quinta-feira, 23 de junho de 2022

Angola | A MUKANDA DO RAFAEL E O DESPEITO DA LUZIA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Rafael Mukanda, alto quadro da UNITA, partiu tudo, à boa maneira do Galo Negro, quando soube que Abel Chivukuvuku é o número dois da lista nacional de deputados da UNITA. O fogoso jovem não compreendeu o sinal que Adalberto da Costa Júnior mandou à sociedade angolana e ao eleitorado. Eu explico, ainda que muito preocupado com o que aí vem.

Abel Chivukuvuku é terrorista de papel passado. Tirou o curso de sabotagem e terrorismo urbano numa academia militar e policial marroquina. Nos anos de fogo da Jamba foi o grande mentor dos assassinatos políticos e das fogueiras que dizimaram as elites femininas da UNITA. Quando Savimbi se instalou no Miramar, em Luanda, a capital angolana foi invadida por uma onda de terror, organizada e executada pelo “número dois” desta lista nacional do partido.

Jonas Savimbi fugiu para o Huambo quando os votos estavam a ser contados. E na capital do Planalto Central, acolitado pelo bispo Viti (quando era padre baptizou a minha filha…) e com Abel Chivukuvuku a seu lado, levantou as suspeitas de fraude eleitoral. Depois fez um ligeiro sinal com a bengala e o seu ajudante falou: “Se publicarem os resultados eleitorais vamos reduzir Angola a pó. Vamos balcanizar Angola!” Este é o programa político de Chivukuvuku.

Publicados os resultados eleitorais que deram a maioria absoluta ao MPLA, Abel Chivukuvuku, Jeremias Chitunda, Alicerces Mango, Salupeto Pena e Ben Bem desencadearam a guerra nas ruas de Luanda. Terrorismo. Centenas de civis foram barbaramente assassinados pelos militares da UNITA, que tentaram tomar o poder pela força. Primeiro tentaram tomar de assalto o Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. Falharam. Depois tentaram assaltar a sede central do MPLA. Foram rechaçados. Avançaram sobre a Rádio Nacional de Angola (RNA) e a Televisão Pública de Angola (TPA). Falharam. A partir daí partiram para a doutrina de Chivukuvuku: Reduzir Luanda a pó. Quase conseguiram.

Abel Chivukuvuku foi capturado em combate e salvo de um linchamento pelo povo enfurecido no bairro Sambizanga. Como estava gravemente ferido, foi levado para o Hospital Militar onde lhe salvaram a vida. Até as pernas esfaceladas a tiro foram salvas. Quando teve alta, declarou o seu arrependimento pelo ataque terrorista e jurou nunca mais apontar armas e disparar sobre a democracia. Sentou-se à mesa do Orçamento, como deputado da UNITA, enquanto o chefe Savimb i e seus sicários partiam tudo, destruíam tudo, escorraçavam milhões de angolanas e angolanos das suas terras, matavam quem não conseguia fugir.

O terrorista às ordens de Savimbi ficou bem instalado na vida, a pança cresceu desmesuradamente, a conta bancária igualmente, os negócios mobiliários e imobiliários singraram de vento-em-popa e o matador da Jamba entrou para o selecto gangue dos multimilionários. Savimbi, lá do meio do mato, declarou que Abel Chivukuvuku era um traidor. E havia de pagar pela traição. Até eu tremi! Coitado do Abel. Depois do dedo apontado pelo chefe, a vida do deputado bem-sucedido começou a ficar difícil dentro do Galo Negro. Prudentemente bateu com a porta e mudou de casa.

Abel Chivukuvuku fundou um partido e fez dele a empresa onde deu emprego a toda a família. Os cofres ficaram à disposição. Os outros accionistas correram com ele. Desacreditado no meio político, já não conseguiu assinaturas para fundar novo partido. O terrorista encartado, outro trânsfuga da democracia, Adalberto da Costa Júnior, mais um maoista arrependido e convertido ao banditismo savimbista, Filomeno Vieira Lopes, engendraram a Frente Patriótica Unida (FPU) apresentada como a alternativa de poder nas eleições de 24 de Agosto. Um truque baixíssimo. Uma manobra de diversão. 

A frente afinal é uma esquina onde se juntaram os inimigos da democracia representativa. Um monturo de políticos apodrecidos. Frente Podre da UNITA. Nada mais do que isso. Mas a presença de Abel Chivukuvuku no segundo lugar da lista nacional da UNITA é um sinal inquietante que todos devemos levar a sério. O Savimbi de serviço, Adalberto, chamou para seu “número dois” o polícia da Jamba. O torturador da Jamba. O mentor das fogueiras da Jamba. O matador dos dirigentes da UNITA que caíam em desgraça. O exterminador, nas fogueiras, das elites femininas do partido. Holocausto!

E sobretudo significa que Adalberto da Costa Júnior chamou para o seu lado aquele que no dia 25 de Agosto vai ameaçar reduzir Angola a pó. Balcanizar Angola. A novidade em relação às eleições de 1992 é que agora, começaram a invocar a fraude, um ano ante do acto eleitoral. Mas há várias incógnitas. Vai ser a Ucrânia e seus aliados a fornecerem as armas e o treino militar, como em 1992? Quem vai fazer o papel dos racistas da África do Sul? Quem recrutou e organizou os grupos terroristas que estão a treinar em pequenas acções urbanas e vão depois reduzir as nossas cidades a pó? Quem vai facturar com a balcanização de Angola? Chivukuvuku é uma parte da resposta. Leiam bem a mukanda do Rafael da UNITA.

Luzia Moniz está furiosa. Não sei se a fúria se deve a ter ficado fora das listas da UNITA ou se o dinheiro dos diamantes de sangue acabou. Quem pagou a indignação da Luzia foi o Presidente José Eduardo dos Santos, em nome, mas também o Presidente João Lourenço, em insinuação. Segundo a cartilha savimbista, a sobrinha do meu amigo e camarada Manuel Pedro Pacavira, que andou a comer na gamela do MPLA décadas, à pala do tio, põe em causa a nacionalidade dos dois Chefes de Estado, o anterior e o actual. Diz a comilona que ninguém sabe em que escola primária estudou José Eduardo, logo, há muita opacidade quanto à sua nacionalidade.

Esta gente está tão sedenta de dinheiro fácil que hipoteca a honra e a dignidade. Esta alimária acha que no currículo do Presidente José Eduardo devia constar a escola primária onde aprendeu as primeiras letras. O mesmo no currículo do Presidente João Lourenço. Se o ridículo matasse, esta também ia ser enterrada com o Nito Alves e o Monstro Imortal.

Luzia, eu aprendi a ler e escrever na Escola Primária Número 72, no Negage. Nunca passei de repórter. Não sei fazer mais nada, apesar de ter frequentado várias escolas secundárias e três universidades. José Eduardo dos Santos foi um grande Presidente. Espero que João Lourenço, quando concluir o seu segundo mandato, esteja ao nível dos seus antecessores. Luzia Moniz é opaca. Aluga a boca e a pena aos savimbistas. 

*Jornalista

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