Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião
Com o debate da rádio de ontem, finda um ciclo de inúmeros debates entre os partidos com representação parlamentar.
A partir de agora, algo que se pensava confinado à não existência assoma: a batalha eleitoral segue na rua, dia e noite. A progressão e as suas ambíguas acepções. Apesar do progresso dos números da pandemia, a gravidade da doença tem sido contida pela efectividade do processo de vacinação. A confiança é tanta que os cidadãos em isolamento covid poderão exercer o seu direito de voto, segundo o parecer do Conselho Consultivo da PGR. Preferencialmente a pé ou em transporte individual, idealmente entre as 18 e 19h, o debate sobre a liberdade e o direito de voto dos infectados foi ultrapassado num ápice.
Quase infeccioso. Um dos pontos
fortes do debate colectivo da "liga dos parlamentares" foi a obsessão
do PS e do CDS com o PAN. Se para o CDS, a postura revela uma atitude
verdadeiramente conservadora (mas inusitada) na luta pelo antepenúltimo lugar,
já António Costa continua apostado em que os portugueses acreditem que poderá
ter uma maioria absoluta e que se faltar o fatal "poucochinho" em
política, aparecerão as linhas verdes do PAN. Até com o Livre, António Costa
resolveu traçar uma linha vermelha, acusando Rui Tavares de defender a energia
nuclear
Os 20,2 milhões de espectadores dos debates televisivos não se podem deixar enganar: Portugal não foi ultrapassado pela Checoslováquia. Mesmo que Rui Rio tenha aberto a porta à entrega do Ministério da Defesa a Chicão e um outro Ministério à IL (imaginem o das obras públicas, por ironia), sem que consiga ser claro sobre o poder a entregar à extrema-direita, o tempo não volta atrás. Mas há uma certeza. Caso o PSD ganhe as eleições e agregue IL e CDS num projecto de governo, tal não será suficiente. E a chantagem começará. Se o PS não viabilizar um governo de Direita, será acusado de entregar o poder à extrema-direita (que já exigiu ministérios a Rio). E serão todos, a derreter linhas vermelhas para assegurar a governabilidade, entregues aos braços uns dos outros.
O dia 31 será aquele em que as urnas abrirão para um dia em que todos nos juntamos na doença e decretamos o fim da pandemia sem levar um elefante de peluche para a mesa de voto. A democracia tem propriedades mágicas e só é pena que não se permita desinfectar alguns dos votos introduzidos. Votos de primeira e de segunda? Nem pensar. Apenas a certeza de que alguns portugueses estão e votarão doentes.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia
*Músico e jurista
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