Era uma vez uma mulher que vivia na aldeia Tshivolika. Ela era a mais pobre de todos os pobres mas nunca estendeu a mão à caridade nem se humilhou perante ninguém. Tratava o que era seu, como se fosse um tesouro e olhava para o alheio sem inveja nem rancor. Aprendeu na solidão do Maiombe que a riqueza vai e vem como as folhas das bananeiras tocadas pelo vento.
Mamã Ibuca um dia resolveu ir a uma aldeia vizinha chamada Tshió-Didi, para visitar familiares que não via há muitos anos. Sem saber o que ia encontrar, disse para si:
- Vou levar comigo uma cabra, um molho de saca-folha e o meu lobo. Pode ser que os parentes estejam pobres e precisem deste meu gesto de amizade.
Dito isto preparou a sua trouxa, amarrou a cabrinha a uma muxinga e deixou o lobo à solta para abrir caminho. Faminto como sempre andava, na viagem enchia a barriga e quando chegassem ao fim da jornada não se atirava aos estranhos da aldeia de Tshió-Didi.
Acontece que para chegar à aldeia de Tshió-Didi era preciso atravessar um rio colossal, maior que o Congo e o Chiloango juntos. Como as águas revoltas estavam infestadas de jacarés, só era possível fazer a travessia de canoa.
O canoeiro disse a Mamã Ibuca:
- A minha canoa é pequena, tenho de fazer várias viagens para vos levar a todos. Primeiro vais tu, depois a cabra, a seguir o lobo e por fim o feixe de saca-folha.
- Mas como fazer a travessia por esta ordem? Se eu atravesso em primeiro lugar posso perder as oferendas para os meus parentes da aldeia de Tshió-Didi.
- Não tenhas medo, eu levo a canoa a bom porto e todos vão chegar sãos e salvos.
O canoeiro era muito experimentado e nunca a canoa virou com a ondulação do grande rio.
- Tu não percebes, bom barqueiro! Se deixo a cabra com o lobo, ele que anda sempre faminto, mal me apanhe no meio da travessia, come a cabrinha.
- Nesse caso levo primeiro o lobo e depois vais tu, a seguir levo a cabra e no fim vai o molho de saca-folha.
Mamã Ibuca olhou para o canoeiro, sorriu e disse:
- Bom barqueiro, tu queres ajudar, mas como posso deixar a cabrinha com o feixe de saca-folha? Mal ela se apanhe sem mim, devora as folhas que levo para o banquete que os meus parentes me hão-de oferecer.
Foi então que Mamã Ibuca decidiu que a solução era só uma: nunca deixar a cabra com a saca-folha, nem o lobo com a cabra.
Foi assim que a pobre mulher concluiu que era impossível passar para o outro lado do rio. Tinha de estar sempre presente para proteger a cabra da boca do lobo e o molho de saca-folha da cabra que tanto aprecia verdura.
Moral da história: Na vida, devemos saber quem precisa de protecção e quem deve ser salvo em primeiro lugar. Temos de evitar que os amigos fiquem entregues à sua sorte e sejam presas fáceis dos seus inimigos: Muna luzingo munto tufueti zaba una tu kiakula ntete ay zaba unkundi una uliata yaku bika una kutumbisa lufua
Provérbio: O que sabes não tem valor algum, o valor está no que fazes com o que sabes: Mana zabici misku luvalu lunvele wandji mana uvianga.
*Esta história foi-me contada por João Barros
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