segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Portugal | O BLOCO CENTRAL DISFARÇADO

Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião

António Costa, no debate com Rui Rio, aflorou finalmente a resposta à pergunta essencial: se, como tudo indica, o PS não tiver uma maioria absoluta e a Esquerda for maioritária na Assembleia da República, o que fará?

Costa, como é seu costume, foi fugidio, mas lá aventou a hipótese de fazer um acordo com o PAN ou de governar "à Guterres", ou seja, sozinho, negociando caso a caso a aprovação dos documentos legislativos.

Nesta tentativa atabalhoada de responder ao que verdadeiramente não quer responder, Costa deu um primeiro lamiré sobre o que nos pode esperar. É que Guterres (de quem Costa foi ministro em várias pastas) governou, essencialmente, à Direita. Ou será que não nos recordámos que, entre 1996 e 1999, os orçamentos passaram com a abstenção do PSD, liderado pelo professor Marcelo? E que foi o tempo do vergonhoso acordo PS/PSD para referendar a despenalização do aborto e da regionalização (pedidos de Marcelo que Guterres, aliviado, aceitou, dado que não queria o país dividido em regiões administrativas)? Ou que se procedeu à privatização de 60 empresas públicas? Ou que, mais tarde, passou a negociar o Orçamento com o chamado deputado do queijo limiano (que era do CDS)?

Ou seja, Costa não o diz, mas o que propõe é um bloco central disfarçado. E quem para isto está disponível é porque quer voltar às origens e governar à Direita. O que justifica a obsessão com a maioria absoluta e é um bom aviso para os eleitores de Esquerda. Que, votando no PS para afastar o perigo da Direita, desperdiçarão o seu voto, tornando-se cúmplices daquilo que não querem...

*Engenheiro

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