quarta-feira, 2 de março de 2022

QUESTÕES NUCLEARES

Pedro Araújo* Jornal de Notícias | opinião

Vladimir Putin mandou colocar em alerta máximo as forças de dissuasão russas, que podem incluir a componente nuclear. Pode parecer mentira, mas a Ucrânia já foi a terceira maior potência nuclear do Mundo e, caso ainda ocupasse essa posição, a atual guerra nem teria começado. "A História explica isso", como disse António Costa ao comentar uma questão bem distinta durante a campanha das últimas legislativas.

Após a queda da URSS (1991), o arsenal nuclear da Ucrânia apenas era superado pelo dos EUA e da Rússia. Em território ucraniano havia mísseis intercontinentais apontados diretamente para os Estados Unidos.

Para além das armas nucleares em território russo, havia também um perigoso arsenal não só na Ucrânia mas também no Cazaquistão e na Bielorrússia. A validade das ogivas expirava em 1997. As instalações de armazenamento estavam lotadas e a sua manutenção e desmantelamento seguro exigiam recursos financeiros e tecnológicos significativos. Nenhum país da Comunidade de Estados Independentes tinha esses meios financeiros. O Cazaquistão e a Bielorrússia devolveram tudo a Moscovo. A Ucrânia ficou com o seu arsenal.

Perante o perigo que constituía o barril de pólvora ucraniano, a Rússia, os EUA e a Grã-Bretanha assinaram em 5 de dezembro de 1994 com as autoridades de Kiev o Memorando de Budapeste, segundo o qual os três países garantiam a unidade territorial daquela ex-república soviética, desde que a mesma renunciasse às armas nucleares. O acordo incluía também a Bielorrússia e o Cazaquistão. "Se a Ucrânia não tivesse abandonado as armas nucleares, ninguém a reconheceria como um país independente", recordou em 2011 o presidente do Conselho Supremo da Ucrânia, Volodimir Litvin.

A História mostra-nos como questões aparentemente secundárias são, na realidade, nucleares para explicar o presente.

*Editor-executivo

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