A Comunidade internacional condena o golpe de Estado, mas alguns cidadãos burquinabês estão expectantes por ver o Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração em ação.
O Presidente do Burkina Faso, Roch Kaboré, demitiu-se esta terça-feira (25.01) após a tomada do poder pelos militares, na sequência do golpe de Estado do passado domingo, protagonizado pelo Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração (MPSR), liderado pelo tenente-coronel Paul Damiba.
Algumas manifestações de contentamento popular foram observadas em Ouagadougou, capital do Burkina Faso.
Simpatizantes do Movimento Popular para o Progresso (MPP, o partido de Kaboré) e residentes dizem-se a favor do golpe.
"Votei no MPP. Não me arrependo da minha escolha. Mas vejo hoje que o que nos foi dito não foi concretizado. 80% da população estava farta, por isso podemos dizer que é um golpe salutar", afirma um apoiante.
Outro cidadão confirma que "as pessoas estavam cansadas", as restrições às liberdades eram demais.
"Tentámos com o regime deposto, mas não funcionou. Vamos tentar com eles. Há golpes o tempo todo. No Burkina Faso, ninguém gosta disso. Adoramos a paz e queremos avançar. Esperamos algo novo deles, algo que faça o país avançar."
Prioridades do MPSR
As prioridades do Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração (MPSR) são muitas, frisa o analista político, Aziz Dabo: "Trabalhar para proteger o território nacional e restabelecer a ordem, e criar condições favoráveis a uma verdadeira reconciliação nacional."
Dabo apela ao MPSR que não leve a cabo uma "caça às bruxas". "Não precisamos de criar um clima para nos desunir", explica.
O Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração compromete-se a propor, dentro de um prazo razoável e após consultas, um cronograma para o retorno à ordem constitucional, aceite por todos.
"Libertação imediata"
A Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pede a "libertação imediata" de Roch Kaboré.
"Pedimos aos militares que libertem imediatamente o Presidente e outros altos funcionários que tenham sido detidos", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do gabinete de Bachelet, numa conferência de imprensa em Genebra, esta terça-feira.
A responsável "deplora profundamente a tomada do poder pelos militares" e "apela a um rápido regresso à ordem constitucional".
Também o Presidente francês, Emmanuel Macron, condenou o golpe no Burkina Faso, informando ter estado em contacto com os "líderes da região" sobre a tomada do poder pelos militares.
"Tive as primeiras discussões com os líderes da região e terei mais nos próximos dias", disse Macron, à margem de uma viagem à região do Limousin.
"Muito claramente, como sempre, estamos ao lado da organização regional CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] na condenação deste golpe militar", acrescentou o chefe de Estado francês.
Para Emmanuel Macron, este golpe de Estado "faz parte de uma sucessão de golpes militares extremamente preocupantes, numa altura em que a região [do Sahel] deve ter como prioridade a luta contra o terrorismo islâmico".
As organizações internacionais, nomeadamente a União Europeia, União Africana e CEDEAO, bem como os EUA, já sublinharam a sua preocupação com os acontecimentos no Burkina Faso e responsabilizaram as Forças Armadas pela integridade física do Presidente Kaboré.
Segundo informações do Presidente francês, "a integridade física [de Roch Kaboré] não está ameaçada".
Richard Tiéné | Deutsche Welle | Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário