizado como a evolução natural da civilização, não como a estrada para a servidão neoliberal e a escravidão da dívida corporificada no que responsáveis estado-unidenses chama a Regra da Lei.

Natal é o próximo grande desafio no controlo da pandemia

PORTUGAL

Reunião no Infarmed salientou o sucesso da vacinação no controlo desta "fase da pandemia" e deixou cenários para o outono/inverno. Máscara mantém-se em transportes e lares

Sei o que fizeste no Natal passado. Este podia ser o mote dos cenários traçados para a evolução da pandemia nos próximos outono e inverno e apresentados ontem, na reunião de peritos em saúde pública que decorreu no Infarmed. Numa sessão que assinalou sobretudo o "extraordinário êxito" do processo de vacinação em Portugal, que contribuiu decisivamente para "provavelmente antecipar o fim de uma fase da pandemia", DGS e INSA apontaram para o próximo período festivo de final de ano como uma fase crucial para avaliar a evolução da covid-19 no país, pois "as festividades podem coincidir com um período de menor efetividade da vacina" nos grupos de risco que já foram inoculados no início de 2021.

Depois de exporem vários dados para atestar a importância da vacinação - como o facto de, na primeira semana de agosto, quatro em cada cinco casos de internamentos por covid-19 não terem vacinação completa, aumentando para 14 em cada 15 doentes em cuidados intensivos - Pedro Pinto Leite (DGS) e Baltazar Nunes (INSA - Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge) alertaram para os novos desafios trazidos pelo outono e inverno, com o regresso às escolas e ao trabalho presencial e as festas de Natal e Ano Novo a fazerem aumentar a mobilidade e eventuais cadeias de transmissibilidade do vírus, como aconteceu no ano passado.

Na memória de todos ficaram as consequências desse período, com o país a enfrentar a pior vaga da pandemia no início de janeiro, deixando hospitais quase em rotura e recordes diários de mortes. Desta vez, os peritos da DGS e do INSA traçam três cenários para o outono-inverno, do menos grave até ao mais grave, colocando de novo o ênfase na vacinação.

As mulheres em Portugal ainda valem menos que os homens

Mulheres ganham 78% do salário dos homens com as mesmas qualificações

As mulheres em Portugal têm mais dificuldades em arranjar trabalho e chegam a ganhar 78% do salário dos homens em empregos com as mesmas qualificações, revela um relatório da OCDE.

Estas são algumas das conclusões do relatório «Education at a Glance 2021», divulgado hoje pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), sobre o estado da educação no mundo.  

Na escola, as raparigas têm melhores desempenhos e chumbam menos do que os rapazes. São também cada vez mais as que chegam ao Ensino Superior, mas no momento de entrar no mercado de trabalho, a situação complica-se.

«As mulheres jovens têm menos probabilidade de ter emprego do que os homens, especialmente aqueles com níveis de educação mais baixos», lê-se no relatório sobre a situação relativa a Portugal.  

No ano passado, apenas 65% das mulheres entre os 25 e os 34 anos que tinham concluído o 9.º ano estavam empregadas, em comparação com 80% dos homens em Portugal.

Portugal | A ameaça à deputada e a todos nós

Manuel Molinos* | Jornal de Notícias | opinião 

São inaceitáveis as ameaças de morte à deputada Inês Sousa Real, independentemente da sede onde foram proferidas. Representam um ataque não apenas à porta-voz do PAN, mas a toda a sociedade e ao Estado democrático. Foi a própria que denunciou as injúrias, ameaças e tentativa de coação. "Ó p... mete-te a pau com o que dizes, senão vais ser morta", foi a mensagem que recebeu, quarta-feira à noite, via Facebook.

Poderemos cair na tentação de desvalorizar o tema, argumentando o costume sobre as redes sociais. Que servem para difundir conteúdos falsos, mentiras, ataques verbais, assédios, etc. E que é habitual porque são frequentadas também por pessoas desequilibradas, que, escondidas atrás de um ecrã de computador ou de um telemóvel, dizem o que querem. Frequentadas por indivíduos que descarregam ódio sempre e em qualquer oportunidade. Os "haters".

Inês Sousa Real resolveu não minimizar o problema. Até porque, segundo a deputada, não foi a primeira vez que recebeu ameaças e ofensas. "Confesso que não compreendo como é que alguém se sente no direito de ofender e ameaçar outra pessoa, pelo simples facto de estar na política e de defender as causas em que acredita. Desde que fui eleita porta-voz do partido PAN que passei a receber mensagens deste teor", escreveu no Twitter.

A diferença é que, desta vez, foi ameaçada de morte e resolveu, e muito bem, apresentar queixa ao Ministério Público. No passado, outras queixas tiveram o mesmo destino, mas acabaram arquivadas porque as autoridades não conseguiram identificar os autores dos perfis falsos usados para proferir os insultos.

Mas este não é apenas um problema da Justiça. Nem a Justiça pode arquivar uma única queixa deste calibre. Os autores têm de ser investigados e responsabilizados.

Isto não é a democratização da informação. É crime e deve ser punido.

*Diretor-adjunto

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