domingo, 13 de março de 2022

GLORIFICAÇÃO E FINANCIAMENTO DO NAZISMO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Em Dezembro de 2021, há apenas três meses, a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma proposta da Federação Russa que condenava o nazismo e neonazismo no mundo. Dois países votaram contra, o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e Ucrânia. Em tempo de propaganda desbragada, os jornalistas têm especial dever de se aterem aos factos, só factos e nada mais do que factos. Ninguém lerá nas minhas crónicas uma especulação ou uma réstia de propaganda. Quem quiser, pode consultar o texto desta proposta e a respectiva votação.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu ao governo da Ucrânia “para destruir todos os patógenos (bactérias e vírus) potencialmente perigosos dos seus laboratórios”. Ainda bem. Porque esta semana que agora termina, o porta-voz do Ministério da Defesa russo acusou os EUA de “patrocinarem um programa de armas biológicas na Ucrânia”. 

Moscovo garante que foram encontradas evidências desta denúncia, em laboratórios ucranianos. E foi divulgada abundante documentação apreendida nesses laboratórios. “O objetivo desta pesquisa biológica, financiada pelo Pentágono na Ucrânia, era criar um mecanismo para a disseminação furtiva de patógenos mortais", disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov.

O Governo de Pequim, nos últimos meses, instou Washington a revelar a rede mundial dos laboratórios onde existem actividades financiadas pelo Pentágono. Suspeita-se que estejam a produzir armas químicas e biológicas. O governo dos EUA diz que as alegações são hilariantes. Mas não revela a lista dos laboratórios que financia, sobretudo nos países da OTAN (ou NATO) vizinhos da Federação Russa. 

Em Janeiro deste ano surgiram graves confrontos na capital do Cazaquistão, Nursultan (antiga Alma-Ata). As tropas da Federação Russa “estabilizaram e normalizaram a situação” segundo uma nota da Presidência da República daquele país. Em Kiev e Kharkov, segunda maior cidade ucraniana, realizaram-se manifestações de protesto pela intervenção russa. Em represália pela acçãoo no Cazaquistão, milícias nazis do Batalhão de Azov executaram civis russos no Leste da Ucrânia onde, segundo relatórios públicos da Agência da ONU para os Direitos Humanos, há uma limpeza étnica desde 2014. 

As tropas da Federação Russa estabilizaram a situação social e política no Cazaquistão, mas também destruíram o maior laboratório instalado pelos EUA no país. Há a suspeita de que estavam a ser produzidas armas químicas e biológicas naquela unidade. Até hoje não foram reveladas provas. O Cazaquistão tem uma longa fronteira com a República Popular da China (região autónoma de Xinjiang) e a Federação Russa.

Operação militar especial na Ucrânia para desarmar e desnazificar o país. Angola foi pioneira numa intervenção do género. Os comandantes militares angolanos, quando Jonas Savimbi rasgou o Protocolo de Lusaka depois de espezinhar o Acordo de Bicesse, decidiram desarmar os marginais que se colocaram contra o regime democrático. Era essencialmente uma operação policial. Mas como os delinquentes capitaneados por Jonas Savimbi foram armados até aos dentes pelos ucranianos, foi preciso mobilizar as Forças Armadas Angolanas. A operação tinha também uma vertente política. 

A direcção da UNITA colaborou intimamente com os nazis de Pretória. Sim, na África do Sul existia um regime que tinha como base os valores do nazismo, plasmados no apartheid. Este convívio fez do Galo Negro uma organização política com a lógica das seitas. Altamente perigosa. Derrotados os sul-africanos, os seus ajudantes, à solta, tornaram-se muito perigosos. O pesadelo acabou no Lucusse, em 22 de Fevereiro de 2002. A Polícia Nacional e as Forças Armadas Angolanas conseguiram desarmar os bandoleiros e alguns foram mortos quanto tentavam alvejar as forças da ordem.

Na época ficou por realizar a segunda vertente da operação, que era desnazificar Angola ilegalizando a UNITA. O proverbial humanismo e a desmedida generosidade dos angolanos consentiram que os nazis continuassem a fazer parte do panorama político. Com seitas de fanáticos as contemplações são perigosas. O erro original tem imposto ao Povo Angolano grande sofrimento e é fonte de muita instabilidade social. Vamos resolver isso em Agosto. A UNITA tem de ser remetida para uma votação residual. Como aconteceu aos nazis da FNLA. O que restar, já não faz mal a ninguém.

O nazismo causou muita desgraça em Angola antes e depois da Independência Nacional. Os nazis de Pretória, em 23 de Agosto de 1981, invadiram a província do Cunene, (Operação Protea) e ocuparam uma faixa de 200 quilómetros desde a fronteira até à província da Huíla. Foram derrotados na Cahama. Levaram a guerra à província do Cuando Cubango. Foram esmagados no Triângulo do Tumpo. A seita nazi da UNITA deu cobertura a estes assaltos que causaram milhares de mortos e milhões de deslocados e refugiados.

Na noite de 24 de Dezembro de 1987, o general sul-africano Liebenberg visitou o posto de comando táctico no Cuando Cubango e exigiu ao operacional  coronel Fouché: “No máximo, entre os dias 2 e 5 de Janeiro de 1988 temos que colocar a UNITA no Cuito Cuanavale”. Na página 192 do livro “War in Angola: The Final South African Phase”, de Helmoed-Roemer Heitman, está escrito: “O general Liebenberg chegou ao posto de comando táctico sul-africano, com pelo menos mais cinco generais. Aí decidiram que no dia 2 de Janeiro as FAPLA tinham de conhecer o inferno”. Foi, precisamente, o contrário.

 Em 23 de Março de 1988 as tropas invasoras estavam derrotadas e Savimbi só sobreviveu porque Washington lhe deu a oportunidade de disputar as primeiras eleições multipartidárias em Angola. Derrotado eleitoralmente, sublevou-se até morrer em combate algures nas terras do Lunguébungo.

O 23 de Março (faltam poucos dias) é o Dia da Libertação da África Austral. O fim do regime nazi da África do Sul. Mas os nazis da UNITA continuam entre nós. Temos de resolver isso com a arma do voto. Nas eleições de Agosto vamos desnazificar Angola.

* Jornalista

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