domingo, 16 de janeiro de 2022

Angola | DERROTADOS ONTEM DESESPERADOS HOJE

Artur Queiroz*, Luanda

Angola Junho de 1992. O Papa João Paulo II visitou o país. Agentes da UNITA, armados até aos dentes, andavam pelas ruas de Luanda montados em carrinhas militares GMC fornecidas pelos EUA, intimidando as populações. Angola, Janeiro de 2022. O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves fez uma visita oficial a Angola. Agentes da UNITA disfarçados de taxistas lançaram o caos em Luanda. Como não podem exibir armas (por enquanto) incendeiam, agridem, destroem. 

Angola 1992. A comunicação social portuguesa garantia que a UNITA ia ganhar eleições porque todos os partidos que estiveram no poder e foram a votos, saíram estrondosamente derrotados. Hoje estão mais comedidos porque não recebem o dinheiro dos diamantes de sangue. Mas tal como o jornal Público e a SIC se destacavam naquele tempo de mudança do regime angolano, hoje destacam-se os Media privados angolanos e alguns agentes avençados.

José Gama, servente da Irmandade Africâner, dono do Clube Kwacha (Club K) e instrutor de Adalberto da Costa Júnior diz que ataques às instalações de um partido político em Luanda, barricadas com pneus a arder nas ruas, agressões, intimidações e a destruição de um autocarro do Ministério da Saúde que transportava doentes e técnicos, foram encenações para acusar a UNITA. 

Eugénio Costa Almeida comentou a declaração do Presidente João Lourenço sobre os acontecimentos em termos iguais aos da UNITA, desde que se tornou uma unidade especial das forças de defesa e segurança do regime de apartheid da África do Sul. Tudo o que é acção do Galo Negro, está bem. Qualquer resposta, nem que seja uma declaração conciliadora do Chefe de Estado, é um perigo, estão a fazer mal à UNITA. Se o grande intelectual Eugénio da Costa Almeida precisa de fazer este papel asqueroso para ter uns cobres na conta bancária, mais vale fazerem assaltos aos velhos, quando vão buscar as suas reformas aos correios.

O advogado do diabo (UNITA) está muito escandalizado porque Bento Bento denunciou pessoas “com as vestes da UNITA” no assalto, destruição e incêndio das instalações do MPLA no distrito urbano de Benfica. Eugénio da Costa Almeida diz que “isto é muito perigoso sobretudo em vésperas de eleições, que vão realizar-se em Agosto”. Pois, estamos em vésperas da morte deste Costa que é Almeida, daqui a muitos e longos anos, assim espero. Janeiro é vésperas de Agosto, senhor Adalberto Costa Almeida Sénior?

Véspera é o dia imediatamente anterior a outro. Também se chama véspera ao tempo entre o meio-dia e o anoitecer. Lá está, véspera da noite. Claro que o advogado do diabo (UNITA) enviou uma mensagem subliminar e está a referir-se às “vésperas sicilianas”, quando os sicilianos, em fúria, fizeram uma matança geral de franceses, na revolta contra o governo de Carlos de Anju, rei de Nápoles. Calma, calma, isto foi na Idade Média. E as máfias organizadas da UNITA não têm a mínima hipótese de matar nas ruas de Luanda, como fizeram em 1992. Esse foi o ano em que o Galo Negro mergulhou nas trevas para sempre.

Factos indesmentíveis. A Rádio Despertar, no programa IN, apresentado por Horeb dos Reis, dedicou mais de meia hora à preparação da greve golpista. De três em três segundos, um dos autores morais da rebelião com destruições, assaltos, agressões e tentativas de homicídio chamava barata tonta ao Chefe de Estado. Horeb Reis é um agente do projecto macabro que o Presidente João Lourenço denunciou. Oiçam a gravação do IN e depois tirem as conclusões.

No final do programa, o agente da UNITA (King) que comandou o ataque às instalações de um partido político (MPLA) e incendiou o autocarro do Ministério da Saúde, foi à antena, apresentou-se como o “Bróder King” e garantiu que estava tudo preparado para segunda-feira. Cumpriu. Dois jornalistas não foram queimados vivos, por uma mera distracção do acaso. O plano era repetir em Benfica os acontecimentos de Cafunfo. Falharam por pouco.

A direcção da UNITA fez uma reunião com Rafael Inácio, presidente da Associação dos Taxistas de Angola. Prometeu que segunda-feira ia arder tudo. Cumpriu. Não vale a pena desmentir porque eu tenho uma foto autêntica da reunião.

Angola 1992. Savimbi empurrou Miguel Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes, porque eles não aceitavam mais a mentira, o embuste´, a traição, a violência gratuita, o assassinato de companheiros de direcção da UNITA, a morte nas fogueiras da Jamba de mulheres e crianças, “filhos de feiticeira são feiticeiros”. Miguel Puna e Tony da Costa Fernandes denunciaram que aos angolanos e ao mundo que Jonas Savimbi tinha escondido as melhores armas, os melhores comandantes e soldados para tomar o poder pela força, caso perdesse as eleições. Verdades puras e cristalinas! Como não foram investigadas, deu a tragédia que só terminou em 2002.

Angola 2022. A direcção interna da UNITA expulsou ou suspendeu militantes e dirigentes porque não aceitam o clima de golpismo interno como base de partida para a tomada de poder pela força, após a explosão da bomba atómica social em Luanda e outras cidades angolanas. Os expulsos e suspensos têm razão. Sabem que em Angola jamais será possível essa via. Mas a direcção geral da UNITA em Pretória e Lisboa acha que sim e os paus mandados cá dentro, avançam cegamente para o abismo.

O Cazaquistão entrou em modo violência e morte porque na última década o país foi capturado por Organizações Não Governamentais (ONG) funcionando na lógica das quadrilhas mafiosas e antenas dos serviços secretos ocidentais. Angola está no mesmo caminho. A Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), a Associação Construindo Comunidades (ACC), a Associação Ame Naame Omunu (ANO) e a OMUNGA vieram explicar os acontecimentos de segunda-feira como uma “manobra do regime” para justificar a repressão. Emitiram um comunicado delirante assinado, entre outros, pelo padre Jacinto Pio Wacussanga João Malavindele. Quem é?

Antes das eleições de 2017, estas e outras organizações, atreladas à UNITA, anunciaram a constituição de um Governo de Salvação Nacional exactamente com as mesmas justificações que usam hoje. Um dos membros desse governo salvador era o padre Jacinto Pio Wacussanga João Malavindele. Os fiéis das suas paróquias na Huíla denunciaram que ele andava a gastar em proveito próprio, as ofertas e os dízimos. A diferença de ontem para hoje é que a direcção geral  da UNITA (Lisboa e Pretória) anda a distribuir muito dinheiro pelos salvadores. Se Deus existe, que ponha juízo neste padre. 

A UNITA vendeu-se ao colonialismo, a culpa foi da Eva. A UNITA vendeu-se ao regime de apartheid, a culpa foi da cobra. A UNITA vendeu-se aos restos do colonialismo em Lisboa e à Irmandade Africâner, a culpa foi da maçã. A Rádio Despertar, da UNITA, no seu programa IN, gastou oito minutos e 16 segundos a mobilizar as tropas para a guerra de segunda-feira. A culpa foi de Bento Bento. O militante da UNITA que comandou o assalto, roubo, destruição e incêndio das instalações do MPLA no distrito urbano de Benfica (Bróder King)  anunciou no programa IN que ia fazer o que fez. A culpa é da polícia que não impediu.

No dia seguinte a ir para o ar o programa IN na Rádio Despertar, Adalberto da Costa Júnior enviou uma mensagem subliminar às suas tropas, envolvida num texto com 22 000 caracteres: “Vamos todos dizer basta! Se necessário vamos sair à rua e defender os nossos interesses”. King e seus comandos cumpriram. A culpa foi do general Bock. A sua alma regressou para se vingar de Jonas Savimbi que o assassinou com pauladas na cabeça. Atenção, o general era da UNITA e sobrinho do criminoso de guerra!

José Gama é muito desajeitado para agente dos karkamanos. Pôs a circular que o assalto às instalações do MPLA em Benfica foi uma manobra do Executivo para culpar os taxistas. Isto porque ao lado da sede distrital do partido, está uma esquadra da Polícia Nacional e os agentes não agiram. Isso queria a Irmandade Africâner! Perante aquele quadro, se os agentes passassem à ofensiva, das duas uma, ou eram linchados ou causavam um banho de sangue. As duas coisas também eram possíveis. 

O agente da UNITA King e seus comparsas fizeram tudo para que a multidão atacasse a esquadra, mas falharam. Se tal acontecesse, ia morrer muita gente. No Cafunfo conseguiram. Que este caso sirva de lição ao alto comando da Polícia Nacional. Eles vão repetir estas operações mais vezes.

A Polícia Nacional não saiu para a rua em força porque a visita de um Chefe de Estado estrangeiro, José Maria neves, estava a decorrer e ele passou por várias artérias da cidade. Os atacantes sabiam disto. Por isso desencadearam os golpes no Cacuaco, em Viana e Benfica. Impediram os acessos ao centro de Luanda. Tudo bem planeado. 

O Presidente João Lourenço, na sua mensagem, deixou claro que ninguém pode fazer justiça pelas próprias mãos. As autoridades não vão consentir essa barbárie. Isso é com a UNITA. Mas é bom que todos compreendam isto. Para milhões de angolanos, ataques às instalações do MPLA são como ataques às suas casas. Não voltem a repetir esse crime. 

Um tal Edgar Valles voltou ao jornal de sobrinhos & madalenos para tratar do seu negócio que é o 27 de Maio. Claro que ao entrar em cena nesta altura, também bancou o negócio da UNITA, às ordens da sua direcção em Lisboa. Como estou de férias, digo que concordo cem cento com ele, quando pede a revelação pública de todos os documentos sobre o golpe de estado militar, a cuja direcção política pertencia sua irmã, Sita Vales, ainda que só o marido a levasse a sério. Segundo Nito Alves, ele e o marido, Zé Van-Dúnem, mandaram matar os comandantes das FAPLA.

Todas e todos os dirigentes do golpe receberam papel e caneta para redigirem um depoimento sobre a sua participação no golpe. Todas e todos redigiram e assinaram o que escreveram. Divulguem ainda hoje esses depoimentos. O banditismo político não passou na altura, não passará hoje. Estou de férias, deixem-me descansar!

*Jornalista

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