Artur Queiroz*, Luanda
Uma emergência nacional obrigou-me a interromper as férias, vestir o fato-macaco e esgrimir o porrete. Não me dão descanso, desde tempos que a memória faz tudo para armazená-los no esquecimento. Um dia, numa aula em que se discutia a estractificação social, pediram-me para definir o colonialismo. E eu respondi: É um latifúndio onde se cultiva o ódio. Em criança e na adolescência senti o peso do ódio racial. Os portugueses residentes ou nascidos em Angola deviam tudo o que tinham e eram aos angolanos. Mas odiavam-nos visceralmente. E confiscavam-lhes o direito de cidadania.
Na juventude vi colonos babando ódio enquanto apedrejavam a Missão, por trás do Hotel Trópico, que na época ainda não existia, eram terrenos baldios. Partiram os vitrais à pedrada. Eram peças lindíssimas. Motivo? Os norte-americanos (alguns pastores ou mesmo um bispo) eram dos EUA, apoiavam a UPA e os fiéis protestantes eram “calcinhas”. Crime dos crimes, faziam parte da incipiente elite angolana, arrasada social e economicamente entre o final do século XIX e os anos 30 do século XX.
Hordas de colonos tentaram assaltar a Sé de Luanda (Igreja dos Remédios) quando foi tornado público que o cónego Manuel das Neves estava implicado na Revolução do 4 de Fevereiro. O ódio andava à solta com o seu cortejo de agressões e mortes.
A Revolução do 4 de Fevereiro deu grande protagonismo ao MPLA, até porque os aparelhos repressivos do colonial ismo tinham detectado que o nascimento do movimento, em 1956, tinham mudado radicalmente o panorama político angolano. No início de 1963, o MPLA dirigido por Agostinho Neto ganhou protagonismo na luta armada pela libertação de Angola. Os aparelhos repressivos do colonialismo atacaram impiedosamente todos os seus militantes e simples apoiantes. Ódio de morte contra o MPLA, seus dirigentes, seus combatentes, seus militantes, seus apoiantes.
Ninguém imagina até onde os colonialistas levaram o ódio. Um grupo de estudantes da Universidade de Luanda, militantes do MPLA, foi desmantelado pela PIDE. Todos enviados para o Tarrafal com a designação: ”Pretos e mulatos pé descalço que têm de ser postos na ordem”. Ódio, muito ódio. Quem não pactuava ou simplesmente não convivia com os ocupantes, era logo considerado terrorista do MPLA e a sua vida destruída.
No dia 25 de Abril de 1974 o regime colonialista e fascista caiu, com a preciosa colaboração das forças guerrilheiras do MPLA. O ódio ao movimento atingiu as raias da loucura. Pedro Benje, um nacionalista pacífico, deu vivas ao general Spínola e os colonos mataram-no. Organizaram grupos armados que há noite iam matar as populações indefesas dos musseques de Luanda. Só o MPLA teve a coragem de enfrentar os matadores e derrotá-los. O ódio pegou fogo em Luanda e outras grandes cidades angolanas onde os militantes e activistas do movimento defendiam as populações.
Em Agosto de 1974 eu era realizador do programa radiofónico Contacto Popular. Como defendia os valores e princípios democráticos, centenas de colonos armados até aos dentes cercaram a Voz de Angola para nos matarem. Nesse espaço de Rádio colaborava o que de melhor existia na intelectualidade luandense, desde o Rola da Silva ao António Ole, passando pelo produtor e apresentador Zé Andrade (ZAN). O almirante Rosa Coutinho mandou uma companhia de Fuzileiros Navais para nos salvarem da morte certa. A mesma sorte não teve Sebastião Coelho. Os colonos em fúria invadiram os Estúdios Norte e partiram tudo. O radialista escapou da morte porque se escondeu no telhado! Aqueles colonos espumavam ódio, ódio, ódio contra o MPLA.
Esse mesmo ódio eu vi em gente da Revolta Activa cujo melhor exemplo é Justino Pinto de Andrade, agora candidato a deputado pela UNITA! Ódio de morte ao MPLA e a Agostinho Neto. Esse ódio vi na cara de Salupeto Pena, da UNITA. E de outros “dirigentes” do Galo Negro.
A mesma UNITA que queria matar o Bonga sob o pretexto de que tinha recebido milhões do “mais velho” e não cumpriu. Eu vi o ódio no rosto dos guardas de Savimbi, no Hotel Tropico, que queriam levá-lo à força para o Miramar. Foi defendido pela gente do MPLA e ajudado a fugir de Luanda no voo dessa noite para Lisboa. Recebeu outra vez dinheiro de sangue e agora canta para o Adalberto. Tanto ódio, Barceló! Estás podre de tanto odiar o MPLA que te encheu os bolsos de dinheiro. Odeias quem te deu de comer e te salvou.
Ódio, imenso ódio nos Flechas da PIDE que na Frente Leste foram reforçar as unidades que perseguiam as forças guerrilheiras do MPLA. O ódio continua. Tenho à minha frente uma foto onde estão os generais Uambu e Apolo servindo de “seguranças” ao Adalberto. Ódio e vingança. Logo aqueles que foram salvos do Savimbi e da morte certa.
Em Portugal, o ódio dos retornados ao MPLA é doentio. Mas também das elites corruptas e ignorantes. Odeiam Agostinho Neto, odeiam José Eduardo dos Santos, odeiam João Lourenço. Porque são do MPLA. Neto é odiado por ter derrubado o império colonial português. José Eduardo dos Santos é odiado por ter derrotado o regime racista de Pretória. João Lourenço é odiado por ser o herdeiro dessa gesta de Heróis Nacionais. Ódio de morte ao MPLA.
Agora vos digo, eu que nunca vendi fruta bichada nem ando à caça de votos, com toda a solenidade: Nunca vi ninguém odiar tanto o MPLA como o Francisco Queiroz. Nunca vi ninguém fazer tanto mal ao MPLA do que as e os seus dirigentes que se remetem ao silêncio ou atiram com achas para a fogueira do ódio ao glorioso partido que desde a sua fundação, nunca foi derrotado. E se o objectivo de Francisco Queiroz e membros da direcção, silenciosas e silenciosos, é mesmo derrotar o MPLA?
Mandaram-me uma fotografia do comício de Adalberto em Benguela, onde Uambu e Apolo serviam de “seguranças” ao português arrependido. Projectei mais dois planos e fiz a leitura milimétrica. Estava ali uma multidão! Mandem para lá os melhores dirigentes e activistas apagar a figueira do ódio que se aproxima. Nunca se esqueçam que à menor distracção, Angola vai ser uma imensa fogueira da Jamba. As mulheres não podem admitir. E os nossos heroicos generais?
Não os vejo na campanha contando à Juventude as páginas mais brilhantes da História Contemporânea der Angola. Espero que não estejam a ser ignorados e o seu património desprezado.
*Jornalista
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