Artur Queiroz*, Luanda
Há muito, muito, muito tempo havia um homem muito rico, muito rico, muito rico chamado Sô Vasco. Comprou caravelas de nau, pôs todas na água, correu com corrida, correu com corrida e um dia encontrou no meio do mar um homem muito grande, muito feio, que saiu da água e berrou:
- Xé Sô Vasco, vais aonde?
O Sô Vasco se assustou muito e respondeu baixinho:
- Sô Adamastor, faz favor, deixa só o branco chegar na Índia!
E ele deixou. Foi assim que os
portugueses aportaram a Calecute, em 1498. Depois, segundo Fernando Pessoa,
ficaram à boa vida. Porque antes, já tinham chegado à foz do rio Zaire (1482 e
1486) e navegaram com as caravelas de nau até às quedas de Ielala,
Banana, em 1885 ainda era uma cidade angolana. O governo da colónia decretou que a partir de 31 de Dezembro de 1882, os navios da Empresa Nacional de Navegação que navegassem entre a Costa Oeste de África e Portugal deviam escalar no porto do Banana em ambos os sentidos.
Com a Conferência de Berlim,
Portugal cedeu à Bélgica as suas possessões na margem direita do rio Zaire. Em
19 de Fevereiro de
Já estou a misturar tudo. Volto ao início. O engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior foi a Portugal buscar caravelas de nau para chegar ao poder. O problema é que no caminho vai encontrar milhões de adamastores que lhe vão perguntar:
- Xé Sô Adalberto à civil, vais aonde?
- Sô Povo Angolano, faz favor, deixa só o português chegar no poder. De novo!
Cada angolana é uma barreira intransponível. Cada angolano um gigante invencível. Não chegarão. Não passarão. Não mais roubarão diamantes de sangue. Nem vão pôr minas nas lavras e nos caminhos de acesso. Nem vão partir barragens, portos, aeroportos, pontes, pontões, pontecos e tudo o que seja obra pequenina, média, grande ou gigantesca. Nunca mais.
Adalberto da Costa Júnior fugiu para Portugal porque está implicado na greve golpista do 10 de Janeiro. Com medo das declarações dos detidos às autoridades, foi proteger-se debaixo das asas dos patrões. E pior. Neste momento, o líder da UNITA, o deputado Simão Albino António Dembo e o secretário-geral do Galo Negro, Álvaro Chikwamanga, são suspeitos de criar um esquema para financiamento ilegal do partido. Um problema mesmo muito grave que dá cadeia!
Adalberto da Costa Júnior, Simão
António Dembo e Álvaro Chikwamanga sacaram meio milhão de dólares “a
descoberto”, numa instituição bancária
O Presidente do MPLA, João Lourenço, denunciou em Menongue que a UNITA tem uma agenda clara de “atingir o poder a qualquer preço”. Pelos vistos, o financiamento ilegal do partido é uma via. Por muito boas que sejam as caravelas de nau que vai trazer do ultramar, Adalberto da Costa Júnior não passará.
Em Angola, pelo menos 61 por cento dos eleitores vão ser barreiras intransponíveis aos golpistas, Vamos ser todos adamastores intransigentes e inexpugnáveis. E dentro da UNITA muitos militantes, alguns dirigentes e grande parte dos votantes, não querem o regresso das caravelas de nau. O Sô Vasco da Costa Júnior está condenado à derrota.
O engenheiro à civil já mostrou que está mesmo disposto a tudo para chegar ao poder “mesmo que para isso tenha de desrespeitar a Constituição da República, a Lei e todos os princípios nos quais assenta o Estado democrático de direito”, como denunciou o presidente do MPLA. A parte mais importante da nossa agenda política vai ser impedir os golpes de Adalberto da Costa Júnior. É uma questão de cidadania. É o mínimo que se exige a quem está com a democracia.
*Jornalista
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